Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 21 MAI 2020 - 10H16

O desafio da rotina diária

Na descrição que uma blogueira faz de si mesma em seu site na internet, eu li algo parecido com o seguinte: “Tenho 25 anos, apaixonada por chocolate e, nesse meu tempo de vida, nunca passei um dia sem procurar algo novo para fazer”.

Isso me impressionou muito. Confesso que não acreditei muito nessa descrição, porque por experiência própria, sei o difícil que é sair da rotina, mas me fez pensar nesse tema e acho que é uma boa reflexão de se fazer.

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A nossa vida diária é, muitas vezes, repetitiva. Existem horários a serem cumpridos, trabalhos a serem feitos e normas a seguir, que simplesmente não podemos escapar quando queiramos.

A rotina é uma realidade que está geralmente presente na vida dos homens, e manter a novidade no que fazemos é uma tarefa difícil, mas será impossível? Como podemos nos aproximar a essa realidade, que talvez nos sufoque também de alguma maneira?

Se, por um lado, está essa dificuldade, por outro me vem à cabeça algo que é muito velho e, ao mesmo tempo, muito novo. Estou falando do Evangelho, que também conhecemos por Boa Nova. Mas essa “Boa Nova” já existe há 2000 anos! O que a faz tão “Boa” para que continue sempre “Nova”?

A Boa Nova será sempre atual, porque ela nada mais é do que a Revelação que Deus faz de si mesmo para os homens, e Deus é infinito. Ou seja, por mais que aprofundemos no conhecimento de Deus, nunca esgotaremos essa fonte, nunca conheceremos demais a ponto de poder dizer “já conheço o suficiente”. Nesses 2000 anos de anuncio do Evangelho, a Igreja vem meditando e aprofundando nesse mistério, que não deixa de maravilhar cada vez mais.

Mas como isso pode nos ajudar em nossa luta por fugir da rotina? Ao contrário da blogueira, eu diria que não se trata de buscar todos os dias algo diferente para se fazer, mas tratar de buscar nas coisas do dia a dia a novidade sempre presente. Em outras palavras, se trata de buscar a Deus em cada atividade, pois se nos encontramos com Ele, nenhuma atividade é igual a outra, porque Ele transforma a realidade.


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Deus está sempre querendo se manifestar para nós. O problema é que não estamos treinados para enxergar Sua presença constante no meio de nós. Nesse ponto, vem ao nosso auxílio uma virtude importantíssima, chamada reverência. Ela é uma disposição interior que nos permite estar atentos às realidades mais profundas em todas as circunstâncias do dia a dia.

É pela reverência que percebemos Deus atuando nas coisas mais simples, como em um gesto de amor inesperado, em um encontro não marcado, em uma alegria ou inclusive em alguma dificuldade que estejamos passando. Por essa virtude, podemos conhecer o plano que Deus está constantemente tentando traçar em nossas vidas.

A reverência nos permite lembrar sempre de que o nosso destino é eterno e que a nossa vida na terra é apenas um peregrinar. Assim, todas as coisas rotineiras que fazemos possuem um sentido, em vistas ao fim último de que nos encontremos definitivamente com Deus. Com essa consciência, as atividades do dia a dia terão sempre um sentido renovado, serão sempre “Boa Nova”, por mais que exteriormente apareçam como iguais.

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Mas viver assim não é fácil. O pecado que há em nós nos faz perder muitas vezes essa consciência e, por isso, precisamos constantemente buscar a Deus, pedir que Ele não deixe de manifestar nunca o seu rosto para nós.

A liturgia da Igreja é um lugar muito privilegiado para aprender a viver a reverência. Na Missa, que muitas vezes nos parece repetitiva, se estamos atentos a todos os símbolos, leituras e meditações, com certeza reconheceremos a presença de Deus, de maneira especial no momento da consagração, no “partir do pão”, como os discípulos de Emaús reconheceram Jesus precisamente nesse momento.

Que diante dessa luta diária por não perder o horizonte da nossa vida e cair, assim, na rotina e na mesmice, lembremo-nos sempre de Maria, mulher completamente reverente e atenta a cada um de nós, os seus filhos. Peçamos que ela interceda por nós, para que não deixemos de ver a Deus todos os dias da nossa vida!


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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