Crescendo na Fé

Cristão em cima do muro: como identificar e como fugir dessa condição?

João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)

Escrito por João Antônio Johas Leão

23 MAI 2016 - 12H08 (Atualizada em 14 ABR 2021 - 12H42)

Nas Sagradas Escrituras, encontramos diversas passagens que nos reconfortam em nossa caminhada e inflamam a nossa confiança em Deus, tais como “Vinde a mim vós que estais cansados e eu os darei descanso”, ou ainda “Pedi e recebereis”.

Mas existem outras que, no mínimo, nos desconcertam porque parecem duras demais, estranhas ou até incompatíveis com um Deus amoroso. São passagens como a que encontramos no Evangelho de Mateus, “Não podeis servir a dois senhores, pois odiará um e amará o outro”, ou a que está no Apocalipse que diz: “Porque não éreis nem frio nem quente, mas morno, estou por vomitar-te da minha boca”.

Shutterstock/ Roman Samborskyi
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Como podemos nos aproximar a essas palavras e continuar experimentando o amor misericordioso de Deus?

Para entender melhor o que Deus quer com essas passagens, digamos, mais duras, precisamos tentar olhar a realidade com os olhos de Deus. Deus é nosso Pai e, como tal, nos ama infinitamente a ponto de enviar seu Filho para nos salvar. Essa é a verdade fundamental que não pode nunca sair do nosso horizonte. E ele quer que nós sejamos salvos e, para isso, entra em jogo a nossa liberdade. Ou seja, Deus faz tudo para que nos encontremos com a verdadeira Vida, mas cada um de nós é livre para rejeitar essa graça. E, de fato, o fazemos muitas vezes.

Leia MaisAfetividade e Sexualidade: seu corpo e sua dignidadeNós, como filhos que somos, muitas vezes, renunciamos a essa dignidade, vivendo uma vida sem Deus ou uma vida que diz ter Deus, mas que na prática não o leva em consideração. Mas tudo isso não significa que apenas os perfeitos são realmente cristãos. 

Esse segundo estilo de vida podemos chamar de agnosticismo funcional, ou ainda, ateísmo prático, porque, na prática, vivemos como ateus, mesmo que digamos ser cristãos. Isso tem muito a ver com o grande relativismo que está espalhado pelo mundo, que dificulta uma vida cristã autêntica, porque se todas as coisas são relativas, nem boas, nem más, podemos viver de qualquer maneira. No fundo, o relativismo não é compatível com a realidade do pecado, e a perda da consciência do pecado talvez seja um dos maiores males que vivemos hoje.

Uma vida vivida nesse relativismo moral ou religioso não é uma vida realmente cristã. Por isso, as passagens que mencionamos, a princípio, nos parecem duras, porque elas mostram que Deus exige tudo de nós. Já escutamos alguma vez que Deus é ciumento. É claro que Deus não possui nenhum vício, mas entende-se a expressão no sentido de que Deus quer todo o nosso coração, não apenas uma parte dele, ou apenas alguns dias da semana. A vida cristã é uma proposta que revoluciona toda a nossa vida.

Shutterstock
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No batismo, realmente morremos para uma vida antiga e começamos uma nova, completamente nova. Muitas vezes, isso que já aconteceu no batismo precisa ser renovado, porque durante a vida vamos nos perdendo da verdadeira meta que é Cristo e o Reino de Deus. Em outras palavras, um cristão não pode ficar em cima do muro, com um pé na vida cristã e o outro na vida do mundo. Esses são os mornos aos quais faz referência a Escritura.

Leia MaisComo vencer os nossos pecados de estimação?Pelo contrário, todos os cristãos são, de alguma maneira, mornos, porque quem pode dizer realmente que ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo?

O santo não é aquele que não peca, mas o que cada vez que cai, pelo peso dos seus pecados, não perde a esperança e volta a se jogar com mais força e confiança nos braços de Deus.

Talvez sejamos mornos, mas temos a firme convicção e desejo de não o ser mais e confiamos no poder de Deus que transforma os corações de pedra em corações de carne. Com essa confiança, vamos pela vida crescendo no amor a Deus e aos irmãos, fazendo-o cada vez mais forte e irradiando-o a todos os demais.

O fato de sermos fracos não quer dizer que não podemos ou não devemos lutar por sermos santos. É justamente na nossa debilidade que se manifesta o poder de Deus, como nos diz São Paulo. Nesses vasos de barro que somos, brilha com maior intensidade a capacidade de o Senhor fazer maravilhas. Não podemos desistir de ter uma vida cada vez melhor, cumprindo o Plano de amor de Deus, deixando que nossa vida caia nos relativismos que estão tão presentes no mundo atual. 

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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