“O que vimos e ouvimos, nós vo-lo anunciamos” (1Jo 1,3)
Por Felipe Koller

Thiago Leon
Thiago Leon

A Fachada Sul do Santuário Nacional anuncia o mistério de Cristo, em sua Encarnação, Paixão e Ressurreição. Os mosaicos, como um grande baú da Tradição, da Escritura e do Magistério, nos apresentam a vida de Cristo e seu prolongamento na vida da Igreja.

Face Oeste da Fachada Sul: A preparação para a vinda do Filho de Deus

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues

A visão de Balaão

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues

Vemos este personagem, Balaão, que olha ao longe sobre sua jumenta. Ele era um pagão e havia sido chamado para amaldiçoar o povo de Israel. Mas ele não consegue fazer isso, pois Deus lhe manda abençoar e não maldizer. E o próprio Senhor lhe concede uma visão. Ele é representado com olhos enormes, demonstrando que ele gostaria de entender aquilo que vê, mas não consegue. E o que ele vê? Uma estrela, colocada entre a face oeste e a parte frontal da Fachada Sul, a estrela que surgirá de Jacó (Nm 24,17). Por isso, sua mão aponta para ela. 

Ao mesmo tempo, a mão aponta para a figura de José do Egito, filho de Jacó. Ele, assim como Jesus, vai à procura de seus irmãos e é entregue por eles, como já retratado na Face Leste da Fachada Norte. Na Fachada Sul, ele é representado no meio dos feixes de trigo, como em seu sonho narrado no livro do Gênesis (37,6-7).

Junto dele, está representada a túnica de mangas longas, motivo de inveja dos seus irmãos e que os levará a venderem-no como escravo no Egito. Ao mesmo tempo, os feixes lembram que José salvou seus irmãos com alimento, assim como Jesus, na Eucaristia, nos salva e se entrega como alimento.

Dessa forma, a imagem de José do Egito na Fachada Sul faz unidade com a Fachada Norte, pois José nos ajuda a ler a humanidade de Cristo, que nos recorda que somos filhos e herdeiros de Deus. Por isso a estrela está representada nesta parte face da Fachada Sul como parte na frente da mesma Fachada. Nela, encontra-se ainda uma homenagem ao artista Taras, um colaborador do ateliê do Centro Aletti vitimado na Guerra entre a Rússia e a Ucrânia, cujo nome está gravado em uma das pontas do astro.

O Nascimento da Virgem Maria

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues


Embora não esteja narrado na Bíblia, o nascimento da Virgem Maria é contado pelos evangelhos apócrifos. No mosaico, observamos que Joaquim e Ana estão na mesma posição que José e Maria apresentam-se na cena da Natividade de Jesus. Ambos estão dentro dos desígnios de Deus.

Maria é lavada por uma mulher e colocada dentro de uma taça que a reveste, fazendo alusão ao sacramento do Batismo. Outras mulheres também compõem a cena, colocadas assim como os Reis Magos foram retratados na cena da Epifania, demonstrando que ali estavam mulheres que perceberam que havia nascido uma menina diferente de todas as outras. Por meio dela, virá Aquele que resgatará toda a humanidade, pois ela está destinada a ser a Mãe do próprio Deus encarnado.

A entrada da Virgem Maria no Templo

Carlos Rodrigues
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Assim como seu nascimento, a entrada da Virgem Maria no Templo não está descrita nos evangelhos, mas nos é legada pela Tradição e, sobretudo, pelo protoevangelho de Tiago.

Para representar essa cena, vê-se no mosaico que Maria está no Templo. Na sua iconografia, vê-se que possui três estrelas em suas vestes, símbolos da virgindade perpétua – antes, durante e depois do parto. Também estão representados seus pais – São Joaquim e Sant’Ana e o Sumo Sacerdote, que observa com surpresa a pequena Virgem Maria que se aproxima do véu que separa o Tabernáculo do Templo. Ela puxa um fio desse véu, começando a destruí-lo.

Isso porque será ela quem, em seu ventre virginal, vai tecer o véu genuíno que é o corpo de Cristo (Hb 10,19-20). O véu do Templo separava. O corpo de Cristo, verdadeiro Templo (Jo 2,21), une (Cl 1,18).

Maria tecelã

Carlos Rodrigues
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Logo abaixo, vemos exatamente esta realidade. Maria tece o véu do Templo, representado em forma de túnica. Esse formato nos recorda a túnica dada a José por seu pai (Gn 37,3), mas também o momento da Paixão, quando os soldados não quiseram repartir a túnica de Cristo (Jo 19,23-24), imagem sacerdotal do homem novo, unido ao Pai. 

Maria, por meio de sua humanidade, dá a vida humana àquele que, por sua humanidade, nos dará a graça de sermos filhos. Santo Efrém, o Sírio, afirmou que na anunciação Maria é a costureira que tece o templo verdadeiro, a carne de Cristo.
Isso é simbolizado pelas cores da túnica: vermelho roxo, vermelho escarlate e carmesim, cores da carne e também as cores do véu do Templo (Êx 26,31-37).

