PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Parte 27
A Cristandade Colonial na Encruzilhada
A partir de 1492, na América Espanhola, e 1500, na América Portuguesa (Brasil) com a chegada do conquistador europeu e com a subjugação das culturas nativas ao poderio europeu, veio também a implantação do catolicismo nos moldes romanos em nosso continente.
A fé cristã a partir da implantação passou por uma fase de organização, depois de consolidação e de pleno estabelecimento em terras latino-americanas até chegarmos ao século XVII e XVIII quando, tanto a colonização como a evangelização passaram por um período de crise, precisando ambos quase que se “reinventar”.
Expulsão da Companhia de Jesus dos domínios portugueses.
Crescimento e crise do Século XVII:
De 1759 a 1831, período que coincide com a expulsão dos Jesuítas, ao tempo do pontificado do Papa Gregório XVI, se produz a quebra dos laços da cristandade americana e a crise da emancipação, com a constituição das modernas nações latino-americanas.
Situação romana e política Peninsular Metropolitana. O século XVII e também o XVIII veriam nascer e se consolidar nas Américas os chamados “movimentos nativistas”, forças que se uniram para lutar pela emancipação das colônias e que depois de um período de luta iriam se dividindo constituindo as diversas nações latino-americanas. Um dos primeiros países a se emancipar foi a Argentina (1811) e um dos últimos foi o Brasil (1822).
Alguns sinais como o crescente regalismo praticado pelos reis e príncipes europeus, o fortalecimento do absolutismo monárquico e as influências do iluminismo de Rousseau e Voltaire caracterizam este período.
Ao lado disso teríamos a ascensão total da burguesia que passou a controlar o comércio mundial, estabelecendo os elementos básicos do mercantilismo praticado pelas nações mais desenvolvidas.
Todo e qualquer grupo que oferecesse resistência ao poder da burguesia e à centralização do poder político nas mãos das monarquias passou a ser combatido e eliminado. Em Portugal, na Espanha e em outras nações modernas da Europa vigorará o sistema político conhecido como Despotismo Esclarecido. Um dos grupos considerados de oposição e inimigo, portanto, desta nova conjuntura política era a Igreja e dentro dela a Companhia de Jesus que, além disso, tem uma grande influência por causa de sua presença forte no Sistema Educacional. A Igreja também passa a ser considerada uma força retrograda aliada do Antigo Regime.
Isso explica a pressão que vai levar à expulsão dos Jesuítas que só pode ser colocada dentro deste contexto. A Burguesia européia atacava a estrutura eclesial para poder exercer a hegemonia ideológica na sociedade civil, eliminando a Igreja desta função.
Foto de: reprodução.
A nova classe burguesa se alia com a monarquia
para ser a mola mestra do novo
sistema econômico europeu.
Porque os Jesuítas?
Desde a Paz de Westfalia, assinada em 1648, o papado vinha perdendo a maior parte de seu poder e de sua influência nas decisões políticas entre os Estados Europeus.
O fato dos papas deste período serem de pouco relevo vai contribuir na diminuição desta influência:
- Clemente XI (1700-21) é o papa da questão dos ritos Chinês e Malabar que foram proibidos em 1704, dificultando a consolidação do cristianismo na Índia e na China.
- Bento XIV (1740-1758) é o papa que introduziu o iluminismo em Roma. Ele foi um papa débil, que fez muitas concessões e que assinou o concordato amplamente favorável à Espanha em 1748. Neste tempo se deu as influências jansenistas e galicanas no catolicismo iluminado.
Como as classes emergentes, leia-se burguesia, precisavam de um estado forte, mesmo que monárquico, para unificar o mercado nacional e internacional, elas passam a se opor às ordens religiosas como um poder supranacional, que ainda estavam aliadas às classes do Antigo Regime.
A Burguesia, porém, não se opôs abertamente, mas infiltrou-se na Igreja, conquistando setores importantes até mesmo do episcopado, opondo-se à Santa Sé, ao sistema educacional do Sistema Escolástico, ao feudalismo medieval, à inquisição e à apologética. Voltou-se também contras as Ordens Religiosas e contra a prática das devoções populares. Em suma, tudo o que constituía a Cristandade, seus elementos básicos e formadores da base social de então passou a ser objeto de crítica e oposição das novas classes dominantes
A expulsão dos Jesuítas foi provocada pela burguesia, para eliminar um inimigo estratégico, fazendo com que a Igreja deixasse de ser opositora dos interesses capitalistas da burguesia nascente.
Marquês de Pombal era ministro de Dom José e influenciado pelo Iluminismo defendia a política do Despotismo Esclarecido.
Fases da expulsão
Os 10 mil Jesuítas que estavam nos países latinos e na Índia eram uma considerável força de oposição à pretensão burguesa de hegemonia, pois a Companhia de Jesus havia nascido junto com o capitalismo e os seguidores de Santo Inácio de Loyola tinham uma mentalidade modernizante. Nos países protestantes a burguesia só triunfaria sobre o catolicismo medieval no tempo da reforma.
Com o Papa Bento XIV aumentaram as concessões a Portugal e Espanha e com o Papa Clemente XIII (1758-69) os Jesuítas foram finalmente expulsos. A Europa vivia o tempo do Despotismo Esclarecido e em Portugal reinava soberano o primeiro-ministro Marques de Pombal.
No caso das colônias, tanto de Portugal como da Espanha, localizadas em terras americanas, o motivo imediato da expulsão foi a questão das Reduções Jesuíticas do Paraguai que eram um bastião de resistência ao colonizador, livrando os índios de sua sanha colonizadora.
Papa Clemente: Os jesuítas foram supressos em 1773 e restaurados em 1814.
A expulsão total dos Jesuítas foi precedida por uma variada publicação de obras contrárias ou pouco favoráveis a eles.
- Em 1759 foram expulsos de Portugal e de suas colônias.
- Em 1762 foram expulsos da França, seus bens foram confiscados e em 1764 se declarou a ordem suprimida.
- Em 1767 a ordem foi expulsa da Espanha e de suas colônias, de Nápoles e em 1768 de Parma e Piacenza.
- Em 1773 o Papa Clemente XIV (1769-1774) suprimiu a ordem pelo breve Dominus Ac Redemptor Noster.
A maior parte dos Jesuítas expulsos foi acolhida na Rússia, até que em 1814, pela Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum o Papa Pio VII reorganizou e restituiu a ordem.
As outras ordens religiosas pouco ou nada sofreram porque não ofereciam perigo à hegemonia da burguesia, aliada da maioria das casas monárquicas da Europa.
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.