Por Dom Raymundo Damasceno Assis Em Homilias

Domingo de Ramos e Paixão do Senhor

Celebração do Domingo de Ramos no Santuário Nacional -  Foto: Thiago Leon

DOMINGO DE RAMOS  E DA PAIXÃO DO SENHOR - 20/03/2016

SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA 

 

Neste domingo a Igreja celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém como Rei para, em seguida, consumar o seu mistério pascal, isto é, sua paixão, morte e ressurreição. Jesus entra em Jerusalém não como faziam os imperadores, acompanhados por suas legiões. Ele, ao contrário, entra de maneira humilde, manso, montado em um jumentinho, aclamado pela multidão dos discípulos que gritava: “Bendito o rei, que vem em nome do Senhor! Paz nos céus e glória nas alturas”(Lc 19,38).

A liturgia deste domingo de Ramos se caracteriza, por dois momentos distintos, próprios do mistério pascal: um de glória, de alegria, o da entrada triunfal de Jesus na cidade santa; e, um outro, de sofrimento, de dor, marcado pelas leituras da missa de hoje que nos falam da paixão e da morte de Cristo na cruz.

As leituras bíblicas que acabamos de escutar nos falaram da paixão e morte de Jesus. O profeta Isaías nos apresentou a figura do Servo Sofredor, esse personagem misterioso, marcado pelo sofrimento mas que não se deixou abater porque Deus estava com ele. O servo de Javé, do profeta Isaias, é a figura profética de Jesus que assumiu voluntariamente a paixão e morte para solidarizar-se conosco pecadores e com todos os que são vítimas do mal, da injustiça, do sofrimento.

O texto de Isaías termina com o anúncio de que a morte não terá a palavra final: “conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado”.

Paulo na Carta aos Filipenses também anuncia a vitória de Jesus sobre a morte: “ Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome.” A sua morte não foi uma derrota. Deus o exaltou com a gloriosa ressurreição.

No evangelho escutamos a leitura da paixão e morte de Jesus na versão que nos deixou o evangelista Lucas. Para Lucas, Jerusalém é o lugar para onde converge e onde termina a vida de Jesus. É também o lugar de partida, do início, depois de Pentecostes, da missão da Igreja, a de anunciar o Evangelho a todos os povos até a consumação dos séculos (Mt 28, 19-20).

O texto da paixão narrado por São Lucas antecipa todos os acontecimentos que celebraremos nesta Semana Santa, no tríduo pascal: a instituição da eucaristia, o mandamento do amor, o sacerdócio como serviço à comunidade, a paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Os dias da Semana Santa podem e devem ser uma oportunidade para gozarmos de um merecido descanso junto aos familiares e amigos, mas também, e, sobretudo, tempo para participarmos com amor e com fé das celebrações em nossas paróquias, comunidades, não como meros espectadores, mas vivendo, em cada dia da semana, o caminho da redenção que Jesus nos oferece e reconhecê-lo e proclamá-lo como fez o centurião do oficial do exército romano, que ao ver o que aconteceu com Ele, conforme o relato de São Lucas, glorificou a Deus dizendo: “De fato! Este homem era justo” (Lc 23,47).

Jesus certamente era “homem justo”, “homem bom”, “o inocente”, como o reconheceu o próprio Pilatos. Para nós também Jesus é certamente “o inocente”, mas é também e, sobretudo, “o Filho de Deus”, conforme exclama o centurião na versão de São Mateus e São Marcos: “Realmente, este homem era o Filho de Deus” (Mt 25,54; Mc 15,39)

Ao meditarmos sobre a Paixão de Cristo, não devemos nos esquecer que nós pecadores fomos os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos que suportou o Divino Redentor.

Nesta semana encerra-se a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano: “Casa Comum, nossa Responsabilidade”, mas não encerra o nosso compromisso, a nossa responsabilidade na construção de um mundo sustentável, justo e habitável para todos os seres vivos. Deus nos convoca para cuidar da sua criação. Promover a justiça climática, a assumir nossa responsabilidade pelo cuidado com a Casa Comum, que é o Planeta Terra. Jesus ao dar a sua vida por nós, nos ensina que nossa vida só tem sentido quando fazemos dela um serviço ao nosso irmão.

Ofereçamos, generosamente, neste dia, na coleta da Campanha da Fraternidade, nossa contribuição financeira para o Fundo de Solidariedade da Igreja no Brasil, que tem a finalidade de financiar, projetos afins com o tema da CFE.

Que Maria, nos ajude a entrar nesta Semana Santa numa relação mais verdadeira e pessoal com Jesus, nosso Salvador.

Que a Virgem de Aparecida nos ensine a fixar nosso olhar de amor em Deus Pai misericordioso que foi o primeiro a nos amar e nos enviar seu Filho para expiar os nossos pecados. Que Ela forme em nós um coração de discípulo e missionário e que a seu exemplo estejamos sempre em nossa família e no ambiente social, prontos para nos colocarmos à escuta do seu Filho, que nos revela o rosto misericordioso do Pai e nos convida a sermos também misericordiosos para com nossos irmãos e irmãs.

Guardemos em casa os ramos que foram abençoados como sinal de nossa fé no Cristo, Messias e Senhor e do nosso compromisso de segui-lo como seus verdadeiros discípulos missionários, testemunhando os valores do evangelho em nossa vida: o serviço, a solidariedade, o amor, a paz.

Que a celebração da Páscoa de Cristo seja também nossa Páscoa: que passemos do velho ao novo; da escravidão à verdadeira liberdade; do pecado a uma renovada amizade com Deus pela vida da graça em nós.

 Uma abençoada Semana Santa para todos!

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis

Arcebispo de Aparecida-SP

 

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