Discípulos missionários sempre precursores

O que Deus mais buscava era ver Seu povo libertado da escravidão seja no Egito, seja, por incrível que pareça, mesmo já na Terra Prometida. A tentação de ter um coração de escravizadores, de exploradores de seus irmãos, foi sempre grande.
Para realizar esse Seu projeto de libertação, de início contou com Moisés. Queria fazer dele Seu precursor, alguém que Lhe fosse à frente, abrindo-Lhe caminho até o coração do povo. Jamais abriu mão desse Seu jeito de agir: nunca arrombar portas, impor-Se ao povo a partir de fora: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouve minha voz e abre a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20).
Assim também agiu Deus quando nos enviou Seu Filho Salvador. À frente d’Ele, enviou João Batista para ir batendo à porta dos corações, tentando abrí-la para Seu Filho.
E até hoje Deus não desiste desse Seu jeito. Cada verdadeiro discípulo de Seu Filho é constituído também, por força do discipulado, em missionário precursor da Boa Nova que abraçou, para seus semelhantes que ainda não a acolheram.
É o que a Palavra de Deus nos comunica com toda a clareza: “O Senhor designou outros setenta e dois discípulos e mandou-os, dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde ele pensava ir” (Lc 10,1).
São Paulo nos ajuda a compreender esse jeito de Deus: “como poderão invocar aquele em quem não creram? E como haverão de crer naquele de quem nunca ouviram falar? E como ouvirão falar dele, se ninguém o anuncia? “E como anunciarão, se não forem enviados?” (Rm 10,14-15a).
Tudo precisa começar com o envio de alguém – o discípulo missionário precursor – que anuncie Jesus. Ouvindo falar d’Ele, poderão crer n’Ele, optar por Ele e pela vida que veio inaugurar e propor. E crendo n’Ele, poderão invocá-Lo, conviver com Ele, passar a viver com Ele, a viver d’Ele, a viver n’Ele, a vivê-Lo.
Que todo discípulo de Jesus se faz missionário precursor d’Ele, parece estar presente já nestas expressões com que Jesus descreve a atitude de quem acolhe o Reino, que Ele veio inaugurar e nos propor: “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento”.
“Vós sois o sal da terra. Mas, se o sal perder o sabor, com que se salgará? Não serve mais para nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelas pessoas” (Mt 5,13). Se não tem serventia para o outro, se não passa a outros seu sabor, se perde sua força de salgar, de dar sabor ao insosso, então perde por completo a razão de ser.
Nós somos esse “sal” por graça ou participação. Jesus sim é plenamente “o sal da terra”. Nós salgamos se, de algum modo, levamos o insosso a se deixar salgar por Ele, Jesus; se, como discípulo missionário precursor, o ajudamos a ir até Jesus e a Ele aderir.
Semelhantemente, “a luz do mundo” só encontra sentido para existir se está em meio e em favor de alguém ainda na escuridão, nas trevas (v.14-16); o “fermento”, tão somente se atua em favor do ainda não levedado (13,33).
E cada um destes três elementos de comparação só atuam começando por si e a partir de si mesmos: tornar-me “sal” para poder salgar, fazer-me “luz do mundo” para assim unicamente iluminar, e “fermento” para ter condições de levedar!
Em Mc, esta é a única bagagem do discípulo missionário precursor: “recomendou-lhes (Jesus) que nada levassem para a viagem, a não ser um bastão: nem pão, nem sacola, nem dinheiro no cinto” (Mc 6,8).
Bastão ou cajado, símbolo do cuidado protetor do pastor pelas ovelhas. Então, única bagagem é a atitude cuidadosa para com os irmãos, armas com que o discípulo missionário precursor abre portas, caminho para Aquele, sim, que é por definição o sal, a luz, o fermento, o pastor.
- Pela minha vida, vou à frente de Jesus, abrindo portas e corações para Ele e Seu Reino?
- Meu discipulado é missionário, é “vitrine” de Jesus por onde quer que eu vá?
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Na radicalidade de Jesus, construímos o Reino (Lc 14,25-30.33)
Ele-Filho, pelo que é e faz, é o que devemos aprender. Ele fez-Se Filho “obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,8). Colocou o Pai e Seu projeto de humanidade divinizada já aqui na terra, acima de Seu pai, Sua mãe, Seus irmãos e até da própria vida (cf. Lc 2,49; 22,42).

Reino de Deus: a vida é sagrada e inviolável (Lc 6,6-11)
Ao nos criar à Sua imagem e conforme Sua semelhança (Gn 1,26s.), Deus nos queria aqui na terra, o mais próximos d’Ele, já como filhos e filhas, uma só família com Ele. Dividia conosco Sua própria divina dignidade.

No Espírito, a sociedade paradisíaca (Lc 4,14-21)
De Seu Filho, “nascido de uma mulher”, o Pai esperava, com Ele e a partir d’Ele, inaugurar a humanidade, vivendo já na terra Sua própria vida trinitária
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