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Onde a comédia é uma tragédia

Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)

Escrito por Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. - Jornal Santuário

19 OUT 2021 - 11H00 (Atualizada em 19 OUT 2021 - 14H01)

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A comédia, o deboche, a ironia, o sarcasmo e o escárnio são armas poderosíssimas e essenciais na luta contra todos os tipos de opressores e sistemas de repressão. É maravilhoso poder debochar do rei bobo que não percebe a sua nudez! É um dom poder defender os mais fracos e os menos favorecidos com esses instrumentos de uma alma sagaz! É válido que se faça comédia com os prepotentes e intangíveis, pois é uma forma inteligente de se despir o arrogante e derrubá-lo de sua cátedra majestática!

Todos esses dons do espírito perspicaz, entretanto, se tornam sujos e criminosos quando são usados contra os fracos e indefesos. Fazer comédia e deboche com os fragilizados da sociedade é 'colocar Bromazepam na mamadeira de criança', ou seja, só tem eficácia quando administrado para o público correto; para as pessoas erradas, é fatal.

Leia MaisUma discussão oportuna: mídia, violência e direitos humanosÉ certo um padre, durante a homilia, falar sobre política?O nosso país, como exemplo evidente, é o lugar em que se permite tudo em nome da comédia. Um “comediante” pode destilar preconceitos, racismos e calúnias em qualquer minoria ou em qualquer cidadão em particular, sem ser punido ou repreendido, visto serem imunes à lei. Os danos morais não são levados em conta quando um “comediante” investe ferozmente contra outros cidadãos.

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O grande problema desses incitadores do ódio, que se escondem atrás do álibi de “comediantes”, é que formam escola, com seguidores ainda mais violentos e arbitrários. As atitudes são estarrecedoras para o padrão de uma civilização! Fazem piadas com as tragédias e com as vítimas; caluniam os que não podem se defender; destroem a dignidade do próximo com impropérios e ameaças; ridicularizam as limitações físicas, sociais e intelectuais daqueles que estão longe e são desconhecidos; agem como ditadores fascistas, impondo suas ideias e diminuindo o diferente. Tudo isso em nome da comédia!

É triste ver um país onde o ódio está impregnado em cada esquina, mas é negado por todos os seus perpetradores! Brasil, um país cordial e acolhedor! E é mesmo, mas somente com aqueles que vêm de fora, que são estrangeiros e, supostamente, ricos. Para os pares tupiniquins, sobram o deboche, a ridicularização e a negação da identidade, pois, com certeza, quando se torna “comediante”, ascende-se a um 'nível maior de inteligência' que o distingue dos demais brasileirinhos (é o que pensam)!

Despertemos, portanto, para a consciência de que a poderosíssima arma da comédia deve ser usada para desmantelar os sistemas opressores (governo, mídia, instituições) que nos amordaçam a cada minuto, sem nos darmos conta de tal acontecimento. Quem debocha do rei furioso e déspota tem alma corajosa; quem vilipendia o fraco esfarrapado e indefeso faz da covardia o seu amuleto!

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. - Jornal Santuário

Redentorista, formado em Filosofia e Teologia. Pesquisador das Sagradas Escrituras e História. Acumulou experiência nas Missões Populares e no Santuário Nacional de Aparecida.

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