Após a 24ª sessão desta quinta-feira (18), a Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu uma celebração inter-religiosa, quando os bispos receberam integrantes de diversas igrejas e também responsáveis da Igreja Católica para a Unidade dos Cristãos.
Como de costume nas Assembleias, a celebração teve a presença de 10 líderes religiosos: o pastor Marcos Ebeling, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), a presbítera Eleni Mender, presidente da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), a bispa anglicana Magda Guedes, Presidente do Conselho Nacional Igrejas Cristãs (CONIC), o Sheik Mohamad Al Bukai, da União Nacional das Entidades Islâmicas no Brasil ( UNI), Átila Kus, do Centro Islâmico do Brasil, o rabino Raul Meyer, diretor de relações inter-religiosas da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Izaías Carneiro, articulador do Movimento Somos Um e Encristus, Carlos Vicente, facilitador no Brasil da Inciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI), Lucas Graffunder, pastor da Igreja Luterana Cristo Vive, e Dom Edgar Marim, da Eparquia Maronita no Brasil.
Além dos cânticos e orações específicas pedindo a paz, a prática do amor ao próximo e a unidade entre cristãos e outras religiões, foram abordados trechos de dois importantes documentos que abordam este tema: o “Unitatis Redintegratio”, de 1964, e o “Diálogo e Missão”, de 1984, a respeito da unidade.
“Só Deus conhece os tempos, ele a quem nada é impossível, e cujo misterioso e silencioso Espírito abre, às pessoas e aos povos, os caminhos do diálogo para superar as diferenças raciais, sociais e religiosas, e enriquecer-se reciprocamente. Eis, pois, o tempo da paciência de Deus, no qual atua a Igreja e todas as comunidades cristãs, porque ninguém pode obrigar Deus a agir mais depressa do que ele decidiu fazer”, diz parte do decreto do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, que completa 40 anos em 2024.
No Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida, no Santuário Nacional de Aparecida, Dom Teodoro Mendes Tavares, presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, presidiu o rito e falou desta grande oportunidade em congregar com irmãos e irmãs de outras religiões.
“Sobretudo essa celebração mostra a abertura da Igreja Católica em relação ao diálogo entre os Cristãos e pessoas de outras religiões. Quero recordar o que o Papa Francisco tem insistido: viver na cultura do encontro, no diálogo, da fraternidade e da amizade social. As religiões devem contribuir para a fraternidade, para a paz e o bem no mundo e nunca o contrário. Então, a nossa grande bandeira enquanto Igreja Católica é da paz, da fraternidade e da união. Para tudo isso, além do nosso esforço pessoal, precisamos da graça de Deus para abrir o coração e acolher cada pessoa que também quer construir conosco a amizade social, a paz e o bem”.
Em entrevista ao A12, o Pastor Lucas da importância de estar aqui em Aparecida, pregando esta busca pela paz e da unidade a partir do diálogo.
“Falar sobre a paz é meio que ir à contramão do que a maioria das pessoas faz. Infelizmente, vemos que o discurso às vezes é muito colocado em relação à unidade e respeito, mas, na prática, a gente vê que isso não acontece. Esse evento aqui de certa forma une o nosso falar e também o 'estar juntos'. E essa busca pela paz passa muito por essa ação. Não adianta a gente falar da paz, mas em casa, na família, tem um desencontro, pois se em casa temos este ambiente hostil, isso é transferido para outros lugares. E nas religiões, isso acaba aflorando ainda mais, infelizmente. Então devemos conversar sobre a paz e respeito, colocando as diferenças bem específicas e não negando elas, mas mostrar que existe algo maior que isso, que essa busca pela paz é a busca pelo respeito, pela dignidade de cada vida humana”.
O rabino Meyer nos conta que o encontro inter-religioso é uma grande graça de Deus para compreender que o diálogo é o caminho para conviver com irmãos e irmãs de diferentes crenças em busca da esperança.
“Realmente temos dificuldades hoje em dia de entendimento entre os seres humanos. O problema é que as pessoas têm dificuldades em entender a diferença do outro. E essa diferença não sendo compreendida, ela é temida. Existe uma frase que eu sempre digo, que eu escutei: 'Conhecer é amar, desconhecer é temer!'. As pessoas temem as outras pessoas e isso faz com que as pessoas se evitem. E essa forma traz o radicalismo. Temos que olhar aos próximos, conhecer e aprender dos outros como é bom saber o diferente, porque isso complementa a nossa cultura. Hoje em dia, quanto mais diferença nós conhecemos, mais o mundo se abre, essa ideia de ficarmos somente com o nosso conhecimento é um problema complicado. O ideal é cada um olhar para o próximo e aprender do próximo”.
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