Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 02 OUT 2017 - 13H02

Homilia 32º Domingo Tempo Comum

  A oferta da viúva

 Marcos, 12.38-44 

 

A riqueza da viúva pobre.

 Comparando a semana a uma caminhada subindo uma montanha, o domingo é o topo, a meta. Seguindo Jesus o ponto de chegada normal de cada semana é a sua mesa, o altar da Eucaristia. Dele jorra em abundância a vida segundo o bem querer de Deus a nós. Não é lugar para exibições e sim de oferenda de si próprio e partilha com os outros. Mesa verdadeira da vida, no altar não há espaço para distinções, graus de importância e privilégios. Aí somos convidados iguais e ninguém pode ficar excluído. Enquanto a sociedade estabelece pessoas desiguais em títulos, méritos e posse de bens, Jesus oferece a sua mesa a todos e se faz nosso único alimento. Ele é o pão do céu que nos sustenta no amor a Deus e fomenta em nossas relações a fome de justiça, a partilha dos bens com todos.

A Eucaristia é a fonte e o ponto mais alto do viver cristão. Ela nos irmana com todos os problemas do mundo. O culto cristão não se limita ao serviço religioso, ao ritual interno, nem é feito para canalizar as contribuições dos fiéis nos serviços da comunidade. O dízimo é necessário, mas não é o objetivo do culto e nem a razão de ser de uma Igreja ou capela. A Bíblia não subordina a doação das graças de Deus ao valor maior ou menor das ofertas deixadas no altar. Ou no cofre. A riqueza de uma comunidade não é a sua conta bancária, mas é o próprio altar de Jesus. Nele aprendemos a vencer o egoísmo, a ambição, a ostentação da sociedade injusta.

Um texto do evangelho de São Marcos proclamado nas missas do 32º domingo comum faz distinção clara entre: “dar o que se tem” e “dar-se a si mesmo” nas contribuições dos fiéis. A contribuição financeira ou material ao culto religioso é também oração, se expressar o amor, a generosidade, a partilha da própria pessoa do doador. ler: Mc.12,38-44.

 O Templo de Jerusalém era o coração do poder político-religioso. Os líderes do povo monopolizavam ali ensino e culto e disso se aproveitavam usufruindo privilégios político-sociais explorando as rendas do serviço religioso. Foram então questionados por Jesus. Sem autorização de ninguém para ensinar no ambiente do Templo, Ele agiu em obediência interior à vontade de Deus e dirigiu pesadas críticas ao grupo de escribas e doutores da Lei, a classe intelectual encarregada do ensino religioso. Gozavam eles a reputação pública de serem homens de oração, pessoas dignas de confiança. De fato porém suas “longas orações” apenas disfarçavam a avidez em administrar os bens das viúvas. Na época não se reconhecia à mulher viúva o direito de dispor dos bens dos maridos falecidos. Essa cultura dava aos escribas ligados ao Templo, a ocasião e o pretexto religioso para devorar os recursos dos mais pobres. (Ched Myers, o Evangelho. de São Marcos, EP,1992,pg.383).

 Como a oração não combina nunca com fraude Jesus criticou a falsa ostentação religiosa dos mestres da Lei e afirmou que eles mereciam de Deus uma condenação maior (v.40). No contexto da passagem, é ilustrativo o caso das esmolas ou donativos ao tesouro do Templo. Ficou observado por Jesus que os ricos depositavam aparentemente muito dinheiro enquanto uma pobre viúva depositou tão somente duas pequenas moedas. Mas ela de fato fez de sua pequenina doação um grande gesto religioso do agrado de Deus. Jesus explicou porque. A viúva pobre que nada tinha doou-se a si mesma naquela oferta material insignificante. Eles, os ricos, doaram a sobra de seus lucros sem na verdade se privarem de coisa alguma. Não fizeram a oferta de si a Deus e nem assumiram a responsabilidade de mudar a vida social injusta do País. Em vez de ser um gesto de culto religioso o donativo deles foi um gesto de ostentação de falsa piedade.

 As comunidades cristãs entenderam o recado válido para todos os tempos. Qual é o sentido da contribuição financeira na manutenção do culto eclesial? Qual o valor religioso das ofertas dadas pelos fiéis. O Evangelho nos alerta: é bom não confiar no dinheiro também em relação ao culto. Ele facilmente prende o coração humano e o torna submisso às coisas materiais, ao poder, aos interesses. Não importa o montante e sim o coração desapegado de si. Importa o dom da pessoa a Deus no serviço aos outros. Seria até um pecado de blasfêmia imaginar que Deus dá mais favores e bênçãos conforme a soma de dinheiro ofertado à Igreja! Sem dúvida é muito errado dizer: “quanto maior a oferta, maior a graça a receber”. O valor religioso de uma oferta vem da generosidade enquanto sinal de desprendimento e de partilha. É mais generoso quem se doa no compromisso por uma vida justa e digna para todos.

 

       Aplicação mariana

Jesus nasceu como “propriedade” de Deus (Lei do primogênito: Êx.13,1) e era tudo o que Maria tinha. Ela, “Virgem oferente sem igual” o ofereceu e consagrou no Templo. Antes, ela mesma havia se doado no SIM à encarnação entregando-se à vontade do Senhor como “oferta pura, santa e agradável”. Pode-se dizer que o seio virginal foi o primeiro altar e o “cofre” do Templo de Deus na história da salvação. Assim, os mistérios de Cristo e de sua mãe se estreitam e chegam até nós. Se não criarem relações de justiça e partilha fraterna, dinheiro e riqueza - mesmo no culto- não constroem o Reino de Deus entre nós. No teu altar Senhor, coloco a minha vida em oração!

Marcos, 12.38-44 –
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