Após ter perseguido muitos cristãos durante o primeiro século, um homem chamado Saulo de Tarso, vindo da Cilícia, região atualmente no sul da Turquia, ouviu certa voz e viu uma luz vinda dos céus enquanto se encontrava em Damasco, cidade na atual Síria. “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9, 5), ouviu, e a partir daquele momento converteu-se, dispondo sua energia, conhecimento e coragem para se tornar um prolífico pregador.
Conhecedor da língua grega e da filosofia, o apóstolo dos gentios - os pagãos - escreveu certa vez uma carta aos habitantes da cidade de Corinto, na Grécia, afirmando que “os dons são diferentes, mas o Espírito é o mesmo. Os serviços são diversos, mas o Senhor é o mesmo. As atividades são distintas, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1Cor 12, 4).
Hoje em dia, os cristãos veneram esse apóstolo, então evangelizador dos pagãos, como São Paulo. Vinte séculos após o seu chamado, o Senhor ainda chama os cristãos para colocarem seus diversos dons à Sua disposição e à disposição dos filhos e filhas de Deus. Na continuação dessa reportagem especial, a Revista de Aparecida investiga como essa vocação pode ser vivida diante da realidade, dos dons e da disposição de cada vocacionado.
Missão recebida no Batismo
A missão de cada cristão é recebida no momento do batismo, e essa semente se desenvolve de acordo com a vivência de cada um. “Ao longo da vida, [essa missão] vai sendo conhecida, vai sendo reconhecida para que ela possa ser assumida. No período da infância, já começam aqueles sinais que vão sendo amadurecidos, vão sendo lapidados”, explica o Pe. Renan Rangel, Reitor do Seminário Bom Jesus, da Arquidiocese de Aparecida. “Mesmo na idade adulta, quando a gente confronta uma vocação, a gente nunca percebeu isso? Aí olha lá na minha infância, eu tinha tais sinais que eu não soube identificar. Eu precisei de uma vida para reconhecer”.
Participação na vida da comunidade, leitura da palavra de Deus, oração, vida eucarística, participação em vários movimentos são fórmulas para aprofundar o direcionamento – dessa maneira, os carismas são descobertos. A variedade de Congregações, Institutos e Mosteiros auxilia cada cristão no caminho do discernimento, para que o vocacionado saiba cumprir sua missão da forma mais completa possível.
Para o Pe. Renan, essa diversidade se manifesta de forma muito prolífica na Arquidiocese de Aparecida. “Nós temos aqui uma variedade incrível de vida religiosa, vida sacerdotal, os vários movimentos leigos. (...) Por exemplo, nós temos três mosteiros de vida contemplativa na nossa Arquidiocese. As Clarissas, as Concepcionistas e as Carmelitas”.
Reclusão: a clausura vista de dois modos
A uma distância de 11 quilômetros do centro de Guaratinguetá (SP), um mosaico da Santa Mãe de Deus dá as boas-vindas a quem se aproxima do Mosteiro Mater Christi, comunidade de vida religiosa das irmãs da Ordem de Santa Clara - as Irmãs Clarissas.
Único mosteiro no mundo situado dentro de um espaço de recuperação para pessoas com dependência química, a Fazenda da Esperança, as irmãs compartilham ali uma vida oração, contemplação e contato com as pessoas que vivem naquele lugar a restauração de suas vidas.
No espaço, as irmãs vivem em clausura, reclusas no espaço do Mosteiro. A Irmã Ana Teresa, entretanto, atesta que essa decisão não as afasta daqueles que necessitam de seu auxílio. “A nossa clausura primeira não é a clausura das grades. Essa era uma grande preocupação para Santa Clara no início da nossa ordem, tanto que o Mosteiro fundado por ela é próximo à cidade de Assis, na Itália, e também é próximo aos leprosos, aos pequenos. Nossa clausura se estende para os outros”, explica.
A Irmã Maria Paulina explica como essa dinâmica ocorre dentro do Mosteiro Mater Christi. “Como Clara, a gente não sai para dar catequese, não sai para evangelizar, mas sempre estamos aqui (...) e nessa realidade específica do Mosteiro de Guaratinguetá, nós vivemos dentro do centro de recuperação que é a Fazenda da Esperança. É o único mosteiro do mundo nessa realidade”.
Ela lembra que a realidade da clausura, às vezes, lembra as pessoas em recuperação na Fazenda das grades que, outrora, as mantinham reclusas. Contudo, isso mostra para as pessoas uma nova realidade. “Nós somos uma imagem de uma realidade nova, do recolher-se por amor. Na capela da Missa, nós não temos grades de separação (...) porque grades para os meninos lembra prisão”, afirma.
E diante dessa realidade e de uma diversidade tão grande de vocações, irmã Ana Teresa é rápida em responder a um questionamento: qual o papel dos leigos na Igreja? “O papel dos leigos é viverem como leigos”, diz a religiosa. “Parece que é muito simples isso, comungar e voltar para casa. Mas ser leigo é viver o Evangelho no dia a dia. (...) Porque quando uma vocação é bem vivida, ela ajuda os outros a descobrirem a sua própria vocação e seu lugar na Igreja e no mundo.”
Padre ou Irmão? Missionário por excelência
Com a semente plantada e o lugar descoberto, a alegria é consequência. Pois, como diria Santo Afonso de Ligório, pai da Congregação Redentorista, “os que amam a Deus vivem sempre contentes, porque todo o seu prazer é cumprir, também nas adversidades, a vontade divina”.
Uma das formas de se cumprir essa vontade dentro da Congregação Redentorista é ouvir ao chamado a ser irmão, entregando-se à vida consagrada. Dentro dessa vocação, o trabalho dos irmãos se difere daquele dos padres especialmente pela diversidade.
No caso da vocação ministerial, o padre pode administrar os sacramentos, especialmente dois por excelência: a confissão e a consagração das espécies eucarísticas, das quais ele tem a primazia. “É o ministério próprio do padre. O ministério do irmão, nós vivemos como missionários, mas consagrados para a missão. A diversidade do trabalho do irmão é bem maior do que a do presbítero”, afirma o Ir. José Mauro Maciel, C.Ss.R..
Ele chama a atenção para a semelhança dos trabalhos dos religiosos, que em ambos os casos têm votos, mas que, muitas vezes, não significam a mesma coisa. “Ainda que nós muitas vezes acompanhemos espiritualmente algumas pessoas, nós não podemos dar o perdão – a absolvição -, mas podemos ser acompanhantes”, exemplifica.
“Os padres são voltados para o sacramento. Os irmãos, também missionários, não há uma diferença que um é mais do que o outro, todos professam as mesmas regras”, diz o Ir. Joaquim Acássio Barbosa, C.Ss.R., do Secretariado Vocacional Redentorista. Diversos trabalhos podem se desenvolver dentro dessa vocação, entre as diversas pastorais dentro da Congregação, o serviço à área social, à área da comunicação, do ensino, ao serviço da pregação etc.
Entretanto, como é possível distinguir a vocação de realizar esses trabalhos e o chamado a uma profissão? Como é possível unir as duas esferas e sentir-se realizado como cristão? Esse é o tema da próxima reportagem especial de “Vocação: Escuta, Ação e Alegria”, da Revista de Aparecida Digital.
Acompanhe esse e mais conteúdos evangelizadores em A12.com/revistadeaparecida. Acompanhe a primeira matéria dessa série de reportagens aqui. Auxilie o Santuário Nacional a construir e fomentar as vocações: os membros da Família dos Devotos têm acesso a conteúdos exclusivos na Revista de Aparecida Digital. Não perca tempo, faça parte você também dessa família evangelizadora!
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