Os termos "sinodalidade" e "sinodal" derivam da antiga e constante prática eclesial de se reunir em sínodo, para dialogar, discernir e decidir. Sinodalidade é a caminhada conjunta dos cristãos com Cristo e em direção ao Reino de Deus, em união com toda a humanidade; orientada para a missão, implica reunir-se em assembleia nos diferentes níveis da vida eclesial, ouvir uns aos outros, dialogar, discernir em comunidade, formar consenso como expressão da presença de Cristo no Espírito e tomar uma decisão em corresponsabilidade diferenciada.
Nessa linha, entendemos melhor o que significa o fato de a sinodalidade ser uma dimensão constitutiva da Igreja. Falar de sinodalidade significa falar no modo de viver e trabalhar da Igreja, onde o Povo de Deus se manifesta e realiza concretamente o seu ser comunhão no 'caminhar juntos', na reunião em assembleia e na participação ativa de todos os seus membros em sua missão evangelizadora.
Hoje convidamos você a ler este texto com reflexões propostas pelo Pe. Carlinhos Melo, da Arquidiocese de Aparecida, e ao final, refletir pontos-chave para compreender a sinodalidade como ação real em sua vivência como comunidade.
O livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta para nós o caminho da Igreja, onde, juntamente com os santos Evangelhos que apresentam o caminho de Jesus, formam o caminho da salvação.
Este livro foi escrito para as comunidades que estavam enfrentando uma série de questões, que falaremos a seguir: eram comunidades formadas por judeus convertidos e, não judeus, ou também chamados de prosélitos, que eram pagãos que praticavam parcialmente a religião judaica adorando Deus de Israel. Dessa composição acabaram nascendo quatro grandes problemas:
1 - Os judeus não costumavam comer com pagãos, pois isso acarretava impureza e mistura, onde se colocava em perigo a identidade judaica estrita. É possível Ser Cristão sem a comunhão de mesa e de vida?
2 - Depois de 70 d.C, os judeus procuravam firmar rigidamente a sua identidade, forçando os judeus cristãos a tomar uma decisão, visto que os convertidos ao cristianismo colocavam em risco a identidade judaica estrita. Seria possível Ser Cristão e continuar sendo judeu?
3 - Saindo da Palestina, o Evangelho começou a atrair também pessoas que pertenciam à sociedade grega e romana com elevado grau de cultura e, por vezes, funções importantes dentro do império romano. Seria possível Ser Cristão e, ao mesmo tempo, pertencer ao império romano e ser fiel a ele?
4 - E finalmente havia muitos ricos que foram também atraídos pelo Evangelho e nas comunidades de Lucas e de Paulo surgiram muitos problemas, dentre eles como conciliar a boa notícia para os pobres com a vida e os costumes dos novos convertidos? E isso se tornou na obra de Lucas um problema fundamental desde o tempo de Jesus, mas principalmente para as comunidades.
Sabemos que o Evangelho é para todos, mas as exigências que ele traz são diferentes segundo a realidade de cada um. Ser igual para todos dentro de um mundo cheio de desigualdade é uma forma também de ser injusto e sabemos que em toda a Palavra de Deus a justiça é apresentada como base do projeto do Reino de Deus.
O que vemos aqui são os problemas encontrados no cristianismo nascente e que servem também de perspectiva para os problemas que enfrentamos nas comunidades atuais.
O capítulo 2, versículos 42 a 47 do livro dos Atos dos Apóstolos, talvez seja para nós um estágio inicial de vivência de sinodalidade experimentado pelas primeiras comunidades, apresentado como um primeiro projeto de Comunidade Cristã.
A partir de At 2, 42 encontramos os fundamentos da vida da comunidade, como uma primeira experiência concreta de sinodalidade e talvez uma solução ou um caminho de solução para os problemas enfrentados: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações”.
O ensinamento dos Apóstolos consistia na lembrança dos atos e palavras de Jesus e a releitura de toda a Palavra de Deus na perspectiva de Jesus. Os Evangelhos refletem a catequese ou a educação da comunidade para a vida segundo a fé e segundo compromisso com Jesus, mostrando para nós que o primeiro fator da vida da comunidade é escuta da palavra. É a palavra de Jesus e sobre Jesus que vai indicando como a comunidade deve viver de forma Sinodal e o que ela deve fazer para que a sinodalidade aconteça mais amplamente.
