Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias Atualizada em 26 MAR 2019 - 13H35

19º domingo comum – ‘Só na barca da Igreja estamos seguros’

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Só na barca da Igreja estamos seguros

Mt 14,22-33

 O viver como cristãos está sempre sujeito a crises. Altos e baixos, avanços e recuos, esperanças e frustrações! Em nosso íntimo e no convívio social. Às vezes, ou muitas vezes, crises, dúvidas, incertezas, inseguranças testam nossa fé em Jesus e nossa resistência ao ambiente contrário aos valores propostos no seu Evangelho. Confrontamos ambientes hostis às convicções morais, ou às expectativas éticas de justiça e respeito religioso. Ser cristão(ã) não é “ir na onda”, ao sopro de brisa suave… Ao contrário, é ir sobre elas, como numa barca frágil exposta às ondas revoltas de um mar agitado. Essa imagem de insegurança e perigo está projetada no texto de Mateus, 14, 22-33, próprio do 19º domingo do tempo comum, série A. Tiram-se dele muitas lições. A primeira é que o único lugar onde o discípulo pode confiar em Jesus é na sua Igreja. Ninguém está isento do medo, mas a fragilidade humana precisa dele e das situações inseguras para mudar-se em confiança.

Nem sempre a própria Igreja é para seus membros um “porto seguro”, ou um oásis reconfortante, ou um ninho de paz! A Igreja – instituição e comunhão prática- põe os homens em crise… Tanto os que nela creem como os que a combatem! Em verdade, quando alguém quer mesmo assumir o Evangelho no seu dia a dia, introduz necessariamente a “crise”, a contradição: nas ideias, opiniões, costumes etc. Já será um alguém diferente, inoportuno, questionando comportamentos e “fazendo marolas” nas relações descomprometidas com a verdade, a justiça, a fraternidade.

Olhando mais de perto a construção literário-catequética de Mateus em 14,22-33 vemos que ela entrelaça dois episódios: o da multiplicação dos pães e o da tempestade acalmada por Jesus. Após alimentar a multidão faminta que passara o dia todo com ele, Jesus obrigou os discípulos a irem embora. Não a pé em companhia do povo beneficiado e alegre, mas entrando logo numa barca normal para atravessar o lago ali perto. Pedagogicamente o Mestre queria libertar seus discípulos da tentação da vaidade e de uma falsa segurança política, desfrutando do prestígio popular de caráter nacionalista-messiânico. Meio contrariados os discípulos iniciaram a travessia do grande lago, já à boca da noite. O cenário muda-se do entusiasmo frustrado para o medo do perigo iminente. Com o recurso de vários simbolismos, Mateus vai salientando a falta de confiança em Jesus quando a situação torna-se crítica sem ELE. O forte vento contrário à travessia formando grandes ondas. O medo das águas revoltas ,do escuro e a fragilidade da barca. A confusão dos discípulos vendo em Jesus um fantasma que se aproximava. A seguir a infantil fanfarronice de Pedro querendo exibir sua fé a caminha ao encontro do Mestre sobre as ondas, mas sem confiar totalmente nele.

Todos esses detalhes da narrativa estão prevenindo a comunidade cristã, da qual Pedro é o representante no Evangelho, a não se deixar abater nas crises. Em vez do medo, do desânimo, das dificuldades, do fracasso ou da presunção das vaidades, a comunidade ficará com Jesus: reunida em sua Igreja numa atitude de confiança total. É assim que a Igreja está no mundo! Uma barca frágil ameaçada por ondas revoltas. Enviada por Jesus a todos os povos, a Igreja tem que fazer a “travessia da história” no seu trabalho missionário. Enfrentará o “vento contrário”: a resistência, a incompreensão, a hostilidade social à sua presença, à pregação moral, à ação pastoral. Defendendo os mais fracos, alimentando suas esperanças, clamando por justiça social, pregando os valores éticos, nós todos, discípulos-missionários na barca, não teremos um mar sereno. Navegaremos nas ondas das crises, desafios, inseguranças e incertezas do tempo. Mas, o poder de Jesus estará conosco, nos salvando.

Cabe bem um olhar carinhoso para Maria. Invocada como: estrela do mar, estrela da evangelização, mãe dos navegantes. A primeira discípula não atravessou o lago naquela ocasião. Nem teria estado presente em situações prestigiosas para seu Filho, como a da multiplicação dos pães. Mas, esteve presente em todos os momentos de crise. Principalmente esteve lá no ápice do Êxodo pascal: aos pés da cruz no Calvário. Podemos dizer: no “olho do furacão”. Portanto, a comunidade cristã em todos os tempos viu na pessoa de Maria, a figura, o protótipo, o ícone da Igreja. Vestida de sol, coroada por estrelas, protegida no parto do seu Filho contra a sanha do dragão, (Apocalipse cap.12), Maria é a mãe gloriosa que antecipou a grandeza dos discípulos fiéis (assunção aos céus). É o porto seguro da Igreja na plenitude da glória.

 

 

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