Face Frontal da Fachada: Encarnação e Paixão de Jesus

Carlos Rodrigues
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O Nascimento de Jesus

Carlos Rodrigues
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Na representação da Natividade de Jesus, observamos a Virgem Maria como aquela figura que atrai para a contemplação da cena. Ela não retém Jesus para si, mas com uma mão indica a manjedoura e com a outra oferece Jesus, pois é para nós que nasceu o Salvador (Lc 2,11). Também foi ela quem o envolveu em faixas (Lc 2,7), sinal de que o Menino está destinado a morrer. Mas Ele não está envolto nelas, elas estão apenas colocadas ali, pois Ele ressuscitou e as faixas estão ali apenas para testemunhar que Ele se encarnou, mas morreu e ressurgiu dos mortos.

De fato, Jesus está representado com paramentos sacerdotais, simbolizando que Ele é o Sumo Sacerdote que uniu a humanidade à Redenção por meio de seu sacrifício (Hb 7,26-27; 8,1-3). Também a manjedoura evidencia essa dimensão, pois é o local do alimento: aqui, ela está identificada como um cálice que possui uma ferida, recordando o sangue de Cristo, verdadeira bebida que nos dá a vida (Jo 6,54-56).

No mosaico também se pode ver São José. Ele tem em suas mãos o bastão da raiz de Jessé que começa a florescer. Ele não tem seus olhos voltados para o interior da cena, mas olha para o alto, para Deus Pai, reconhecendo que aquele Menino que acaba de nascer é o Filho de Deus.

A adoração dos Magos

Carlos Rodrigues
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Jesus está no colo de sua Mãe Maria e sob a tutela de São José, que em suas mãos segura um pão: é ele o responsável por nutrir Jesus, que será o pão da vida. Novamente vê-se em suas mãos o bastão com a raiz de Jessé. Cristo está totalmente voltado ao outro, saindo de Si mesmo e oferecendo-se como dom. Já os Magos estão totalmente rendidos a Cristo.

Veem-se quatro Magos – um do extremo oriente, um africano, um indígena e um europeu – e cada um deles oferece um presente. Ouro, incenso, mirra e uma escada. 
Este último presente, para que Cristo possa descer na Terra e chegar a todas as culturas, tornando-se o mais precioso dom.

Maria acolhe os presentes – atitude simbolizada pela abertura de seu manto, símbolo de acolhida – e acolhe os Magos, pois com uma mão protege a bênção que o Filho concede aos estrangeiros.
No canto da representação está o Rei Herodes, sentado sobre os inocentes martirizados a seu mando (Mt 2,16-18). Acima dele estão os sumos sacerdotes e escribas que apontam onde deve nascer o Cristo.

Apresentação de Jesus no Templo

Carlos Rodrigues
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A Lei Mosaica estabelecia que todo primogênito deveria ser consagrado ao Senhor (Êx 13,2). A Sagrada Família também foi cumprir este mandato da Lei. 

São José vai ao Templo e oferece duas pombinhas, conforme a prescrição indicada 
para famílias mais pobres (Lv 5,7). Lá eles encontram dois idosos que eram iluminados pelo Espírito Santo: Simeão e Ana, que logo reconhecem o Messias. 

Simeão acolhe o Menino e faz uma profecia sobre Ele para a Mãe, que continua a ser como uma “escada” pela qual Cristo se revela. Por isso ela está com Jesus em suas mãos como que em um trono. Ele tem um pergaminho, um rolo do livro, onde o cordeiro recorda aquele cordeiro mencionado nos Cânticos do Servo de Isaías (42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). De fato, será no Templo que Jesus será testado e desprezado. Lá, depois de sua apresentação, ninguém o acolherá. Ao contrário, a sua vida será oferecida em sacrifício: vemos como o Menino parece ser posto em cima do altar.

Fuga para o Egito

Carlos Rodrigues
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Na Fachada Norte, vemos que o povo saiu do Egito rumo à Terra Prometida. Agora, nasce o Filho de Deus e, para salvá-lo, é preciso abandonar a Terra Prometida. A Sagrada Família vai para o Egito para salvar-se da ordem de Herodes de matar todos os meninos hebreus. 

São José está representado a caminho no mosaico, conduzindo um jumento que leva a Virgem Maria, que em suas mãos possui um cacho de tâmaras. Jesus está sentado sobre os ombros de São José, indicando a terra do Egito com uma mão e, com a outra, segurando um rolo, que mais uma vez recorda que Cristo não vai para lá para fazer a sua vontade, mas a do Pai que o enviou (Jo 6,38).

Na representação do Egito, pode-se ver que há um obelisco se rompendo. Isso simboliza que, com a chegada do verdadeiro Deus ao Egito, a idolatria começa a se romper.

