Por Redação A12 Em Igreja Atualizada em 30 AGO 2017 - 09H35

Prescrever a disciplina para proscrever a indisciplina


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A escola não é uma ilha isolada e protegida de uma sociedade que tem na indisciplina o seu modelo. Ela é parte do todo. Dia após dia temos notícias das muitas consequências dos comportamentos viciosos. Indisciplina por todos os lados: corrupção, assassinatos, drogas, barbárie no trânsito, intolerância religiosa e tantos outros exemplos. Além disso, há o desencanto das pessoas de bem, por verem tanta impunidade e até a glamourização do arbitrário. O rumo parece perdido por causa da ausência da disciplina. A Palavra de Deus alerta: "E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e correção do Senhor" (Ef 6,4). O Catecismo da Igreja Católica (§1953) nos inspira e ensina o caminho: “A lei moral encontra em Cristo sua plenitude e sua unidade. Jesus Cristo em pessoa é o caminho da perfeição. Ele é o fim da lei, pois só ele ensina e dá a justiça de Deus. "Porque a finalidade da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê" (Rm 10,4)”.

A ausência da ética e o abandono dos códigos morais traduzem o caos retratado pela indisciplina, que de acordo com o dicionário da língua portuguesa se caracteriza como: “desordem ou anarquia que por sua vez significa: Sistema político e social em que se nega o princípio da autoridade”. Também ensina o Catecismo da Igreja Católica (§1950): “A lei moral é obra da Sabedoria divina. Pode-se definir a lei moral, no sentido bíblico, como uma instrução paterna, uma pedagogia divina. Ela prescreve ao homem os caminhos, as regras de comportamento que levam à felicidade prometida; proscreve os caminhos do mal, que desviam de Deus e de seu amor. E ao mesmo tempo firme em seus preceitos e amorosa em suas promessas”.

É preciso prescrever a disciplina para proscrever os caminhos do mal. A indisciplina rompe com os limites, abala os critérios comportamentais que regem a harmonia da convivência. Ao romper com esses limites, rompe também com a autoridade dos que devem educar, cuidar e controlar. São muitas condutas sociais viciosas que modelam os sujeitos sociais que habitam as instituições, inclusive a escola. O modelo de uma sociedade viciosa, longe dos comportamentos virtuosos, fez com que a escola conhecesse a indisciplina.

Estima-se que 35% do tempo do professor é tomado pela tentativa de controle da indisciplina. Em muitos casos, também o professor e demais sujeitos que habitam o universo escolar, carregam para dentro da escola comportamentos viciosos que potencializam o ambiente não harmonioso. A retomada da autoridade do professor passa, sem dúvida, pela valorização do seu papel e lugar, mas também pelo seu exemplo. O Catecismo da Igreja Católica (§1917) reflete a questão da autoridade: “Cabe aos que exercem a função de autoridade fortalecer os valores que atraem a confiança dos membros do grupo e os incitam a se colocar a serviço dos semelhantes. A participação começa pela educação e pela cultura. Podemos pensar com razão em depositar o futuro da humanidade nas mãos daqueles que são capazes de transmitir às gerações do amanhã, razões de viver e de esperar”.

Se no cotidiano o comportamento do sujeito é de indisciplina, seja ele quem for ou ocupe qualquer função, não é possível fazer da escola um ambiente de disciplina. A indisciplina escolar, neste sentido, é coerente fruto de uma sociedade em decadência. Uma sociedade que vem impondo o vazio da falta de sentido e de esperança às novas gerações.

Podemos identificar, entre outras, as consequências da ausência da Ética: a indisciplina escolar e a resposta a ela, proveniente das instituições; a violência urbana e os pequenos atos de corrupção cotidiana; o desrespeito pela coisa pública e o clima de impunidade generalizado. As supostas pequenas atitudes, que parecem banais, podem e devem ser consideradas como indisciplina, como por exemplo: quando deixamos a torneira aberta enquanto lavamos as mãos ou escovamos os dentes, quando poluímos o meio ambiente e quando maltratamos os animais. Quando deixamos de saudar o próximo com gentileza e presteza. Quando desrespeitamos as normas do trânsito, seja como pedestres ou como condutores. Quando nos rendemos a pagar menos por um serviço ilegal ou quando não devolvemos o troco que veio a mais. Quando propagamos o preconceito pelo desrespeito aos idosos, às crianças, às pessoas com necessidades especiais. Quando gastamos excessivamente com coisas supérfluas. Quando estamos na liderança e escolhemos ser ríspidos, grossos e presunçosos.

Não é fácil, obviamente, eliminar ou mesmo minimizar a indisciplina escolar, em todos os seus âmbitos. Mas tomar consciência de que, de algum modo, cada um de nós é responsável por ela, já é um passo inicial. A partir daí, uma atitude corajosa será necessária: propor um profundo diálogo com todos os agentes escolares, a fim de identificar os tipos de indisciplina, suas causas e estratégias conjuntas de enfrentamento, por mais duras que sejam. Mas que não esqueçamos a máxima do Doutor Angélico, São Tomás de Aquino: “Justiça, sem misericórdia, é crueldade. Misericórdia, sem justiça, leva à ruína”!

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* Joana Darc Venancio é Mestre em filosofia da educação e coordenadora da Pastoral de Educação de Itaguaí (RJ)

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