Durante a Quaresma, tempo de graça e de salvação, a prática de jejum nos é proposta como penitência, isto é: como exercício de santificação para nos ajudar na volta para o Pai. Esta prática penitencial, vivida por Jesus no deserto e instrumento de satisfação para tantos irmãos nossos, traz, em si, um tríplice significado, que gostaria de comentar a seguir.
a) Renúncia
A tudo que é contrário à vontade de Deus, e que, assim, se constitui em pecado, temos que renunciar por nossa própria condição cristã, porque, sendo cristãos, renegaríamos o Senhor se não vivêssemos de acordo com sua lei. Mas o Jejum, enquanto renúncia, não é isto. Ele exige que ela seja feita sobre aquilo que nos é devido por direito, quer na alimentação, quer no conforto, na diversão, no lazer, em qualquer situação que nos traga prazer. Tal renúncia nos une a Cristo e nos permite dominar a nós mesmos, libertando-nos de nossa própria vontade. Santa Teresa Benedita da Cruz, Edite Stein, rezava: “Senhor, livrai-me de mim mesma”. Jejuar é renunciar a si mesmo, para unir-se ao Cristo.
b) Partilha
"Aquilo a que renunciamos não pode ser guardado para nós, mas precisa ser partilhado com os necessitados".
Aquilo a que renunciamos não pode ser guardado para nós – pois descaracterizaria a renúncia – mas precisa ser partilhado com os necessitados. O objeto da renúncia não me pertence mais, e, para que seja agradável a Deus como prática santificadora, deve ser aplicado em socorro dos que sofrem. A caridade, amar o outro por amor a Deus, exige que o bem praticado não retorne a mim sob nenhuma condição, mas, saindo de mim, passe pelo próximo e vá para Deus. São Francisco nos ensina que “o pobre é, para nós, a imagem de Deus”, e isto se fundamenta naquilo que o próprio Senhor nos adverte: “o que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25).
c) Consagração
Consagrar é separar para o Sagrado, separar para Deus. Renunciando a nós mesmos e partilhando com os pobres, temos que ter claro que é por amor a Deus. São João nos diz que é amando ao irmão que vemos, que amamos a Deus a quem não vemos (1 Jo).
Ele, o Senhor, vem dar o sentido a toda nossa vida. É o amor a Ele que nos difere dos agentes sociais, dos líderes políticos, dos que trabalham nas ONG’s. Ele é o sentido último e o motivo absoluto que nos impele a amar, a servir sem receber retorno, na única certeza de que, devolvendo a Ele o amor que dele recebemos (Deus nos amou primeiro – 1 Jo), participaremos do seu Reino e seremos herdeiros de sua glória.
Que o jejum quaresmal nos ajude a chegar ao Pai, pois seu Espírito nos inspira sua prática e seu coração amoroso nos aguarda. Demos tão grande alegria ao Pai, que, em seu amor, nos inspira a volta para Ele, para nos dar a Vida Eterna.
Praticando a penitência em união com Cristo, tornamo-nos sacrifício para o Pai, tornamo-nos liturgia, canto de louvor e de adoração.
Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida
Bispo Auxiliar de Salvador (BA)
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