O Lava-pés

Carlos Rodrigues
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Aqui se vê Cristo sacerdote, pronto para dar sua vida em sacrifício pela humanidade. Ele lava os pés de Pedro vestindo um avental, assumindo a atitude de servo. Isso faz com que Pedro fique chocado, mas quando ele entende que se trata de um gesto grande, pede a Jesus, então, que lave não apenas os pés, mas também a cabeça e, por isso, aponta para ela. 

Nas mãos de Cristo está um pão, seu Corpo, onde Ele coloca tudo de Si, oferecendo a Judas. Esse último não pode pegar, pois está com as mãos ocupadas com a sacola de moedas, aquilo que é sua vontade, enquanto Jesus une a sua vontade à do Pai para entregar-se inteiramente, assim como entregou o pão. 

Vê-se que a auréola de Judas está vazia, com um espaço a ser preenchido. Isso porque ele sai da santidade, da comunhão com o Filho de Deus. Ele é representado de perfil, pois, na iconografia cristã antiga, assim eram representadas as pessoas isoladas, que não possuem comunhão com ninguém, os grandes pecadores. 

Há um grande contraponto entre Jesus e Judas. Cristo está totalmente entregue, procurando acolhida. Ele “veio para junto dos seus, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11). Judas não acolhe nem o Senhor, nem a filiação que Ele nos trouxe. Está preocupado apenas consigo mesmo, não vive a vida da comunhão.

A agonia no Getsêmani

Carlos Rodrigues
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Cristo reza sobre uma rocha que tem o formato de um cálice. É Ele mesmo quem vai pedir ao Pai nesta oração: “Se for possível, afastai de mim este cálice” (Mt 26,39). O cálice é, certamente, a imagem da Páscoa. Nela o cálice será preenchido pelo sangue de Cristo, dom da vida.

Ali, Jesus vive uma solidão absoluta. Seus discípulos dormem. Os que estão com Ele, não estão com Ele. Cristo vai até eles, Pedro abre um pouco o olho sonolento, e o Senhor diz: “Não fostes capazes de ficar em vigília comigo durante uma hora?” (Mt 26,40).

O único que permanece com Jesus é o próprio Pai, que oferece suas mãos e o Senhor coloca suas mãos junto às mãos do Pai. Como vimos anteriormente, Jesus colocou totalmente a Si mesmo em suas mãos. Por isso, ao colocar as suas mãos nas mãos do Pai, entrega sua vida a Ele, como fará mais tarde na cruz. Esse “intercâmbio de dons” nos faz ver a filiação como dom. Na maior das solidões, Deus é o único que não abandona.

A condenação de Jesus

Carlos Rodrigues
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Os sacerdotes, sentados sobre seu poder, os rolos da Lei, pensam condenar Jesus com base numa interpretação da Lei capaz de matar (Jo 19,7), mas, na verdade, indicam a verdadeira Lei: Cristo. É Ele o verdadeiro cumprimento da Lei tornando-se vítima dela.

Cristo está ao centro. De um lado, Judas o beija traindo e, do outro, o sacerdote oferece o dinheiro pela traição. O Templo deixa de ser um lugar de adoração e torna-se um local de comércio e o Corpo de Cristo é o lugar de troca dessa “mercadoria”. Jesus torna-se vítima dos poderes civis e religiosos. É condenado pelos sacerdotes, Herodes e Pilatos.

O beijo, símbolo do amor, é pervertido por Judas. Torna-se sinal de traição. O beijo de Judas faz ver a tragédia da humanidade que não é capaz de amar, mas que deseja possuir.

A Crucificação

Carlos Rodrigues
 Carlos Rodrigues


Para esvaziar todo o poder dessa Terra, segundo o poder deste mundo, é preciso revelar o verdadeiro trono: a Cruz.

Quem está no trono pode viver somente doando. O rei tem unido seu Reino porque se doa a todos.

Deus é onipotente, pois ama de modo onipotente. Por isso o seu trono, a Cruz, é o lugar onde se ama de forma onipotente. É o lugar do dom de Si. É uma força que atrai, que cura.

A Cruz faz-nos ver que Jesus é verdadeiramente Rei e, deste trono, Ele governa o mundo. Não como um tirano, mas ao modo do Cordeiro. Não é possível entender isso sem o Espírito Santo (1Cor 2,6-14). Cristo não é Rei de outro modo senão como sacerdote que oferece a Si mesmo como sacrifício. Ele não se serve de outras coisas, mas doa o seu próprio corpo, o seu próprio sangue e, com seu sangue, Ele nos abriu o acesso à vida. Ele vence perdendo aos olhos do mundo. E mesmo na Cruz, com suas mãos, aponta para o céu, para o Pai.

Ao lado da Cruz está João, representando a Tradição Apostólica. Ele leva nas mãos um livro em cuja capa está representado o Trono e o Cordeiro sacrificado de pé, a visão que ele tem no Apocalipse. Também está a Virgem Maria, com a mão na bochecha, gesto iconográfico de incompreensão. Só será possível compreender tudo depois de Pentecostes, quando o Espírito descer.

