Por Carmen Novoa Silva Em Palavra do Associado Atualizada em 15 OUT 2018 - 12H01

Evangelho da Imaculada Aparecida

Para os filhos seus

Considerem este um evangelho de luz e de bem-querer para os dias de hoje, quando a humanidade atravessa sua grande crise de fé, de moral e de esperança; quando muitos, com crueldade e insensatez, são capazes de arruinar o esforço construtivo de gerações e gerações que lutaram pela melhoria da natureza humana; quando se abandona a maior verdade, o sentimento mais sagrado, o dever, e os ideais mais sublimes por uma vaidade, um capricho, um ódio, uma vingança ou trinta moedas de prata.

Thiago Leon
Thiago Leon


1 – Considerem, pois, os sob a minha guarda, que todo homem aqui nascido tem direito a uma existência digna, com as condições sociais possibilitando a tão ansiada paz coletiva, embora saiba da sobriedade, da fortaleza e da resistência a toda a classe de sofrimentos e adversidades que se fizeram proverbiais na história do povo.

No entanto, para uma fruta chegar à plenitude de seu sabor, é necessário que tenha sido ácida muito antes de se tornar madura.

2 - Todos têm o direito sagrado à alimentação. Aqueles com pão à mesa, usem desse espírito de fraternidade, que tem como artigo de fé o amor em seu mais puro sentido; amor, essa palavra imensamente degradada, inúmeras vezes prostituída, mas seguindo sempre como o “alfa" e “ômega“ da vida humana. Com isso, será conseguido ter sempre cinco pães de cevada e dois peixes, para que, em nome da generosidade, sejam possíveis milagres...

3 - Considerem que todos os meus têm o direito a uma infância feliz. E ao menor órfão e abandonado, seja dada a visão de uma doce Palestina, sem Herodes, sem espadas sanguinárias e sem crianças cortadas em dois.

4 - Que os analfabetos, essa multidão vivendo nas sombras, tenham o direito à escola, pois cabe aos doutos a doação do saber, como forma de não-egoísmo. A eles será reclamado o viver como se fora aquela chama ardente que, ao acender a luz do semelhante, jamais diminui o seu próprio reluzir.

5 - É exigido das classes governantes o direito a moradias decentes. Não mais em charcos e na imundície, mas com uma janela aberta para o sol, pássaros e jardim.

6 - Todos, principalmente os mais favorecidos economicamente, têm o dever de olhar o mal cara a cara, de ver o pranto que o rodeia, de tomar conhecimento dos abismos, de sua profundidade e de seu terrível poder de sucção. Somente assim compreenderão porque hoje levantaram tantos muros, tantas grades e fugiram das janelas os bem-te-vis de todas as manhãs. Somente assim entenderão porque hoje nas ruas foge-se de estranhos, julgando serem corvos até os pássaros mais inofensivos e bem-intencionados.

7 - Acima de tudo, tem-se o dever de crer na honestidade, na solidariedade, na grandeza dos simples, num sorriso, num beijo fraterno, pois ainda existem estrelas! Porque ocupados e deslumbrados com os deuses nascentes, seduzidos pelo exagerado consumismo, pelo aparato da alta tecnologia, pelo luxo de vitrines, essas falsas constelações de neon - perdeu-se o hábito, o singelo hábito de levantar as cabeças para ver estrelas...

8 - Todos, e em especial tu, político, tens o dever de deixar o resplendor das mansões e estar presente, e estender as mãos naqueles bairros malditos onde campeiam a fome, a miséria, as doenças e o desemprego. E para fugir dali, daquele subúrbio asqueroso onde nunca vais depois de eleito (e que nada mais é que uma variante “democrática” dos guetos nazistas), darias ouro para que tuas mãos estivessem a quilômetros de tua cabeça e tua consciência.

9 - É dever supremo respeitar todos aqueles que sofrem discriminações de padrões históricos e repudiar a violência de qualquer espécie, pois existem lugares onde se queimam viúvas e se matam as meninas ao nascer, pelo crime de serem mulheres; existem no planeta cento e quarenta mil pessoas que, diariamente, morrem de fome; os que têm frio e tossem e cospem sangue; os que buscam no lixo ossos, cascas e piedade. E (...) o homem retroage à selvageria, tirando e elegendo como seu Deus aquela divindade faminta de sangue, vítimas e holocaustos, advinda de alguma perdida civilização asteca.

10 - Sobretudo, é dever daquele sob minha proteção, setenta vezes sete bendizer a esperança como sorriso de fé, pois a dor existe e as chagas também. Bendigo os que se levantam e caminham apesar das feridas, pois a esperança saberá, ao terceiro dia, sobrepor-se às desgraças, dando lugar ao resplendor da vitória, ao romper aquela pesada pedra que mantemos sobre nossos sepulcros interiores.

*Carmen Novoa Silva é Teóloga e membro da Academia Amazonense de Letras e da Academia Marial de Aparecida - SP
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