Deus existe? Essa pergunta ecoa no espírito humano há milênios, poder-se-ia dizer, desde uma perspectiva da antropologia cultural, que o homem, desde seus primórdios busca estabelecer uma relação com o transcendente. Como afirma o Padre Miguel Ángel Fuentes, citando Plutarco: “Lançai um olhar sobre a superfície da terra e encontrareis cidades sem muralhas, sem letras, sem magistrados, povos sem casas, sem moeda; porém ninguém jamais viu um povo sem Deus, sem sacerdotes, sem ritos, sem sacrifício.”

Leia MaisComo aumentar a minha fé?Muitos são os caminhos que podemos empreender para a compreensão da existência de Deus. As famosas cinco vias de Santo Tomás de Aquino buscam demonstrar como, por meio da razão natural, se é possível alcançar uma resposta lógica quanto à existência de Deus.

Nossa experiência cotidiana também pode nos ajudar a melhor compreender a realidade de Deus. Quem, ao contemplar a imensidão de uma noite estrelada, não se pergunta como tal obra possa existir e quem a criou? Quem não experimentando um profundo amor não estremece com a percepção de que tal vivência possa acabar com o tempo em que vivemos na terra e, com isso, vislumbre a necessidade da existência de Deus e da eternidade?

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Entretanto, a nossa pergunta possui um grau de pegadinha. Nós não estamos falando apenas de provas lógicas ou existenciais da realidade de Deus. Estamos perguntando como ter certeza da sua existência.

O Papa Bento XVI, em seu livro 'Introdução ao Cristianismo',  afirma que “em primeiro lugar, existe no fiel a ameaça da incerteza, que, em momentos de tentação, revela, de repente e com toda a dureza, a fragilidade de tudo aquilo que costumava parecer-lhe tão evidente” (p. 33). Não poucos santos experimentaram essa realidade e a superaram com um ato, natural e sobrenatural.

Leia MaisComo saber se Deus está feliz comigo?Esse ato parece loucura ao nosso tempo, que acredita que a única forma de se ter um conhecimento adequado é quando ele se apresenta como certeza. Na realidade, a própria ciência moderna se estabelece sobre o princípio da falseabilidade, ou seja, uma teoria científica deve ser passível de ser refutada para ser adequada, isto é, mesmo na ciência, não há certeza.

Mas, retornando ao que falávamos anteriormente, sabemos que um ato nos permite vivenciar essa certeza. Esse ato é a fé. Conforme o próprio Papa Bento XVI afirma, o “âmago do Cristianismo consiste no fato de ser uma fé”. (p. 38)

Pela fé somos capazes de dizer 'eu creio' e, ainda que padecendo dúvidas, apostar por aquilo que nos é dado como certeza. Na Carta Encíclica Spe Salvi , o Papa Bento XVI já nos dizia que “a fé é a substância das coisas que se esperam; a prova das coisas que não se veêm” (p. 14).

Nesse sentido, a certeza que buscamos não se apresenta como uma resposta matemática ou científica, mas através de uma relação, de um dom que recebemos e de uma resposta. A fé, enquanto virtude teologal, nos permite chegar a experiência de relação com Deus e, nessa relação, vamos cada vez mais tendo certeza da sua existência.

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Fontes:

FUENTES, Miguel Ángel. As verdades roubadas 1. ed. em português, São Paulo: IVEPRESS, 2007
RATZINGER, Joseph. Introdução ao cristianismo. São Paulo: Herder, 1970.
  ENCÍCLICA, Carta et al. Spe Salvi. Del Sommo Pontefice Benedetto XVI [Электронный ресурс]//La Santa Sede, 2007.