A comunhão fraterna expressa a união dos cristãos baseada na mesma fé e no mesmo projeto de vida, sendo um compromisso com Jesus que produz uma unidade espiritual, unidade é essa que se traduz externa e concretamente pela solidariedade material: “Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um”. (At 2,44-45)
A palavra, portanto, deve suscitar transformações radicais na comunidade onde, através da paternidade, todos podem usufruir da liberdade e, através da partilha, todos podem usufruir igualitariamente dos bens da vida.
A comunhão cristã se alicerça na solidariedade que, a partir da união na fé, procura destruir todas as discriminações e diferenças que impedem os mais necessitados de participar na vida política e econômica da comunidade. É um estilo de política onde tudo é posto em comum e onde o poder e a riqueza se desfazem em fraternidade e partilha quando tudo está ao alcance de todos. É uma utopia? Sim, mas não quer dizer que é impossível que aconteça.
“Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração”
At 2, 46
Esse versículo se refere com certeza à ceia eucarística. Nas primeiras comunidades cristãs as celebrações eucarísticas eram realizadas nas casas, onde cada um trazia um pouco do alimento de sua casa e logo após a escuta da Palavra e a meditação eles acabavam sentando juntos fazendo uma grande partilha de alimento.
A prática da Eucaristia em ambiente doméstico vai salientar dois aspectos unidos na mesma celebração: a participação na memória da fé, no gesto de amor de Jesus que leva a partilhar e o clima de comunhão social.
Como a comunidade não se reunia na casa dos pobres que eram muito pequenas, as pessoas se reuniam nas casas dos ricos que assim entravam em contato e comunhão com os pobres, e os pobres aqui nos quais Lucas se refere eram os escravos, os desempregados, os agricultores expulsos dos campos, os trabalhadores diaristas e os meeiros. Ali a Eucaristia se tornava então um anúncio Profético de uma humanidade reconciliada, priorizando o dom de amor e um gesto de partida concreto, a refeição comum.
“Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo”
At 2, 47
A novidade cristã era que as celebrações eram feitas nas casas e não mais nos templos, expressando que, a partir desse momento, o lugar de experiência de Jesus é, portanto, na vida comum com seus problemas e conflitos.
O povo de fora estimava muito a comunidade cristã pelo modo de ser e de viver dessa comunidade, bem como pelos prodígios e sinais realizados pelos apóstolos. O que se via claramente é que a comunidade era fermento de transformação para o bem de todos. É importante salientar que a primeira comunidade cristã não era um clube de pessoas perfeitas e fechadas em si mesmas, mas a cada dia o Senhor acrescentava essa comunidade e outras pessoas que iam aceitando a salvação.
Finalmente, olhando para a Virgem Maria, Mãe de Cristo, da Igreja e da humanidade, vemos os traços de uma Igreja sinodal, missionária e misericordiosa, brilhando em plena luz. Ela é, de fato, a figura da Igreja que escuta, reza, medita, dialoga, acompanha, discerne, decide e age. Dela aprendemos a arte de escutar, a atenção à vontade de Deus, a obediência à Sua Palavra, a capacidade de captar as necessidades dos pobres, a coragem de partir, o amor que ajuda, o canto de louvor e a exultação no Espírito.
Olhando para a nossa comunidade paroquial, podemos dizer que:
arrow_forward A nossa catequese de fato educa o povo para viver a sinodalidade em família?
arrow_forward Nossa comunhão de fé tem resultados concretos de partilha que transformam a vida dos mais necessitados?
arrow_forward A Eucaristia que celebramos de fato expressa concretamente, suscitando relações de partilha?
arrow_forward Nossa comunidade reza de fato o que ela vive com suas conquistas e fracassos, reza as lutas e as esperanças ou somente palavras repetitivas e vazias de realidade?
arrow_forward Nossa comunidade é missionária, estimada pelos outros, e aberta para acolher novos irmãos e preocupada em repatriar os que dela um dia pertenceram?
arrow_forward Assim como Maria, a nossa presença e a nossa palavra dentro da comunidade provocam unidade ou divisão?
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