Face Leste da Fachada Sul: A Igreja vive a Páscoa de Cristo

Carlos Rodrigues
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O mesmo que aconteceu com Cristo acontece também com seu Corpo, a Igreja. Rumo ao cumprimento, o eschaton, vivemos como o prolongamento de Jesus na história.

Todos os mártires desta Fachada olharão na hora de seu sofrimento para o mesmo ponto: Cristo em sua Ascensão. Também Cristo passou pela Páscoa e todos eles estão em Cristo Jesus. Por meio dele, conseguem ver a esperança da glória futura.

O martírio de São João Batista e São Tiago

Carlos Rodrigues
 Carlos Rodrigues


Vemos Herodes sentado no trono, representado de perfil, e Salomé que dança. Ele está seduzido por ela, mas nem se interessa por ela, está confundido pelo demônio, representado sobre o trono. O diabo está de cabeça para baixo, pois ele vê as coisas de maneira invertida, e brinca com as mãos de Salomé, assim como faz com a mulher de Potifar na Fachada Norte.
Esta falsa sedução faz Herodes matar João Batista, cuja cabeça está nas mãos de Salomé, sobre uma bandeja. Um fluxo de ouro desce do céu, toma a cabeça joanina e o leva de volta ao céu, ao Pai.

O rei também “mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12,2), representado decapitado abaixo do trono real. Os Atos dos Apóstolos narram que essa morte agradou ao povo (At 12,3) e tal fato também está representado no mosaico. Eles aplaudem Herodes que, para ficar no trono, precisa de aprovação. Todos os espectadores estão dentro de um fluxo obscuro e, o último, está sentado sobre seus pés nesta escuridão. Não há nada debaixo dele, simbolizando que o poder deste mundo passa, é destruído.

São Pedro na prisão

Carlos Rodrigues
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Vendo que a morte de Tiago agradou o povo, Herodes manda também prender Pedro, representado nesta cena sendo conduzido para a prisão. O local é representado aberto e totalmente escuro.

O chefe da prisão acorrenta Pedro, que abre seus braços como Cristo. Isso significa que ele acolhe esse desígnio, não se rebela contra ele. Atrás dele, um romano o empurra com mangas brancas, simbolizando que o fato de ser jogado na prisão não está fora da vontade de Deus: o branco é a cor que remete à ação do Espírito Santo. Acontece com Pedro o que aconteceu com seu Mestre.

Toda a cena é dominada por grades, recordando a prisão. Dentro dela, um forte sol resplandece. “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5). Levando a mensagem do Senhor para os calabouços, os cristãos iluminaram a escuridão.

São Paulo batiza o chefe da prisão

Carlos Rodrigues
 Carlos Rodrigues


Nesta cena vemos São Paulo, que tem em suas mãos a Sagrada Escritura, batizando o chefe da prisão. Atrás do neófito, despojado dos símbolos romanos, vê-se a porta que se abre, mas não a partir da prisão, e sim de fora, recordando a pedra que rolou da tumba de Jesus.

Os cristãos, ao entrarem na prisão, não apenas abriram a prisão e saíram, mas, por meio do batismo, abriram as portas para uma vida nova. Os cristãos transformam um ambiente fechado na morte em uma porta aberta para o outro lado da vida.

O altar

Carlos Rodrigues
 Carlos Rodrigues


Vê-se um altar e, diante dele, um monograma de Cristo. Os quatro ângulos desse altar são quatro mártires. À direita, em cima, São João Batista; à esquerda, também no alto, São Tiago; abaixo dele, São Pedro; à frente de Pedro, São Paulo. Aos seus pés está o instrumento do martírio: todos com a espada e Pedro com a cruz.

O altar é uma pedra só, representa toda a Igreja, constituída sobre uma pedra angular. No Novo testamento, diz-se que Cristo é a pedra angular que foi rejeitada. Portanto, esta cena faz ver que a Igreja, o altar, é realmente Corpo do Cristo.

O pão e o vinho, representados sobre o altar, nos recordam que em cada Eucaristia a Igreja vive essa realidade do altar, do Corpo de Cristo. Por isso, não está ligada a este mundo, mas é aquela que dá vida ao mundo não vivendo segundo ele, mas segundo a Páscoa, no altar habitado por todos os cristãos.

Arcada da Fachada Sul

Thiago Leon
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Caná da Galileia

Thiago Leon
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As Bodas de Caná estão aqui representadas segundo São Tiago de Sarug. Sobre o véu, estão pintados o esposo e a esposa. Isso porque São Tiago diz que Moisés não viu homem e mulher se tornarem uma só coisa, mas sim Cristo e a humanidade, sua Esposa. Maria é representada, portanto, ao lado de Cristo como imagem da Igreja.

Nas núpcias de Cristo com sua Igreja comemos de sua carne e bebemos seu sangue. Do lado aberto de Jesus Ela recolhe a vida. Do mesmo modo, é sua Esposa que o “gerou”.

Quando as núpcias terminam, chega São Paulo, vê essa pintura sobre o véu e o afasta, mostrando que homem e mulher são uma pintura, mas Cristo crucificado e sua Esposa são a verdadeira vida; aqueles são figura, estes são a realidade. “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja” (Ef 5,32).

