Por Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. Em Artigos Atualizada em 09 MAI 2019 - 14H14

Mês de Maria e Feminicídio

Maio é o mês de Maria em nossa tradição católica. Neste ano, seria muito bom que cada comunidade católica tomasse o doloroso problema do feminicídio como objeto de sua oração e de sua reflexão.

Yakobchuk Viacheslav/Shutterstock
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Causam-nos profunda tristeza e vergonha as notícias de violência e de homicídios de mulheres, que estão se repetindo como se fossem atos costumeiros, já esperados e facilmente esquecidos. Trazem a marca de um machismo ancestral, ainda presente em muitos homens dos dias atuais, apesar de serem consumidores das mais altas tecnologias e bem informados pelas mais modernas ciências sobre o valor da vida humana e a dignidade de cada pessoa.

Ciúmes, vinganças ou a mera truculência do macho continuam a gerar mentalidades permissivas em relação à violência contra a vida da mulher. Será que ainda persiste uma mentalidade de matar como meio de lavar uma suposta honra social? O certo é que as estatísticas causam arrepio, porque, por mais que se elaborem leis de proteção à mulher, há uma fragilidade dolorosa no interior de tantas famílias e da própria sociedade, deixando inúmeras mulheres desprotegidas e impotentes diante da violência física e moral.

Leia MaisReveja o Aparecida Debate que discutiu o feminicídioProcessos por feminicídio crescem 51% em 13 estados brasileirosNo entanto, em todas as culturas, a mulher tem sido o símbolo maior da vida humana. É a mulher que acalenta a vida, que brota em seu ventre, ela cuida da vida frágil do bebê, ela é sempre a primeira a correr desesperada aos postos de saúde e aos hospitais para salvar suas crianças doentes, ela entra em desespero quando vê algum de seus filhos ameaçados, e a morte precoce ou até violenta de algum de seus filhos deixa feridas de saudade insuperáveis em seu coração. Até mesmo quando chega a provocar um aborto, jamais consegue se livrar do peso da culpa dentro de si, por mais que alardeiem a seu redor que é normal, porque seria um direito que teria sobre seu corpo. Certamente, mulher e vida se entrelaçam de tal forma que, nos momentos de maior perigo de morte, muitos clamam pela mãe.

Maria Santíssima foi a mulher cheia de graça e cheia de vida. Ela concretiza o sonho divino para toda mulher. Foi mãe sem ter sido dominada pelo sexo do macho, como se fosse apenas um objeto de procriação ou de prazer. Foi esposa, enquanto companheira amada e respeitada profundamente por José. Em seu ventre foi gerado e dela nasceu o corpo daquele que se declarou o Caminho, a Verdade e a Vida. Em outras palavras, o verdadeiro caminho para a Vida, que vai durar por toda a eternidade.

Yakobchuk Viacheslav/Shutterstock
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Por isso, a nossa devoção a Maria deveria nos levar a um compromisso constante com a vida, principalmente com a vida humana. Em nosso país, é urgente assumir uma responsabilidade ativa quando nos deparamos com qualquer sinal de ameaça à vida de alguma mulher a nosso redor. Não podemos lavar as mãos, como se fosse apenas um problema interno de alguma família ou uma responsabilidade do poder público.

Nós cremos que o dom da vida pertence a Deus. Por isso, a vida é um dom sagrado, que não pertence a quem a possui e, muito menos, pode ser ameaçada por outras pessoas. O mandamento de “não matar” é direto e incondicional, em relação à vida de quem quer que seja. Que o mês de maio, mês de Maria, renove nossa devoção àquela, que soube proteger a vida ameaçada do Menino Jesus, e nos leve a um compromisso pessoal e comunitário com a defesa da vida, principalmente da vida das mulheres. Uma verdadeira devoção a Maria Santíssima deve desabrochar em ações concretas e corajosas para proteger a vida de tantas mulheres.

Escrito por
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. (Aquivo redentorista)
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R.

Missionário Redentorista e membro da Academia Marial de Aparecida

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