Homilias

Santa Maria Sempre Virgem de Guadalupe (Coatlaxopeuh)

Escrito por Academia Marial

12 DEZ 2023 - 09H00 (Atualizada em 24 JAN 2024 - 17H06)

“Não estou eu aqui, que sou tua Mãe!”

(12 de Dezembro – Padroeira da América Latina)

Leituras: Gl 4,4-7 / Lc 1,39-47

I. “Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou em seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.” Celebramos hoje Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe, esse foi o nome que a Virgem Maria revelou ao tio de Juan Diego, o nome que ela queria ser chamada. A aparição de Maria no México possui uma grande gama de sinais e significados; um milagre que podemos dizer que é o mais extraordinário que Deus realizou através da Virgem Santíssima. A aparição aconteceu em 1531, a um índio asteca de nome Juan Diego, que indo em direção a Cidade do México tem o encontro com a Mãe de Deus, que pede a ele que vá ao bispo pedir que construísse naquele local uma Igreja dedicada a ela, para que muitas outras pessoas pudessem ir ao encontro dela para pedir a sua intercessão, para que assim ela pudesse junto ao seu Filho alcançar as graças necessárias a eles. Juan Diego vai ao Bispo e por algumas vezes e ele sem acreditar pede um sinal a Juan Diego, até que certo dia, seu tio ficara doente e lhe pede para que vá buscar na cidade um sacerdote que lhe ouvisse a confissão e lhe desse a unção dos enfermos, por isso Juan Diego não passa pelo caminho que costumara passar, caminho que havia encontrado com a Virgem Santa, e passando por outro lugar, para fugir daquele encontro, ela lhe aparece naquele caminho, pedindo que fosse no alto do monte onde teria lá o sinal que o bispo pedira, e indo aonde a Mãe de Deus havia dito, encontra as rosas de Castela que brotam fora do tempo, pois era inverno, e recolhendo aquelas rosas em seu poncho (manto), leva até a Senhora, e ela lhe pede para que levasse ao bispo. Chegando ao bispo, ao abrir seu manto, as rosas caem no chão, e o mais impressionante acontece, no manto estava impresso a imagem daquela que aparecera a Juan Diego e ao seu tio, o curando de sua enfermidade. A Virgem de Guadalupe aparece naquelas terras como um grande sinal de unidade, pois aquela que disse a Juan Diego: “Não estou eu aqui, que sou tua Mãe!”, foi aquela que uniu dois povos, dois irmãos que guerreavam, num só povo adorador de Cristo Jesus, pelo auxílio maternal da daquela que elegeu-nos como filhos.

Reprodução/ACN
Reprodução/ACN

II. A aparição de Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe, traz em si muitos símbolos que se comunicam a todos aqueles que se aproximam dela. Essa aparição que aconteceu no México em meio o povo asteca, traz uma profunda simbologia que respondem os anseios de uma cultura e de uma crença, traz também uma profunda sintonia entre a crença antiquíssima dos astecas e a cultura cristã, e podemos dizer que aquelas terras não foram os missionários que evangelizaram e catequizaram, mas foi a própria Mãe de Deus que veio aos filhos degredados de Eva para reconduzi-los à verdadeira Fé. Sabemos que após a aparição Virgem Santíssima, houve grandes celebrações de batismos em massa. A aparição da Virgem de Guadalupe é uma resposta a uma crença antiga, que remonta a fundação da Cidade do México, que corresponde a cidade antiga de Tenochtitán (1325 d.C), que era o centro do império Asteca. Quando os Astecas chegaram àquela região, existia uma profecia antiga, em que eles deveria construir a cidade no lugar onde eles encontrassem uma Águia sobre um cacto segurando uma serpente, lugar esse que era uma das ilhas do lago Texcoco, que futuramente seria aterrado e se tornaria um grande planalto, onde seria construída a Cidade do México. Daí provavelmente vem o nome que a Virgem Maria desejou ser chamada: Coatlaxupeuh, em língua náhuati, que vulgarmente foi traduzido para o espanhol: Guadalupe (palavra de origem árabe: wadallobb, que significa Rio do Lobo – lugar situado na Espanha), lugar da Espanha que havia um santuário dedicado a Nossa Senhora de Guadalupe. Pela fonética das palavras serem parecidas, os espanhóis começaram a chamar a Virgem Santíssima que aparecera à Juan Diego de Guadalupe. A palavra náhuati Coatlaxupeuh significa: ‘Aquela que esmaga a serpente’. Com isso, vê-se como que a profecia antiga é respondida e realizada na Virgem Maria, aquela que esmaga a serpente. Não só o nome da Virgem possui um significado, mas também o nome do índio Juan Diego que em língua náhuati chamava-se Cuauhtlatoatzin, que significa: ‘Aquele que fala com a Águia’. Com isso, vemos também aquilo que Maria Santíssima disse que ele seria, um Embaixador, missão de cada um de nós, que precisamos ser aqueles que falam com a Águia que esmaga a serpente.

