Entre Santos: São Francisco e Santo Agostinho em uma conversa sobre ecologia

Neste tempo em que um novo Papa, Leão XIV, é chamado a conduzir a Igreja, talvez seja providencial recordar os santos que mais nos ajudam a compreender a relação entre fé e cuidado com o mundo criado por Deus.

Curiosamente, o nome Leão remonta tanto ao grande Papa Leão Magno quanto ao fiel Frei Leão, amigo e confidente de São Francisco de Assis — aquele que melhor entendeu a ternura e a exigência do santo em viver a paz com toda criatura.

Vindo o papa de uma espiritualidade agostiniana, fizemos com que São Francisco de Assis e Santo Agostinho se “encontrassem” para uma conversa — que não aconteceu, mas poderia ter ocorrido — sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano: Ecologia Integral.

Francisco, com sua simplicidade e amor pela criação, fala sobre a alegria de servir a Deus no cuidado da criação, enquanto Agostinho reflete sobre a graça divina presente em cada detalhe do que foi feito e pensado por Deus.

Ambos compartilham suas experiências e compreensões. A partir do chamado à conversão ecológica, motivado pela CF 2025, confira uma conversa sobre Ecologia, entre santos:

Santo Agostinho:

Francisco, sempre admirei seu amor pela Criação! Você diz que todas as criaturas são nossas irmãs, mas muitos as tratam como se fossem apenas coisas a serem exploradas. Por que você acredita que o homem se afastou tanto desse cuidado?

São Francisco:

Meu irmão, o homem se esqueceu de que tudo pertence a Deus. Em sua ânsia de possuir, ele passou a ver a natureza como algo que pode dominar, em vez de cuidar. Mas o Criador não nos deu o mundo para destruí-lo, e sim para cultivá-lo e preservá-lo com gratidão.

Santo Agostinho:

Sim, a criação é um reflexo da bondade divina. Vejo que muitos se deixam levar pela soberba e pelo desejo desenfreado, esquecendo-se de que essa beleza é passageira e que são apenas administradores, não donos.

São Francisco:

E não é essa a raiz do problema? A soberba faz o homem pensar que pode usar e descartar tudo. Mas cada criatura tem um propósito diante de Deus. Até o menor dos passarinhos canta para Sua glória, e o menor dos insetos tem sua função no equilíbrio da Terra. Se destruímos esse equilíbrio, ferimos não apenas a Criação, mas a nós mesmos.

Santo Agostinho:

Vejo sabedoria em suas palavras. O amor-próprio desordenado leva à ruína da alma e do mundo. Se o homem não ordena seu coração para o bem comum, viverá sempre consumindo sem medida, sem perceber que, ao devastar a terra, ele próprio se empobrece.

São Francisco:

Por isso, precisamos lembrar que tudo está interligado. Não há como buscar Deus e desprezar a criação, assim como não há como amar o próximo e ignorar sua necessidade de um ambiente saudável para viver. O cuidado com a Terra e o cuidado com os irmãos são um só chamado.

Santo Agostinho:

Então, a verdadeira conversão envolve não apenas o coração, mas também a forma como vivemos no mundo. Amar a Deus é também amar o que Ele criou, respeitando e preservando sua obra.

São Francisco:

Sim, meu irmão! Quando o homem aprender a ver a natureza como um dom, então viverá em verdadeira harmonia com Deus, consigo mesmo e com toda a Criação!

Em tempos de desafios ecológicos e de nova esperança para a Igreja com o início do ministério do Papa Leão XIV, é simbólico lembrar que o cuidado com a Casa Comum não é uma pauta passageira, mas parte do chamado à conversão que envolve todo o nosso ser — coração, razão e atitude.