Por Ir. José Mauro Maciel, C.Ss.R. Em Artigos Atualizada em 15 JUN 2020 - 11H45

São José de Anchieta – SJ (1534-1597) – Apóstolo do Brasil e Patrono da Academia Marial

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Na Ilha das Canárias, cidade de Laguna, nasceu José de Anchieta no dia 19 de março e foi batizado dezenove dias depois, em 7 de abril de 1534. Filho de João de Anchieta e Mência Diaz de Clarijo y Llarena. José foi o terceiro, dentre os dez filhos do casal.

Realizou os seus estudos primários na terra natal e depois continuou os mesmos em Coimbra. Onde conheceu os jesuítas, os quais muito lhe chamavam a atenção devido a seriedade e a disciplina. Pediu, foi aceito e ingressou na Ordem, em 1 de maio de 1551.

Anchieta soube entender a “loucura” do amor de Deus, através do mistério de Cristo. Por isso, ouviu o seu chamado, sentiu o seu apelo, se preparou (profissional, acadêmica e espiritualmente) e partiu em missão; nada o pode conter, nem as intempéries, o diferente e o assustador. O otimismo e a sagacidade dos santos não são corrompidos pelas banalidades nem pelos desafios e sacrifícios.

José de Anchieta e seus confrades jesuítas saíram de Lisboa em 8 de maio, depois de penosa travessia e com naufrágio em Abrolhos, a 13 de julho chegavam em Salvador-BA. Depois, a mesma equipe aportava em S. Vicente-SP, no dia 24 de setembro de 1553. Nesta época, a Vila de S. Vicente se reerguia sob a proteção de Nossa Senhora da Praia, defronte uma praça onde se ostentava uma grande Cruz. Havia 12 anos da morte do primeiro pároco no Brasil, Pe. Gonçalo Monteiro (+1541), e a paróquia continuava vacante e os fregueses abandonados.

O missionário, desde quando chegou, passou a observar a tudo e a todos. Meditava, planejava e escrevia seus poemas na areia da praia, com o intuito de memorizá-los. Assim também fazia para aprender a língua dos nativos e se certificar dos valores culturais. Por conseguinte, percebeu que os indígenas eram assíduos e apegados em suas convicções religiosas. Disciplinados, obedientes e aprendiam sem dificuldades. Gostavam de contos e causos. Divertiam-se com batuques e músicas flautadas, e com as imitações de personagens e animais. Este viés cultural serviu como recurso pedagógico ao teatro por Anchieta.

 

Disciplinados, obedientes e aprendiam sem dificuldades. 

Do planalto de Piratininga, em 1554, escrevia ao provincial de Portugal dizendo que na Capitania de S. Vicente residiam os padres: Manoel da Nóbrega, Manoel de Paiva, Francisco Pires, Vicente Rodrigues e Afonso Braz; os Irmãos: Diogo Jácome, Gregório Serrão e ele, José de Anchieta. E, no Brasil, foram aceitos os Irs. Antonio Rodrigues, Manoel de Chaves, Fabiano e Antonio (intérpretes), Mateus Nogueira (ferreiro), João de Souza e Gonçalo Antonio.  Informava ainda, que os nativos viviam em condições pobres e se abrigavam em casebres de pau-a-pique, pintadas de branco (tabatinga) e cobertas com folhas de palmeiras. Estes, à noite, se enchiam da fumaça dos cachimbos. Poucos eram os utensílios de barro, de madeira, de cuia e de taquaruçu. Os jacás de taquara ou cipó. As redes de imbira ou juta. No entanto, nos campos de Piratininga as terras eram férteis, produziam muitos mantimentos, inclusive, uvas, romãs e outras frutas de Portugal. O clima era saudável. Havia muitas rosas e lírios brancos.



Aos índios também soavam como grande novidade, despertando as curiosidades, as ferramentas de metal (facas, facões, foices, machados, enxós, serrotes, martelos e outras). Igualmente, os animais: vacas, cavalos, muares, cachorros e galinhas. Assim, houve possibilidades de novos aprendizados, de ambas as partes, e somas de conhecimentos. A matéria prima do local, os conhecimentos indígenas com relação às madeiras de lei e suas técnicas, a  utilização das ferramentas européias e suas técnicas, resultaram em novas formas de construções e confecções nos trópicos. Aos indígenas, balizados na manufatura com argila para fazer seus potes, panelas e urnas funerárias; foi apenas um passo para fabricar telhas, manilhas, pratos e jarras, por exemplo.

Após conhecer a língua e os costumes indígenas, seus valores humanos e culturais, começaram a alfabetização e a catequese. A pedagogia catequética partia basicamente das virtudes naturais (cardeais), depois as religiosas (teologais), e na acadêmica faziam uso da própria cultura. Em ambos os casos, o ensino era transmitido em bilíngue: português e tupi-guarani. As pequenas apresentações e encenações eram de grande valia. Anchieta e seus companheiros ensinavam a ler e a escrever, compunham hinos e cânticos, faziam cópias e distribuíam aos alunos. Escreviam autos de personagens bíblicos e dos santos.