O próprio Paulo serve o vinho enquanto nas jarras há água. As jarras são seis, representando que a Lei de Moisés não serve mais, está vazia e não purifica mais. É o próprio Jesus que vai purificar, unido ao seu corpo a Igreja.

As testemunhas – Ap 11

Thiago Leon
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Vemos duas testemunhas de Cristo, que são precisamente seu prolongamento. Elas recebem de Deus todo o poder possível para se defender, mas não o fazem.

São mortos e seus cadáveres ficam expostos na praça da cidade, sobre a besta de sete cabeças e dez chifres, símbolo do poder e da força. Os povos veem seus corpos e festejam. Eles estão em posição de crucifixão, unidos, como que dormindo.

Eles são elevados, pois aqueles que são de Cristo, com Ele entram no santuário, onde já não existe a manipulação do mal. Eles sobem e a nuvem os leva para cima, para Deus.

A nova Arca da Aliança

Thiago Leon
Thiago Leon


Encontramos, finalmente, o túmulo aberto. Sua representação remete-nos à Arca da Aliança, com dois anjos em suas extremidades. Eles apontam para as faixas, assim como na Natividade. Elas indicam que Jesus não ficou preso na morte: “Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24,6). Só podemos ver isso porque deixamos a Terra e todo o resto passará para o Céu.

A tampa que foi retirada retrata com um fundo branco os instrumentos da Paixão: a cruz, a lança e a esponja. São elas o meio usado em sua execução, o instrumento que feriu seu coração logo após sua morte – de onde jorrou sangue e água (cf. Jo 19,33-37) – e a esponja onde lhe deram de beber fel (Mt 27,34), respectivamente.

Esta é a memória da verdadeira Passagem, feita da morte para a vida.

A Dormição da Virgem Maria

Thiago Leon
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Sob o grande vitral, sob a Arca da Aliança aberta, está a dormição de Maria. A Virgem Santíssima deixa a vida terrena e seu Filho Ressuscitado aparece. Mas não aparece sozinho, o que é evidenciado pelas inúmeras auréolas que estão representadas a seu redor.

Cristo pega em suas mãos a vida de Maria, representada pela criança que está em seu colo, e diz: “Tu me destes da vida humana e eu te dou, como Sumo Sacerdote, a vida da glória. Tu agora podes entrar no Reino, pois me fizestes entrar na Terra”.

Duas linhas descem e abraçam Maria e aqueles que estavam com Ela. Maria é inclusa neste abraço que desce do Filho, a fim de que vejamos que “ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho” (Prefácio da solenidade da Assunção de Nossa Senhora).

Ascensão e Pentecostes

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues


A Ascensão de Jesus e a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos estão teologicamente unidas. A iconografia presente na Fachada Sul nos faz ver bem essa verdade teológica. Não é possível viver a vida de filhos de Deus se não for pelo Espírito Santo.

Cristo está no topo da Fachada, pois é Ele que une todos os textos bíblicos, desde o Antigo até o Novo Testamento. E a Ascensão é o último ato que nos faz entender o motivo da descida de Jesus, pois “Aquele que desceu é o mesmo que também subiu acima de todos os céus a fim de completar todas as coisas” (Ef 4,10).

Ele mostra suas feridas, pois se fez verdadeiramente homem e leva para o céu a humanidade consigo. Mas, ao mesmo tempo, o Espírito Santo desce para que nós possamos viver essa Ascensão, ascender com Ele porque temos a mesma vida. Ele mostra a ferida de seu lado, tem uma mão chagada que abençoa e com a outra apoia o livro com o Alfa e o Ômega.

Cristo está sobre dois anjos. Um deles possui uma mão que indica e o outro tem uma mão velada, demonstrando que está tocando em algo que não é apenas aquilo que se vê.

Maria está sentada sobre seus pés, demonstrando serenidade e acolhimento. Sinal de que Cristo sobe, mas deixa a Igreja serena, que acolhe e está totalmente disponível.

Apóstolos

Carlos Rodrigues
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Cada Apóstolo na cena de Pentecostes possui uma cor diferente de túnica, pois a túnica exprime a vida íntima do filho com Deus e todos são filhos de modo pessoal. Mas o manto tem a mesma cor, pois é o manto de Cristo. O Espírito Santo garante a pluralidade e, Jesus, a unidade. Somos filhos no Filho.
A fisionomia dos apóstolos se refere à fisionomia apostólica mais antiga, em vigor no Ocidente e no Oriente. Cada apóstolo foi representado realizando um sacramento ou atividade da Igreja. Desta forma, eles estão assim representados:

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues


São Tiago, filho de Zebedeu: Ele aparece duas vezes na Fachada, sempre como mártir decapitado. Foi o primeiro Apóstolo a ser martirizado, mostrando que é recebendo o dom da vida que se torna o dom da vida. Ele está olhando para a árvore, segurando sua cabeça como quem descansa.

