Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja

História Medieval: Veja curiosidades sobre o avanço da civilização

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PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA MEDIEVAL 01

Na vida de cada pessoa há diversidade de épocas, fases e períodos. Isso acontece também com os grupos e com a sociedade humana como um todo. Cada um desses períodos tem características próprias e bem definidas, mas todos contribuem para o fluir da história e da civilização.

Uma dificuldade inicial é a de situar quando começa e quando termina um determinado período, mas a periodização é importante em vista de uma síntese histórica. Ela permite que se faça a sistematização científica dos fatos e pessoas. Com essa periodização sobressai a concepção filosófica da história.

Para Santo Agostinho, o grande santo da Igreja, há um ritmo ou “Consentus” na história originário de vários fatores antitéticos que vão se sucedendo através dos séculos. O escritor Políbio, por sua vez, falou de “Anacyclesis”, Tácito falou de “orbes” e De Vico falou de “Corsi e Ricorsi”.

A alteração de culturas com suas mudanças e variações torna necessária a periodização favorecendo a compreensão de cada período individual.

Santo Agostinho nos falou de seis idades do mundo, São Jerônimo, por sua vez, falou de quatro impérios, Joaquim de Fiore propôs os três reinos divinos e João Batista Vico citou os três ciclos (teocrático, heroico e Humano). Neste processo de periodização Hegel propôs a Lei da Tese, antítese e síntese e o filósofo Auguste Comte propôs os três estados (teológico, metafísico e científico-positivista).

Humanistas dividem a história em períodos


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No século IV os humanistas e filólogos fizeram a divisão da história em três idades: Antiga (clássica), Idade Nova ou Moderna (restauração da cultura clássica) e Idade Média vista por eles como idade de trevas e decadência. Foram eles que também fizeram uma primeira organização dos séculos, começando com Jesus Cristo.

• Idade Antiga: Começava com Jesus Cristo indo até o ano 476, quando se deu a queda de Roma e do Império Romano do Ocidente.

• Idade Média: Começava em 476 indo até 1453, quando se deu a queda de Constantinopla e do Império Romano do Oriente.

• Idade Moderna: Ia de 1453 em diante até a época em que eles viviam.

Foi João André de Bussi que primeiro chamou o período intermediário como Idade Média (Médio Evo), em 1469. Daí em diante, muitos humanistas adotaram o nome de Médio Evo ou Idade Média. Quem introduziu esta expressão nos manuais de história foi o professor Cristóforo Keller (Cellarius) em sua história tripartida. Mas o difícil desde então é definir quais os acontecimentos mais decisivos para delimitar as idades.

Para nós da América Latina e do Brasil é mais complicado porque a divisão histórica feita pelos humanistas e adotada e completada desde então leva em conta só a história europeia. Sabemos que os outros grandes povos fora da Europa também tiveram a sua idade média que não corresponde, porém, com a história europeia.

Outro ponto que merece ser estudado e aprofundado diz respeito à razão pela qual eles utilizaram esta terminologia: Para os humanistas a Idade Média foi chamada de época de trevas ou tempo obscuro em que a cultura clássica foi praticamente destruída. Para os românticos a Idade passou a ser vista como uma época de valor e de beleza. Para nós hoje a Idade Média é vista como um tempo de mudança de cultura, de sistema político, econômico e social.

Significado da idade Média

Quando falamos em Idade Média, é quase impossível não se lembrar daquela antiga definição dos humanistas que costumava designar esse período histórico como sendo a “idade das trevas”. Este tipo de conceituação pretendia atrelar uma perspectiva negativista ao tempo medieval, como sendo uma experiência de pouco valor e que em nada pôde acrescer ao “desenvolvimento” dos homens.

Para entendermos tamanha depreciação, é necessário que investiguemos os responsáveis pela crítica à Idade Média. Foi durante o período do Renascimento, movimento intelectual do período moderno, que observamos a progressiva consolidação da visão histórica negativista. Para os renascentistas, o fervor religioso dos medievais representou um grave retrocesso para a ciência.

Seguindo esta linha de pensamento, a Idade Média foi colocada como oposto aos ditames e valores que dominaram a civilização greco-romana chamada de Antiguidade Clássica apresentada então como se fosse o modelo ideal de civilização. Não por acaso, os renascentistas se colocavam na posição de sujeitos que tiveram o trabalho de “sequenciar” o conjunto de traços culturais, estéticos e científicos que foram aprimorados na Antiguidade Clássica e “melancolicamente” abandonados entre os séculos V e XV.

Entretanto, um olhar mais atento do mundo medieval revela que estas considerações e esta visão estão bem distantes da realidade dos vários acontecimentos daquela época. Se estivesse vivendo nas “trevas”, como o homem medieval poderia ser o responsável pela criação das primeiras universidades? Essa é apenas uma primeira questão que pode colocar a Idade Média sob outra perspectiva, mais coerente e despida dos vários preconceitos perpetuados desde a Idade Moderna.

O desenvolvimento da cultura cristã, as heresias, as peculiaridades de um contexto político descentralizado, a percepção do tempo no interior dos feudos, as festas e torneios são alguns elementos que revelam que esse vasto período histórico é bem mais complexo e interessante.

Ainda há tempo para que estas e outras luzes permitam a reconstrução dos tempos medievais da forma justa que merecem.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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