Na região de Piratininga, Anchieta fundou as Aldeias de: Pinheiros, Santo Amaro, Carapicuíba, São Miguel, Geribatiba, Guarapiranga, Guarulhos e Mairanhay (Mairinque-SP). Depois de dez anos de muitos e variados trabalhos, se deslocou para Ubatuba, onde foi pacificar Tamoios X Tupinambás, acordo selado em 14 de setembro de 1563, na festa da Exaltação da Santa Cruz. Anchieta esteve diversas  vezes em Ubatuba, Rio de Janeiro, São Sebastião, Caraguatatuba, Ilha Bela, Bertioga e outras. No ano de 1565, esteve na Bahia, onde foi ordenado presbítero, e logo continuou em missão. No sexênio 1569-1575, assumiu o reitorado da Casa e Colégio de S. Vicente.  Em 1578, tornou-se provincial dos jesuítas no Brasil, quando aumentou suas viagens devido à coordenação dos religiosos. Em 1579, esteve na fundação de Reritiba-ES. Por mar, da Bahia ao litoral Norte de São Paulo, fez muitas viagens e visitas nas Aldeias e Comunidades. Além dos muitos trabalhos, escreveu inúmeros poemas e uma Gramática em tupi-guarani, a qual foi publicada em 1595.

O Pe. José de Anchieta, SJ, faleceu em Reritiba-ES, em 9 de junho de 1597, onde foi sepultado. Em 1611, iniciou-se o seu Processo de Beatificação, quando partes de seus restos mortais foram transladados para Bahia e Roma. Em 10 de agosto de 1736, o papa Clemente XII reconhece sobre as virtudes heróicas deste servo de Deus, missionário afamado no mundo, tão respeitado por todos, santo na vida, prudente no governo, prodigioso nas obras, zeloso pelo gênero humano e verdadeiro apóstolo do Brasil.

Posteriormente, o bispo de Mariana-MG, D. Fr. Manuel da Cruz OCist (1690-1764), publicou Carta Pastoral Extraordinária, em 17 de janeiro de 1758, motivando o  Processo de Beatificação e Canonização do Venerável Servo de Deus, o Pe. José de Anchieta, a quem todo este Brasil se devia mostrar agradecido e devoto, não só pelo Apostólico zelo com que nele trabalhou para o bem das almas, mas também pelos estupendos prodígios que nele realizou.

A perseguição e a expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias, em 1759, trouxeram grandes prejuízos à Igreja. Este colapso afetou todos os países europeus onde reinava alguém da família Bourbon, ou seja, na França (1764), em Nápoles e na Espanha (1767), em Parma e na Ilha de Malta (1768), e culminou na supressão da Ordem, em 21 de julho de 1773. Sabe-se que o motivo principal destas reprimendas, foi o fechamento eclesial na linha teológica Jansenista, adotada pelas autoridades destes países e seus reis absolutistas, os quais eram contra a competência, a metodologia e a pedagogia eficiente de conscientização humana e religiosa, integral, aplicadas pelos inacianos. Então, estes fatores, embrolhados, resultaram na interrupção e no retardo da canonização, isto é, na Declaração de exemplo universal de fraternidade cristã (santidade) de José de Anchieta, homem que soube viver fiel e cristãmente durante toda a sua vida!

Ainda em Minas Gerais, em 1825 e 1826, no Vale do Rio Doce, durante as guerras entre as nações indígenas (botocudos, caparaós, caetés e naknenuks), o Pe. José Pereira Lidoro, as autoridades locais e as provinciais, não conseguiram pacificar tais revoltas. Por isso, tomando como base a metodologia do Pe. José de Anchieta, traçaram um plano de pacificação e catequese. Na elaboração deste Plano de conjunto, os líderes políticos, militares e religiosos se ocuparam em apontar resoluções concretas à semelhança do sábio e santo catequista: o grande conhecedor dos costumes e idiomas indígenas, que também por estas razões, conseguira muitas negociações e entendimentos entre os nativos. Mesmo porque as últimas experiências, em Minas, davam provas de que a violência gerava violência. Assim sendo, fazia-se necessário recuperar o modelo catequético e instrutivo do Pe. José de Anchieta. Esta resolução, teve a influência do governador de Minas, José Teixeira de Vasconcelos da Motta (1767-1838), bisavô do cardeal Carlos Carmelo Vasconcelos Motta (1890-1982).

Em 1875, foi retomado o Processo de Beatificação de José de Anchieta. Depois de longa, criteriosa avaliação e concluída a investigação de sua honrosa história de vida e missão, em 22 de junho de 1980, o papa João Paulo II, o declarou bem-aventurado. E foi canonizado em 02 de abril de 2014. Felizmente, a cada 9 de junho, o celebramos como nosso venerável, intercessor e santo apóstolo do Brasil.

        São José de Anchieta, rogai a Deus por nós todos, na Terra de Santa Cruz! 

 

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