São Tomé: Esta é uma cena de catequese e quem ensina é o próprio Apóstolo. Ele está com a Escritura nas mãos, onde se lê “Meu Senhor e meu Deus”, palavras proferidas pelo Apóstolo depois de seu encontro com o Ressuscitado. Ele teve uma experiência, como também a catequese deve ser uma experiência iluminada pela Tradição. Ouvindo o Apóstolo estão três das raças que constituem o povo brasileiro: africana, indígena e europeia.

Carlos Rodrigues
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São Mateus: É o apóstolo que faz ver o anúncio. Em suas mãos está uma citação de seu Evangelho, retratando a adoração dos Magos (Mt 2,1-12). Ela foi escolhida para retratar que o anúncio é dirigido aos que buscam: os Magos não eram judeus, mas eram buscadores sinceros e acolheram o anúncio.

Simão Zelota: Esse Apóstolo administra a Unção dos Enfermos. É um sacramento para o perdão dos pecados e que confirma, a partir do seu ponto mais frágil, sua pertença ao Corpo de Cristo. No momento da fragilidade do corpo, a Unção recorda que somos parte do Corpo de Cristo e que a morte não tem poder sobre nós, pois ela é vencida por Jesus.

Carlos Rodrigues
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São Judas Tadeu: Celebra a Eucaristia. Por isso, é representado segurando o pão e o vinho.

São Paulo: Traz em suas mãos dois anéis e um rolo aberto, onde está representada a união de Cristo com sua Esposa, a humanidade. Portanto, simboliza também o sacramento do matrimônio.

Carlos Rodrigues
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São Tiago, filho de Alfeu: Representa o sacramento da Ordem. No mosaico, podemos vê-lo durante a ordenação de um bispo, sucessor dos Apóstolos. A ordenação episcopal, com o derramamento do óleo sobre a cabeça do eleito, foi escolhida para essa representação por se tratar da plenitude do sacramento da Ordem.

São João, evangelista: Imagem da Tradição Apostólica, ele escreve com uma mão e, com a outra, indica a Arca da Aliança e as duas testemunhas, representadas sob a arcada, indicando que é a Tradição Apostólica que nos ajuda na compreensão do mistério da fé.

Santo André: Ele possui uma rede, pois verdadeiramente é um pescador, um verdadeiro evangelizador. Acolheu o convite e tornou-se pescador de homens (Mt 4,19). Seus peixes não estão mortos, mas vivos, salvos das ondas do mar da morte. Ele lançou as redes e, por isso, foi crucificado como Cristo.

São Filipe: Ele batiza um neófito, inserindo-o na Igreja. Por isso tem o olhar e a ação voltados para dentro da Fachada. Já o que recebe o Batismo tem os olhos fechados, símbolo iconográfico de quem recebe. O batizado acontece dentro de um cálice porque o próprio Cristo, por diversas vezes, coloca junto o cálice e o batismo (cf. Mc 10,35-45). O apóstolo já tem as roupas prontas para fazer ver que a pessoa sai da fonte batismal ressuscitada para uma vida nova, revestida de Cristo.

São Bartolomeu: Ao lado do Batismo, ele unge uma criança com a Crisma, símbolo do dom do Espírito Santo ao novo batizado (CIC, 1241). Essa unção mostra que o ungido está sob o fluxo do Espírito Santo, pois é parte da Igreja, Corpo de Cristo.

São Pedro: Representa o sacramento da Reconciliação. Cristo disse a Pedro que ele deve confirmar os seus irmãos na fé. Dele depende a unidade da Igreja. Nos encontramos na unidade se somos reconciliados. O galo que está em seu pé é recordação da misericórdia de Jesus por Pedro, que o negou, mas que recebeu do próprio Cristo um olhar de misericórdia (Lc 22,54-62). Tem uma perna que sobe e uma que desce, representando a humanidade se reconciliando. Por isso, na face Leste da Fachada, há uma ovelha ferida, para quem Pedro, na parte frontal, estende as mãos. Outra já está no seu pescoço, símbolo do pastoreio daquele que governa a Igreja.

Galeria inferior

No nível do chão, no Átrio dos Apóstolos, seis cenas dão as boas-vindas ao devoto que se aproxima do Santuário Nacional por esse lado. Cada uma delas se conecta com outras duas cenas no interior da galeria que leva aos confessionários, entrelaçando Antigo e Novo Testamento, lendo um à luz do outro.

Anunciação

Thiago Leon
 Thiago Leon


Vemos como que duas anunciações, dois anúncios, nessa cena. Primeiro, o anjo Gabriel se aproxima da Virgem Maria, como portador da Palavra de Deus que se dirige a ela e a convida a se colocar à disposição da história da salvação. Maria, de coração aberto, acolhe a Palavra com tamanha generosidade que passa a gestá-la dentro de si. Em seguida, vemos José e o anjo que lhe fala em sonho para que não tenha medo de receber Maria como esposa. Ele também acolhe esse convite e assume a vocação de guardião do Filho de Deus e de sua Mãe.

