Leia MaisPratos vazios em mesas cheias: a grave situação de fome no BrasilA tragédia da fome no BrasilEm um país onde mais da metade da população vive em insegurança alimentar, seja grau leve, moderado ou grave (dados divulgados pela Agência Senado), o combate a esta realidade deveria ser mais debatido e levado em pauta para conscientização.
A fome é uma necessidade básica e saber que nossos semelhantes a enfrentam, em meio a um mundo cheio de alimentos em prateleiras, estantes e estoques, mostra o quanto falta humanidade nas ações humanas, pois mais estranho que isso possa soar.
Pensando neste tema tão relevante para a sociedade, bem como para os cristãos, visto que a vida terrena de Cristo nos deixou como ensinamento concreto a necessidade de ajudarmos os nossos irmãos perante dificuldades, o Portal A12 conversou com a doutora Tamires Ribeiro da Silva Vieira, que atua com Medicina Esportiva.
Confira a entrevista completa abaixo:
Como a fome afeta o funcionamento do nosso corpo?
O nosso corpo, para funcionar adequadamente, utiliza a glicose (açúcares circulantes) para seu funcionamento. Quando demoramos para fazer refeições, nosso corpo começa a utilizar nossas reservas de carboidrato tanto dos músculos quanto do fígado para manter os níveis de glicose normais.
Porém se o tempo se estender muito, o nosso corpo começa a buscar novas fontes de energia, como o tecido adiposo (gordura) e os músculos, um fenômeno conhecido como gliconeogênese, que significa: mecanismo de produzir glicose através de fontes diferentes.
A fome pode afetar também o funcionamento do nosso cérebro?
Quando os estoques de carboidrato estão prejudicados, o funcionamento do cérebro também fica, pois este tem em seu funcionamento usual a glicose. Na falta da glicose no corpo, o cérebro precisa se adaptar e começa a utilizar dos novos produtos, como os corpos cetônicos, os quais em excesso podem ser prejudiciais ao organismo.
Com o cérebro prejudicado, ele não consegue regular o corpo adequadamente, e com isso a pessoa pode apresentar algumas alterações, como o raciocínio lentificado e/ou confuso, apresentar tonturas, desmaios e até entrar em coma.
No caso de uma pessoa que passou fome na infância, ela carregará consigo dificuldades em seu desenvolvimento?
Dependendo do tempo que essa pessoa ficou subnutrida na infância, ela poderá apresentar alterações de desenvolvimento físico e mental que o acompanharão para o restante da vida, como baixa estatura, raquitismo (ossos com formações ruins), comprometimento de aprendizagem até baixa imunidade, cursando com infecções recorrentes.
Além da fome, uma questão tão preocupante quanto, é a insegurança alimentar. Quais os seus impactos na sociedade e como podemos colaborar com tal situação?
A insegurança alimentar é quando a pessoa não tem mais a qualidade e/ou quantidade adequada de alimentos esperada para sua alimentação diária. A presença de insegurança alimentar num país como o Brasil é muito difícil de aceitar, já que é um dos maiores exportadores de comida do mundo.
Acho que para reduzirmos esse cenário, podemos criar ações públicas e privadas com o intuito de reduzir desperdício de alimentos dentro de casa, realizar doação de frutas e verduras que são desprezadas em supermercados ou mercados devido à sua aparência, cursos gratuitos de como conseguir aproveitar todas as partes dos alimentos e como realizar o plantio domiciliar, incentivando essa população a garantir o próprio sustento…
Dessa forma estaremos ajudando as pessoas, e deixando-as menos dependentes de ações governamentais.
CF 2023
A Campanha da Fraternidade 2023 tem como tema “Fraternidade e Fome” E lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). Esta é a terceira Campanha da Fraternidade que aborda o tema, e não é por acaso. A situação de fome do Brasil sempre foi preocupante, mas nos últimos anos ela se agravou consideravelmente, como mostram os dados compartilhados acima.
Ao explicar sobre a CF 2023, Pe. Ferdinando contextualiza sobre a passagem bíblica utilizada como lema da campanha:
“A Campanha da Fraternidade de 2023 vai nos fazer refletir sobre a realidade da fome não só no mundo, mas também entre nós aqui no Brasil. Por isso, a Campanha da Fraternidade vem nos lembrar a frase do Evangelho de Mateus lá no capítulo 14, versículo 16, que nos diz: dai-lhes vós mesmos de comer. É aquele momento em que Jesus teve compaixão diante da multidão com fome e Ele vai pedir para que os discípulos então façam isso, arrumem o alimento necessário para aquele povo que está faminto.
Jesus bem sabia que os discípulos não iriam conseguir, porque nós partimos do sistema, não da partilha, mas da economia, do ter para possuir, para repartir, e por isso Jesus vai multiplicar os pães (...) aí então toda multidão poderá se alimentar adequadamente", explica o Missionário Redentorista.
Que possamos levar à frente esta luta em busca de consciência alimentar e que possamos colaborar com a realidade de quem mais precisa.
Faça a sua parte, movimente sua comunidade, ajude quem passa fome ao seu lado, contribua com campanhas e iniciativas. Não deixe o seu irmão enfrentar a dor de passar por uma situação que pode comprometer todo o seu futuro!
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