Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 26 MAI 2020 - 11H48

Você tem tempo para ouvir?

“Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se” (Tg 1, 19).




É impressionante a quantidade de vezes que a palavra
ouvir e algumas similares (ouvirá, ouvimos...) aparecem nas Sagradas Escrituras. Elas estão presentes desde o Gênesis, quando, por exemplo, o faraó ouve dizer que Moisés pode interpretar sonhos, até o Apocalipse, na famosa passagem: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3, 20).

E várias são as situações e contextos nas quais ela aparece: Ouvir o que o Senhor tem para falar, ouvir os sinais de Deus, as consequências de não ouvir a Deus, ouvir os prodígios de Jesus, etc. Isso nos mostra quanto essa realidade é importante na nossa vida. Então, vale a pena questionar-nos: Como será que a estamos vivendo?



Além de todos esses contextos já citados, a carta de Tiago, com a qual abrimos o texto, é bem clara na necessidade de estarmos prontos, dispostos, disponíveis para escutar, antes que falar e nos zangar. E isso parece ser cada vez mais difícil no dia a dia. Um teste interessante que podemos fazer facilmente é chegar em casa e dizer: “Tive um dia muito cansativo hoje”. A resposta quase sempre será: “Eu também”. O que aconteceu nessa situação? Uma escuta e uma resposta? Não. O que aconteceu foi uma manifestação do egocentrismo em que muitas vezes vivemos.

Por mais que estejamos conectados, se não reaprendermos a escutar de verdade, vamos nos parecer com ilhas, cada vez mais. E me parece claro que o problema não é a falta de tempo para escutar os outros, porque para escutar-nos a nós mesmos, as nossas necessidades e para satisfazer os nossos desejos nunca falta tempo. Por isso, podemos gastar horas postando fotos nossas e esperando as curtidas ou mandando mensagens e esperando que elas sejam respondidas. Sempre que o fim esteja em mim mesmo, parece haver tempo.



Estamos tão preocupados com nós mesmos que não conseguimos perguntar a razão pela qual o dia da pessoa foi difícil, o que podemos fazer para ajudar ou simplesmente nos compadecer por sua situação. Existe uma tendência muito forte, pelo menos eu a percebo muito forte, de querer colocar sempre o nosso eu no centro da questão, e isso impede uma escuta real e um diálogo frutífero.

O convite que nos faz a Bíblia para dar mais importância ao ato de escutar parece ser mais atual do que nunca. Se temos dificuldades de escutar-nos entre nós, quanto mais teremos de escutar ao próprio Deus.

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É preciso renovar a importância vital de escutar realmente a outra pessoa e buscar entrar em comunhão real com os outros, porque o ser humano foi criado para o encontro real e profundo com os outros homens e com Deus.

Thomas Merton escreveu “Nenhum homem é uma ilha”, mostrando que nenhum homem pode realmente ser feliz sozinho. E por mais que estejamos rodeados por outras pessoas e conectados de diferentes maneiras, se não reaprendemos a escutar de verdade, é justamente com ilhas que vamos, cada vez mais, nos parecendo. Na medida em que vamos nos colocando no centro da realidade e tirando Deus de seu lugar, nos afastamos da verdadeira e real comunhão que desejamos a todos os seres humanos.

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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