Atrás dessa cena, temos um profeta do Antigo Testamento – Isaías – que segura o rolo da Palavra e prediz aquilo que acabamos de ver na cena frontal: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14). Mais adiante, já na rampa que dá acesso à sala das confissões, temos uma bela imagem simbólica que recolhe outros trechos da profecia de Isaías: é o deserto que começa a florir, a revestir-se de beleza e de vida (Is 35,1-10), é o toco que resta depois da poda e se torna uma semente santa, uma muda de algo novo (Is 6,13).

Visitação

Thiago Leon
 Thiago Leon


Uma vez que acolhemos a Palavra, ela nos move em direção ao rosto do outro, sobretudo daquele que mais precisa. Por isso, a iconografia cristã frequentemente representou lado a lado a cena da anunciação e a da visitação, como faz o próprio Evangelho de São Lucas. Com o mesmo gesto com que acolhe a Palavra, Maria acolhe Isabel, sua parenta já de idade avançada e grávida.

Logo atrás, no corredor interno, vemos uma cena do Antigo Testamento que remete a esse sentido de cuidado e de reconhecimento do outro. É a viúva de Sarepta, que alimenta Elias com o pouco que tem de farinha e azeite, e acontece que ao repartir o que tem o alimento não acaba, mas, ao contrário, se prolonga por muito tempo (1Rs 17,8-16). De frente para essa cena, ainda no corredor, temos outra cena: é a parábola do bom samaritano, outra narrativa centrada no mandamento do amor ao próximo. No mosaico, vemos o próprio Jesus como o bom samaritano, sanando as feridas da nossa humanidade enferma.

Batismo do Senhor

Thiago Leon
 Thiago Leon


A cena seguinte é a do batismo de Jesus. Uma luz vinda do céu banha Jesus: é o amor do Pai, que o proclama Filho. João Batista, que não se considera digno de desamarrar a sandália dos pés de Jesus, se curva, se abaixa veementemente, diante do Filho de Deus. Mesmo assim, é Jesus quem ocupa a posição mais baixa. Ele mergulhou no mistério da nossa humanidade, mesmo ali onde parece que estamos no fundo do poço.

Na parede por trás dessa cena, vemos Naamã, o comandante do exército sírio, que procurou o rei de Israel para ser curado de sua lepra. Diante da negativa do rei, o profeta Eliseu interfere e solicita ao militar que se banhe sete vezes no rio Jordão, mas Naamã inicialmente se recusa, dizendo que os rios da Síria são muito melhores que os de Israel. Levando em conta, porém, o parecer dos seus servos, mergulhou no Jordão e foi curado (2Rs 5,1-14). Diante dessa cena, temos a parábola do pai com os dois filhos, um que permanece a seu serviço e outro que sai e gasta a sua herança. A imagem do pai recebendo esse filho arrependido em sua casa e convidando-o para o banquete é a imagem do batismo de cada um de nós.

Descida à mansão dos mortos

Thiago Leon
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Outra cena presente na Fachada Sul, bem visível para quem se achega a ela, é a do Senhor Jesus que desce à morada dos mortos. É o mistério do sábado santo, do Filho de Deus que se identifica conosco abaixando-se até à morte e, entrando na morte, a preenche de luz e a vence desde dentro. Vemos o Sheol, o mundo dos mortos, como um grande monstro que engole tudo, mas Cristo bloqueia a bocada do monstro com a sua cruz e de lá resgata nossos primeiros pais, Adão e Eva, e com eles toda a humanidade. Essa é a cena que a tradição iconográfica desenvolveu no primeiro milênio cristão para representar o mistério da ressurreição: Jesus não ressuscita sozinho, como um super-herói, mas nos faz participantes da vida nova que Ele vive junto do Pai, do Espírito vivificador que permeia a sua existência.

Do outro lado da parede, vemos a passagem que o próprio Jesus cita como o único sinal que será dado para que creiamos nele (Lc 11,29-33): o profeta Jonas que dorme dentro do monstro marinho. Como Jesus, ele entra na escuridão da morte e depois é libertado para a vida nova. Na cena em frente, vemos outro modo como esse sinal aparece: é a ressurreição de Lázaro. À medida em que Lázaro, escutando o chamado de Jesus, sai do túmulo e deixa as faixas que o envolvem, o próprio Jesus se deixa imobilizar pelas faixas e ingressa na escuridão do túmulo: Ele oferece a própria vida para que nós sejamos salvos da morte.

A aparição a Maria Madalena

Thiago Leon
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A cena seguinte mostra a primeira das aparições do Ressuscitado: na manhã do domingo, Maria Madalena vai ao jardim onde fica o túmulo de Jesus e o encontra vazio. Chora e lamenta, pensando que o corpo de Jesus foi levado dali, e até pergunta sobre isso a um homem que pensa ser o jardineiro. É, porém, Jesus, que Maria reconhece quando ele a chama pelo nome. É uma cena sobre a nova criação: no jardim, como em Gênesis, temos o novo homem e a nova mulher, Cristo e Madalena, imagem do discipulado, imagem da Igreja. São a nova humanidade, redimida.

