Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias

Homilia 3º DomingoTempo Comum - ANO B

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Marcos 1,14-20

O Reino chegou até nós! Todos são convidados!

Só entramos no mistério de Deus e de sua Palavra se formos por Ele chamados e Lhe respondermos. É o nosso tempo! Deus tem o “seu tempo”. É influxo misterioso. É graça. Não tem uma medida de distância e não está sujeito ao calendário nem às estações.  À luz da Bíblia a fé cristã ilumina o sentido do tempo. O tempo bíblico vai além do acontecimento histórico, além do calendário e de uma data. Na Bíblia o fato temporal assinala a intervenção divina num dado momento histórico. Aí acontece o ato salvador ou ato salvífico, um momento da graça libertadora do Senhor, uma chance de salvação. Isso está acontecendo a todo instante desde que Jesus entrou em nosso tempo e inaugurou nele o Reino de Deus. Com a vinda de Jesus o “tempo de Deus” tornou-se pleno e decisivo em nossa história. A chance da salvação atingiu o máximo no ensino e no jeito de Jesus estar no mundo comunicando ao povo o Reino de Deus.

A primeira palavra que Jesus diz segundo o evangelista Marcos refere-se à entrada, à irrupção do reinado de Deus no meio dos homens. “O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho.” (1,14). Está aí o chamado “tempo bíblico”. Não é passado, presente e futuro históricos. É a salvação de Deus vindo conforme sua vontade ao nosso encontro. Cada passo, cada data, cada acontecimento histórico que nós vivemos podem acelerar, retardar ou impedir o momento de Deus, a chance da sua graça entrar em nosso viver. Por isso, importa organizar a vida pessoal, comunitária ou social assimilando os critérios do Reino de Deus por um esforço de conversão. Este é o primeiro apelo que Jesus nos faz. Leia o texto: Mc.1, 14-20

 

Aqui a expressão Reino de Deus não é só ideia religiosa ou misticismo.

Aqui a expressão Reino de Deus não é só ideia religiosa ou misticismo. Trata-se da própria vida percebida em referência ao “tempo bíblico”, isto é, vivida como chance única de experimentar e querer a salvação de Jesus. O Reino de Deus é a referência absoluta de tudo. O homem não pode viver sem ele. Não pode alcançar a verdadeira justiça social, a paz, o progresso, a convivência honesta e sadia sem o reinado do Senhor. A primeira fala de Jesus em Marcos é esse anúncio urgente: o Reino de Deus já chegou, está aí ao nosso alcance e espera nossa decisão de buscá-lo. O momento seguinte é nosso: sentir a sua necessidade e ir ao encontro. É a conversão para ele! É crer na boa nova: um Deus está nos esperando porque quer nos fazer felizes. “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está perto. Convertei-vos e crede no Evangelho”. Isto significa: não há mais o que esperar. Não há mais dúvida. Não há a incerteza própria do tempo histórico. Já está dado o “tempo de Deus”, na plenitude de sua salvação.

Marcos situa o início da atividade de Jesus num tempo incerto: depois da prisão de João Batista. E num dado espaço geográfico, a Galiléia. Nesta região desprezada Jesus começou a pregar. Convocou ali alguns homens pescadores de profissão para segui-lo. Tirou-os do ambiente de trabalho e de família. Sua intenção era reunir e formar um grupo de homens capazes de interpretar a vida inteira à luz da libertação que Deus estava oferecendo numa única chance. Crer nele: Jesus! Isso implicava em romper com o “tempo dos homens”, ou com as injustiças geradas pela ordem social dominante. Implicava numa luta, sem armas, sem política, sem jogo de poder!

O texto de Marcos apresenta Jesus continuando de certo modo o profeta João Batista. E ao mesmo tempo superando-o. Continua o ministério de João que fora preso porque denunciará como ele os poderosos e seus privilégios. Mas supera o precursor com o anúncio da Boa Nova: chegou o Reino de Deus! A Boa Nova exige conversão e penitência. A maior riqueza no uso do tempo é viver sob o olhar de Deus. Ter consciência de sua presença em todas as situações e da chance contínua de nos aproximar mais e mais dele, da sua graça, do seu perdão, do seu amor. Lá, Jesus chamou os apóstolos. Hoje, chama a nós. Nos escolheu nesse tempo. A decisão de segui-lo é de cada um.

Caminhando com Maria.

O tempo de Jesus coincidiu com o de Maria. Aliás, começou nela quando houve a encarnação do Verbo. Maria foi o espaço geográfico, humano e cultural da irrupção do Reino de Deus entre nós. Maria de Nazaré! Como imaginar a realidade absoluta e infinita do Senhor da vida enclausurando-se nos limites de sua própria obra: a Criação?

São Paulo tentou. Não cita o nome, mas tem plena consciência desse fato inaudito ao ligá-lo a Maria: “quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho nascido de mulher…” (Gálatas, 4,4). A “mulher” do tempo bíblico é ela: a das Bodas de Caná, do Calvário, do Apocalipse! Maria: rogai por nós que recorremos a vós!

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