Espiritualidade

O Dom da Caridade

Escrito por Dom Orani João Tempesta, O.Cist.

02 MAR 2015 - 13H08 (Atualizada em 29 MAR 2021 - 11H50)

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Neste tempo de Quaresma e da Campanha da Fraternidade, é importante recordar que a nossa missão de solidariedade está baseada no amor fraterno, na caridade.

Vivendo o Ano da Esperança em nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Ano da paz no Brasil (2015), refletir e colocar em prática a caridade, que é um dom de Deus, nos faz caminhar na construção da civilização do amor. Nesta cidade que completa 450 anos em 2015, temos uma grande e importante missão: espalhar as sementes da boa notícia! E, ao espalha-la, somos chamados a ter atitudes que contagiem com o bem aos nossos irmãos!

Caridade é um termo derivante do latim “caritas”, que tem origem no vocábulo grego chàris. Significa um sentimento de ajuda a alguém sem busca de qualquer recompensa. A prática da caridade indica uma pessoa boa e de moral correta. A doutrina católica classifica a caridade como uma das virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), “pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus” (CIC. 1822).

Leia MaisQuaresma é tempo de caridadeO Apóstolo São Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: “A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (1 Cor 13, 4-7).

 

"A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais".

São Paulo também não mede suas palavras quando afirma “A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais” (CIC 1826). “Permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1Cor 13, 13). Jesus fez da caridade o novo mandamento, quando disse “Este é o meu preceito: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12).

Por sua adesão total à vontade do Pai, à obra redentora de seu Filho, a cada moção do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. A visita de Maria, grávida, a Isabel, numa região montanhosa foi um belo exemplo da sua caridade. O Papa Emérito Bento XVI publicou, no dia 7 de junho de 2009, uma carta-encíclica titulada: “Caritas in Veritate” (Caridade na Verdade).

Nesta encíclica, a “caridade” é aplicada às realidades do trabalho, da economia e do desenvolvimento em geral. A caridade representa o maior mandamento social. Respeita o outro e seus direitos. Exige a prática de justiça, e só ela nos torna capazes de praticá-la.

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A caridade é um amor elevado acima dos sentidos e da razão, pelo qual nos amamos uns aos outros pelo mesmo fim pelo qual Jesus Cristo amou os homens para fazê-los santos neste mundo e bem-aventurados no outro. São Vicente, em toda sua vida terrestre, se dispôs a ajudar o próximo: desde a sua infância ele esteve lá, disposto a ser um instrumento da graça de Deus, que é a Caridade.

E quem poderia imaginar que logo ele, aquele gastão, um dia se tornaria o Patrono Universal da Caridade. Que belas obras ele realizou! Nunca obteve um sentido de arrependimento ao servir a quem mais necessitava à sua frente. Seu coração sempre esteve puro e disposto a ajudar, e eis a sua fórmula para os dias de hoje, em que nem sempre temos tamanha abertura ao irmão em Cristo.

A caridade é algo além fronteiras, que mexe com o coração de cada um, seja ele rico ou pobre, negro ou branco, ocidental ou oriental, não tem escolhas; Deus não olha isto, e sim o amor que nos faz ir mais perto deles, os preferidos do Pai, os que mais necessitam, que estão à mercê da sociedade: os pobres.

Meditando sobre os Evangelhos, impressiona-nos a mensagem de Cristo fundada totalmente no amor aos irmãos, na caridade. Poucas vezes, o Divino Mestre fala do amor que devemos ter para com Deus. Do Pai, Ele sempre no-Lo apresenta como o doador de tudo, que nos ama a ponto de dar seu Filho à morte para a salvação dos homens.

Raras vezes, e foram sempre respostas aos fariseus e aos legistas, em que reafirmou o primeiro mandamento do amor a Deus, mas, logo a seguir completa-o o amor ao próximo, que lhe é semelhante. Ilustra-o na parábola do bom samaritano (Lc 10, 25-37). As cartas do apóstolo João insistem no mesmo diapasão.

Caqueticamente, e com clareza apostólica, afirma que aquele que diz que ama a Deus e não ama a seus irmãos é mentiroso. E continua que é muito fácil proclamar que amamos a Deus, a quem não vemos, mas se desprezamos o irmão que está a nosso lado, onde está a caridade, onde está o amor? (1Jo 4,20). Paulo, na sua Carta aos Coríntios (1Cor. 13), proclama e exalta a caridade. Quase sabemos de cór o texto maravilhoso. Somos levados a interpretar este hino como o amor ao Pai Celeste. Mas, o apóstolo fala é da excelência do amor entre os irmãos. “Ainda que eu falasse todas as línguas dos anjos, ou tivesse toda a ciência, sem a caridade seria um bronze que soa” e cujo som se perde nas quebradas dos montes. 

No dia do Juízo, quando o Filho do Homem, na sua glória, vier nos julgar, escreve o evangelista Mateus, Ele não nos questionará sobre o amor de Deus, sobre a nossa fé, sobre as coisas grandiosas que tivermos feito. O questionamento, e a glória decorrente, será sobre o nosso coração, se ele se abriu ou fechou sobre os pequeninos que moravam em nossas casas, no nosso bairro, na nossa comunidade.

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