III. A imagem impressa no manto de Juan Diego é um verdadeiro tratado de Mariologia que traz nela, em sua simbologia todos os dogmas mariano: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada Conceição e a Assunção. A imagem trás os símbolos da cultura Asteca com significados profundo cristãos. O primeiro sinal que nos remete à Maternidade Divina é um pequena flor de quatro pétalas que só aparece uma única flor dessa na túnica na altura do ventre, e essa flor de quatro pétalas possuía para os Astecas um grande simbolismo, significando o lugar aonde Deus habita. Essa flor está logo abaixo de um laço que era um sinal asteca de que a mulher estava grávida. Ela está grávida, mas não é de um qualquer, mas sim de Deus. Depois vemos um simbolismo dos cabelos soltos, costume asteca que simbolizava a virgindade; assim se ela é Virgem e estava grávida, manifesta então uma concepção virginal e divina, remetendo a Virgindade Perpétua, e Ela mesma diz ao tio de Juan Diego que ela era Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe. A Imaculada Conceição é simbolizada por ela está revestida de Sol, e para os astecas o sol era símbolo da maior divindade. Ela não é o sol, mas está revestida dele, da Divindade. Por fim, o manto e estrelado e a lua debaixo dos pés, manifestam a Assunção de Maria ao Céu, de corpo e alma. Maria está revestida do Céu, significa que está dentro do Céu, sob o tempo, símbolo da lua na antiguidade, que servia para marcar o tempo. A imagem sagrada da Virgem de Guadalupe é um grande tratado mariológico, por isso, que nela resume-se tudo que precisamos conhecer e acreditar sobre a Mãe de Deus.

IV. Na imagem milagrosa de Santa Maria sempre virgem de Guadalupe, transmite também a realeza da Mãe de Deus, aquela que é Rainha do Céu e da terra. As vestes que Maria se apresenta ao índio são veste da realeza. Maria se apresenta como Tonantzin, termo em náhuati que significa: To = Nossa; nantli = Mãe; tzintli = diminutivo reverencial: ‘Nossa Venerável Mãe (ou Mãezinha)’. Termo que era usado pelos Astecas para designar uma divindade feminina, por isso que logo quando os índios contemplaram aquela imagem milagrosa gravada no manto, eles relacionaram logo à figura da sua antiga devoção, e encontraram na Virgem Maria a sua Venerável Mãe. As vestes com que a Virgem se apresenta, são vestes com cores da realeza; a túnica na cor rosada com flores diversas, e um grupo de flores especifica que nasce das extremidades laterais da túnica e confluem para o centro da túnica, simbolizando os muitos povos que seriam reunidos por essa Mãe e Rainha, vemos também o manto azul turquesa ou azul maia; que era uma cor usada somente pelos imperadores. O manto cravado de estrelas mostra também que essa realeza não é exercida só na terra, mas também no Céu. Maria não vem como uma deusa, mas sim, se apresenta como Mãe, nossa venerável Mãe; Mãe de Deus e nossa Mãe. Um outro sinal da realeza é o Anjo que a sustenta, segurando a sua túnica, exercendo uma função de Trono, missão própria de um coro celeste. A Virgem Maria está sobre os Anjos, e misteriosamente imersa em Deus, revestida de sol, e ao lado do Rei do universo que venceu a morte pela Cruz e Reina sobre o altar da Cruz, assim a Mãe do Rei trás um pequeno e simples colar em seu pescoço com um pequeno broche com uma cruz, mostrando que o seu Reinado passou pela Cruz, e que ela assim também participou da obra salvífica do Filho de Deus, não por libertação, pois senão iconograficamente a cruz estaria na parte externa do manto, mas está na parte interna mostrando que ela foi preservada. Tonantzin é o seu título, que manifesta a mais profunda certeza de nosso coração, que ela é a Mãe da nova criação em Cristo, a nossa venerável Mãe, a Mãe dos verdadeiros filhos de Deus.

V. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou em seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre.” O Sagrado Evangelho expressa bem o grande mistério de Guadalupe, pois assim como Isabel ficou cheia do Espírito Santo com a saudação de Maria, também aquele povo ficou cheios do Espírito Santo, e acolheram a Mãe do Senhor como a sua própria Mãe, pois ela trazia em seu ventre o próprio Deus. A Imagem da Virgem de Guadalupe é uma perfeita imagem de Pentecostes, pois ela dialogou e continua dialogando com todas as realidades, com os índios e colonizadores, com os pagãos e os crentes, com os simples e os cientistas. O próprio Deus deu a Virgem de Guadalupe o dom de línguas, o dom de se comunicar a cada um, onde cada um entende em sua própria língua. Ela vem nos visitar, e como diz ao próprio Juan Diego, também nos diz: ‘Não estou eu aqui, que sou a tua Mãe?’

VI. “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.” A celebração de hoje engrandece o Senhor, não que ele precise, mas porque o poder dEle mesmo, realizou essa grande obra salvífica em nosso meio por intermédio da Virgem de Guadalupe. E nosso espírito se alegrará se acolhermos Àquele que ela nos vem anunciar. O testemunho de Maria engrandece a Deus, e por isso que o seu espírito se alegra, pois em Deus ela adquire a plenitude de seu ser, a alegria eterna, e isso é expresso na imagem da Virgem Santíssima: em suas mãos postas, em constante oração e diálogo com Deus, e em seu rosto sereno, que expressa fé e confiança, sinal de uma alegria, não eufórica, mas do próprio Ser. Eis o exemplo que havemos de seguir. E que a Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe nos conduza sempre ao Céu pela vida de oração e a confiança na Fé.

Ave! Nossa Venerável Mãe. Ave! Águia que esmaga a serpente. Ave! Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe.

Que possamos ser como Juan Diego, aqueles que falam com a Águia, para que dela recebamos as altas contemplações, e sejamos verdadeiros embaixadores do Verbo que se fez carne.

Pe. Rafael Augusto Linhares Pinto

Diocese de Petrópolis
Especialista em Mariologia


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