Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Dúvidas Religiosas Atualizada em 25 ABR 2019 - 09H06

O que fazer quando o padre de minha paróquia age como um ditador?

Os sacerdotes são escolhidos por Deus, do meio do Povo, para servir à Igreja e testemunhar o Redentor no mundo.

Vejamos o que o Código de Direito Canônico diz sobre o Sacramento da Ordem:

“Por divina instituição, graças ao Sacramento da Ordem, alguns entre os fiéis, pelo caráter indelével com que são assinalados, são constituídos ministros sagrados, isto é, são consagrados e delegados a fim de que, personificando a Cristo Cabeça, cada qual no seu respectivo grau, apascentem o povo de Deus, desempenhando o múnus de ensinar, santificar e governar”. (Cân. 1008).

Os padres têm a missão de ensinar o caminho certo, de colaborar com a santificação do Povo de Deus e de governar com justiça a comunidade que lhe é confiada.

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No entanto, isso não dá ao presbítero o direito de se proclamar "o rei todo-poderoso". Numa paróquia, por exemplo, o sacerdote é convidado a presidir a comunidade dos fiéis, incentivando a participação de todos. Muito estranho é ver uma paróquia onde o pároco faz o que quer, quando quer e como quer, mesmo contrariando o gosto e os sonhos de toda a comunidade.

A comunidade, por outro lado, deve se lembrar que o padre também é um ser humano, passível de falhasDevemos sempre levar em conta que o padre é um ser humano, susceptível a erros e possuidor de limitações. Ainda que, no seu serviço ministerial, o próprio Cristo esteja à frente de seus atos, o padre não deixa de ser pessoa débil e frágil, como bem afirma o Catecismo da Igreja Católica:

“Esta presença de Cristo no seu ministro não deve ser entendida como se este estivesse premunido contra todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio, contra os erros, isto é, contra o pecado. A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo todos os atos do ministro. Enquanto que nos sacramentos esta garantia é dada, de maneira que nem mesmo o pecado do ministro pode impedir o fruto da graça, há muitos outros atos em que a condição humana do ministro deixa vestígios, que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e podem, por conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja”. (CIC, 1550)

Ou seja, a comunidade tem autoridade moral para cobrar de seu sacerdote a postura que lhe deveria ser própria. Um padre que humilha os paroquianos deve ser cobrado severamente.

Um sacerdote que, por exemplo, negligencia os doentes por causas espúrias, tais como fixar-se na Internet ou ir a festas particulares tem de ser repreendido pelos membros da comunidade. Um presbítero que faz acepção de pessoas, tratando bem somente aquelas de altas posições sociais, e visando apenas ao enriquecimento e ao dinheiro, precisa ser admoestado pelos paroquianos.

Não é pecado pedir fidelidade ao seu padre

Mas e se ele não ouvir? E se ele usar seu poder contra aqueles que exigem dele a coerência? Bem, muitos sacerdotes infiéis à sua vocação têm usado do medo e do autoritarismo para calar as críticas da comunidade. Querem viver acima de todas as leis, sem prestar contas a ninguém. Mas saibam que todos podem recorrer a instâncias superiores.

Se na sua paróquia existe alguém arrogante, avarento, prepotente, estúpido, libidinoso, vingativo, antiético, tenha certeza de que você pode recorrer ao bispo de sua diocese. Reúna o conselho ou todos os que estão insatisfeitos com os desmandos do sacerdote e levem as queixas ao bispo, que tem a obrigação de ouvir os fiéis e de investigar as denúncias. Se forem procedentes as acusações, o padre pode ser punido, até mesmo com a demissão do estado clerical, dependendo da gravidade dos atos.

No Direito Canônico encontramos garantia de punição a todos aqueles que se julgam acima da lei, com risco de perda do estado clerical, o mais terrível mal que um sacerdote pode fazer à sua própria vocação:

“O clérigo que perde o estado clerical, de acordo com o direito, com ele perde os direitos próprios do estado clerical, e não está mais sujeito às obrigações desse estado, salva a prescrição do Cân. 291 (o celibato); fica proibido de exercer o poder da ordem, salva a prescrição do Cân. 976 (ouvir confissão de uma pessoa à beira da morte); fica privado, por isso mesmo, de todos os ofícios, encargos e de todo o poder delegado”. (Cân. 292)

Aconselhar e rezar pelos padres é missão de todo cristão

Todos somos responsáveis pela Igreja. Portanto, lembremos que a comunidade tem o dever principal de admoestar, cuidar e auxiliar os sacerdotes na caminhada vocacional. Aconselhar e rezar pelos padres é missão de todo cristão, pois todos somos responsáveis pela Igreja.

Entretanto, há formas de denunciar e extirpar os malefícios causados por ímprobos sacerdotes ao redor de nosso país. A comunidade pode recorrer aos bispos, mas se, porventura, alguns desses forem omissos com a comunidade, ela tem o direito de ir a outras autoridades eclesiásticas, que também cobrarão dos bispos a missão de zelar pelas suas ovelhas.

O Cristo jamais deve ser traído pelos que o representam, mas se isso acontecer, que os traidores sejam chamados ao tribunal!

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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