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“A Política Melhor”, segundo a Carta Encíclica 'Fratelli Tutti'

No texto, Francisco lembra qual a missão dos políticos na sociedade e sugere alguns questionamentos importantes na construção de uma política voltada para o bem comum.

Escrito por Marília Ribeiro

27 ABR 2022 - 10H50 (Atualizada em 27 ABR 2022 - 12H11)

Em ano de eleições, vale chamar atenção para a Carta Encíclica do Papa Francisco 'Fratelli Tutti', que tem um capítulo chamado “A Política Melhor”. Em 43 parágrafos, o capítulo cinco traz reflexões sobre uma política voltada para o serviço do bem comum.

O professor Élio Gasda, jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, é um estudioso da encíclica e explica que o bem comum significa “acesso a saúde, a educação, ao saneamento, aos hospitais, acesso a remédio e a água.

Ao estudar este capítulo da encíclica, o professor destaca as orientações do Papa, para que a política seja pensada a partir daqueles que não têm acesso aos bens comuns.

Reprodução/ Vatican News
Reprodução/ Vatican News


E para compreender um pouco a essência deste capítulo e
construir uma consciência política cristã, confira os pontos destacados pelo Papa Francisco no Capítulo cinco, com a explicação do professo Élio:

add O papa fala dos vários estilos e tipos de política, ressaltando que a política popular é aquela que promove o bem do povo e tem como caminho preferencial garantir a dignidade do pobre;

add E para que a política seja expressão de amor e caridade é necessário que as instituições, o direito, a técnica, as experiências, as contribuições profissionais, as análises científicas e os procedimentos administrativos precisam atuar no campo da caridade autêntica;

add A política que serve o mercado não resolve tudo. Segundo o Papa, “a fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado” e por isso, é necessáriovoltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre este pilar devem ser construídas as estruturas sociais alternativas de que precisamos”;

add A encíclica também comenta sobre a teoria do gotejamento, que é o conceito econômico que diz que a economia será mais forte para todos, se as condições melhorarem para as classes mais ricas. O neoliberalismo reproduz-se sempre igual a si mesmo, recorrendo à mágica teoria do «derrame» ou do «gotejamento» – sem a nomear – como única via para resolver os problemas sociais. Não se dá conta de que a suposta redistribuição não resolve a desigualdade, sendo, esta, fonte de novas formas de violência que ameaçam o tecido social. Por um lado, é indispensável uma política econômica ativa, visando «promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial», para ser possível aumentar os postos de trabalho em vez de os reduzir”;

add Na Carta, o Papa incentiva o questionamento sobre como tem sido as nossas práticas, indicando a caridade social como um caminho para buscar efetivamente o bem de todas as pessoas. “...um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no «campo da caridade mais ampla, a caridade política». Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social.”;

add Outro ponto importante é o que o Papa chama de “amor político”, e isso significa o “reconhecer todo o ser humano como um irmão ou uma irmã e procurar uma amizade social que integre a todos não são meras utopias.”;

add Professo Élio Gasda ressalta que neste capítulo, o Pontífice apresenta a sua visão de caridade, deixando claro que a caridade e o amor só vão se concretizar na política, quando a mesma não estiver submetida à economia. “Primeiro é necessário libertar a política do controle e do domínio dos donos da economia, ai é possível pensar um amor político”, disse o professor.

add No texto Francisco lembra qual a missão dos políticos na sociedade. “Os políticos são chamados a «cuidar da fragilidade, da fragilidade dos povos e das pessoas. Cuidar da fragilidade quer dizer força e ternura, luta e fecundidade, no meio dum modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à “cultura do descarte” (…); significa assumir o presente na sua situação mais marginal e angustiante e ser capaz de ungi-lo de dignidade»;

add Francisco também sublinha que o bom político dá o primeiro passo para ouvir as diferentes vozes. “Vendo que todo o tipo de intolerância fundamentalista danifica as relações entre pessoas, grupos e povos, comprometamo-nos a viver e ensinar o valor do respeito, o amor capaz de aceitar as várias diferenças, a prioridade da dignidade de todo o ser humano sobre quaisquer ideias, sentimentos, atividades e até pecados que possa ter”;

add O Papa reforça que “a política é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática. Tudo isto semeia apenas divisão, inimizade e um ceticismo desolador incapaz de apelar para um projeto comum”;

add E para finalizar, ele propõe algumas perguntas que o verdadeiro político deve se fazer: “Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?”.Leia MaisFratelli Tutti: O apelo do Santo de Assis8 pontos para entender a "Fratelli Tutti", nova encíclica do Papa Francisco

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