Quando pensamos ou falamos sobre o Cristianismo, muitos questionamentos veem à tona: como ele se originou? Quem eram os primeiros seguidores de Jesus de Nazaré? De que estratos sociais provinham? A que etnias pertenciam? Em que eles criam? Quais suas práticas religiosas?
Visando responder a essas questões de forma simples e direta, o autor Paulo Nogueira lança pela Editora Santuário o livro “Breve história das origens do Cristianismo”.
Ele relata desde o cristão no judaísmo até a disseminação das comunidades por todo o Mediterrâneo e as tentativas de organização das igrejas do segundo século.
Trata-se de uma história do cristianismo antigo feita para nossos dias: tempos de luta por diálogo e valorização das diferenças.
A equipe do JS conversou com o autor, que deu mais detalhes da obra em questão.
JS - No livro, o senhor cita o termo “Cristianismo Primitivo”. Fale sobre ele e seu significado.
Paulo Nogueira – O “Cristianismo Primitivo” é um conceito acadêmico, que tenta abarcar os processos de formação do cristianismo no primeiro e segundo séculos. Quando falamos de Cristianismo Primitivo, queremos dizer o Cristianismo em sua formação, desde as primeiras comunidades ou primeiros grupos proféticos, em torno de Jesus de Nazaré, até as primeiras igrejas que foram organizadas pelos missionários e pelos apóstolos nas grandes cidades do Mediterrâneo.
Todo esse processo, que é muito rico, plural, cheio de idas e vindas, de diversidade de formas de culto e de teologia e que nós encontramos testemunhado no Novo Testamento e nos textos apócrifos, está resumido em um conceito que se chama Cristianismo Primitivo. Com o Cristianismo Primitivo não devemos pensar exatamente no que aconteceu de fato, na origem verdadeira, como se fosse um sinônimo de “O Cristianismo original”.
Nós nunca saberemos o que é um Cristianismo original, porque nossas fontes já nos entregam um quadro bastante plural e diversificado de experiências religiosas em torno do Cristo. Ou seja, Jesus de Nazaré provocou reações tão plurais que é impossível resumirmos em um quadro histórico unificado. Isso se deve, na verdade, à riqueza simbólica de quem era Jesus e de sua presença nas comunidades.
Leia MaisLivro reflete sobre a conversão pastoral na Igreja CatólicaJS - O senhor dedicou um capítulo do livro para falar sobre João Batista. Conte-nos sobre ele e sua importância para a história do Cristianismo.
Paulo Nogueira – João Batista era um pregador, um profeta, que anunciava o juízo, o perdão e praticava um batismo de purificação para perdão de pecados, para preparar as pessoas para o juízo. Ele foi o mestre de Jesus de Nazaré, que passou um tempo seguindo-o e aprendendo com ele a arte e a missão da profecia. E é muito interessante que os cristãos sempre tentam demonstrar que Jesus era superior a João, sem falar mal dele, porque ele deve, historicamente, ter sido o mentor espiritual de Jesus, aquele que iniciou Jesus em sua missão por meio do batismo. Então, os cristãos têm um carinho muito grande por João Batista.
JS - Na opinião do senhor, qual a importância dos cristãos, principalmente os católicos, estudarem, saberem mais sobre a origem do Cristianismo?
Paulo Nogueira – Estudar as origens de um grupo religioso é fundamental por dois motivos. Primeiro, para exercermos uma crítica sobre as formas como praticamos nossa fé. Quando nós, cristãos, estudamos a Bíblia e as origens cristãs, podemos fazer uma leitura crítica de nossas próprias práticas, inspirar-nos naqueles que são os pioneiros, os primeiros cristãos, os apóstolos, os pregadores e que deram testemunho primeiro e revisitar as fontes, o que é muito importante. Segundo, podemos também, criativamente, descobrir elementos que estão lá nas fontes antigas, que passam despercebidas. Há diferentes formas de espiritualidade no Cristianismo das origens que podem nos inspirar a diferentes práticas de piedade, de culto e de devoção. É um processo crítico e criativo ao mesmo tempo.
Nos dias de hoje, há um uso muito malévolo, muito prejudicial das fontes cristãs. Há políticas de armamentismo, de discriminação, de racismo, em torno de um constructo que se chama “A Sociedade Cristã”. E, se visitarmos as fontes do Cristianismo, no Novo Testamento e nos textos apócrifos, elas nos inspirarão a buscarmos práticas de libertação, denunciarmos profeticamente e termos uma piedade com responsabilidade e com valores morais elevados. Por isso, em nossa sociedade, visitar as origens cristãs é absolutamente fundamental.
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