A cena atrás dessa remete ao Cântico dos Cânticos, o livro do Antigo Testamento que é uma grande canção de amor entre dois namorados. Vemos o casal, vestido para a festa, abraçados. A narrativa do Evangelho de João sobre a ressurreição alude a esse texto: como Madalena, a namorada do Cântico também pergunta onde está o seu amado (Ct 3,1-4). Mas se ela segura o amado e não o solta, a Madalena Jesus pede que não o segure: Jesus deve ir para o Pai, não podemos fazer da comunhão com ele uma posse estática, pois se trata de um encontro vivo. A conversa de Jesus com a samaritana, representada na cena diante dessa, aprofunda o sentido dessa esponsalidade entre Cristo e a Igreja: no dom da água viva, do Espírito da comunhão, a humanidade é assumida pelo Filho de Deus e nos tornamos uma só carne com Ele.

O martírio de Santo Oscar Romero

Thiago Leon
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A última cena do painel que reveste a galeria inferior da Fachada Sul mostra um acontecimento recente da história da Igreja: o assassinato de Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, na América Central, ocorrido em 1980. O arcebispo tinha se tornado uma presença incômoda para o governo, denunciando constantemente as violações aos direitos humanos perpetradas pelo regime. Enquanto presidia a eucaristia, foi alvejado por um atirador a mando de uma milícia ligada a setores das Forças Armadas do país. Romero foi canonizado em 2018. No mosaico, vemos seu corpo dobrado sobre o altar e seu sangue caindo dentro do cálice: é a sua própria vida feita eucaristia, ofertada pela vida do mundo. A doação de sua vida é consolo para os aflitos, alimento para os famintos, libertação para os cativos.

A cena que figura por trás dessa mesma parede é muito semelhante: vemos o martírio de um sacerdote no Templo de Jerusalém, junto do altar. É Zacarias, morto entre o altar e o santuário, a quem Jesus se refere ao acusar os mestres da Lei de matarem os profetas (Lc 11,51). De fato, ao lado de Zacarias, vemos que quem o apedreja tem nas mãos o bezerro de ouro, conectando essa cena com o mosaico da idolatria do povo de Israel, na Fachada Norte. Vemos aqui um drama muito comum ao longo da história: a possibilidade de que distorçamos a religião a tal ponto que façamos dela causa de morte e não impulso para a vida. Foi para defender o que entendiam como correto que as autoridades religiosas mataram os profetas. Foi também em nome de certo cristianismo distorcido, domesticado a serviço do poder, que Romero e outros mártires latino-americanos derramaram o seu sangue.

A última cena da galeria, na rampa que leva à sala das confissões, mostra outro altar: na verdade, é a mesa do banquete celeste. Aqui quem se oferece é o próprio Jesus: ele aparece como servente, de avental, mas é ele também a mesa e o alimento. Ele quer que tenhamos vida em abundância, que nos sentemos à mesa dessa festa do amor do Pai e que, já aqui, enxerguemos no nosso cotidiano o seu rosto que vem ao nosso encontro em tudo o que nos rodeia.

Colunata

Thiago Leon
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Thiago Leon
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Os dois grandes braços da colunata da basílica envolvem os devotos e introduzem-nos pouco a pouco no mistério da comunhão dos santos, no mistério da Igreja como corpo de Cristo. Os primeiros rostos que vemos são os de brasileiros que nos antecederam na fé e foram reconhecidos como santos, como Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, Santa Paulina e os mártires de Cunhaú e Uruaçu. Mais à frente, encontramos grandes figuras da história da Igreja, como São Francisco de Assis, São Bernardo de Claraval, Santa Teresa de Jesus e Santa Teresa de Calcutá. Os santos que vemos mais próximos ao corpo da basílica nos fazem mergulhar na tradição cristã: são os Padres e Madres da Igreja, como São Basílio, Santa Macrina, Santo Agostinho e Santo Atanásio.

Intercaladas com os rostos dos santos, nossos irmãos e irmãs no corpo de Cristo, vemos se desenrolar as cenas da criação e o modo como a humanidade trabalha a criação, tornando-a cultura e tornando-a liturgia, celebração do nome santo de Deus. Tudo começa com a luz, como um rastro dourado sobre a escuridão. De um lado da colunata, vemos a criação dos luminares; do outro, vemos a luz do círio pascal. Numa parte, vemos a criação e a separação das águas; na outra, vemos a água que é fonte de vida para o homem e a mulher. De um lado, vemos a criação das plantas e vegetais; do outro, vemos a colheita do trigo e da uva. À esquerda, vemos a criação dos animais; à direita, o peixe e o pelicano, símbolos de Cristo. Lá, vemos a criação do homem e da mulher; aqui, vemos sua união em uma relação de amor mútuo. Toda a criação é envolvida em nossas relações de amor, de fraternidade, de comunhão, e se torna assim o louvor do Deus vivo.

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Por Redação, em Revista de Aparecida

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