Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Homilias

Homilia 5º Domingo da Quaresma – B

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A hora de ser grão de trigo…

 Núcleo do ano litúrgico, o tempo da Quaresma e da Páscoa é hora especial de Deus na vida cristã. Temos a chance privilegiada e imperdível de nos entregar sem restrição alguma à comunhão com Deus na fé em Jesus. É hora de mudanças radicais em nossas expectativas e opções. A mudança interior por uma conversão sincera. A mudança na relação com os outros valorizando mais a sua dignidade que sua influência, prestígio e posses. Não se omitir nem se conformar aquelas   situações que ferem os direitos sagrados da pessoa humana cada vez mais desprotegida numa sociedade corrompida e violenta. Atentos à prática da fé, o discípulo (a) de Jesus não foge das responsabilidades históricas. Ricos ou pobres, sábios ou não, importantes ou não na escala social. O que importa é o ser cristão conforme os critérios do Evangelho. Perceber a ação de Deus no mundo. Estar em sintonia com seu projeto libertador. Enfim, “fazer a hora”, o momento oportuno e favorável de reagir às injustiças e mudar a situação.

A Campanha da Fraternidade (Igreja-sociedade) lembrou-nos que a hora da Páscoa inclui uma participação voluntária, empenhativa e generosa na vida social. (Texto Base, nº 201). É o antídoto aos vícios de poder. As opções político-partidárias vêm se tornando feridas repugnantes no tecido social dilacerado por avalanche de corrupções sob a capa de programas de governo. Não basta limpar a fossa com “Operação Lava jato”. É preciso limpar do pecado as raízes do poder  incrustrado na ambição e sanar as relações sociais infectadas por corrupção, fraudes, mentiras e falsas esperanças. Enfim, é hora de plantar o grão de trigo!

No Evangelho de São João a palavra “hora de ser o grão de trigo” refere-se aos acontecimentos finais da vida de Jesus. O momento mais importante dela. Diz respeito à morte na cruz e, ao mesmo tempo, à vitória e glorificação dele por Deus. Jesus tinha plena consciência humana de sua vocação. Comparava-se ao grão de trigo que deve morrer para produzir frutos. Mas, sentia-se angustiado ao perceber os sinais da “hora” chegando. Queria ser fiel à vontade do Pai na certeza de que não seria por Ele abandonado.  Leia: João, 12, 20-33.

O ambiente do texto é a festa da Páscoa. O povo subia a Jerusalém para adorar a Deus no Templo, símbolo da cidadania. Ora, estrangeiros tementes a Deus (gregos) vieram também louvá-Lo. Queriam “ver” Jesus. Ver na linguagem joanina é mais do que mera curiosidade. É encontro de amizade e convivência.  Os apóstolos Felipe e André são intermediários do encontro e de seu significado. Os gregos representam os samaritanos e não-judeus. O detalhe sugere que as comunidades cristãs de João já tinham assimilado a convivência com eles na fé.

 

O evangelho quer nos ensinar que a partir da sua Páscoa Jesus é o novo Templo de Deus

O evangelho quer nos ensinar que a partir da sua Páscoa Jesus é o novo Templo de Deus, aberto a todos os povos. O Templo de Jerusalém já não era mais o símbolo da Aliança e comunhão de vida com o Senhor. Jesus o substituíra na “hora da cruz”. Quem quisesse segui-lo devia então unir-se a ele e passar pela sua “hora”: ser o grão de trigo semeado para morrer e frutificar. Seguir Jesus é escolher o seu caminho. Acreditar nele é ser com Ele o grão de trigo: morrer para si, superar os limites humanos egoístas e doar-se a exemplo dele aos outros. Ele é o lugar privilegiado da presença divina no homem, porque foi fiel e obediente em extremo ao projeto salvador de Deus. Amou-nos até o fim! Até a entrega da vida na cruz. Se nela Ele foi glorificado ao triunfar sobre a morte e o pecado, nele e com Ele manifestou-se ao máximo o amor de Deus por nós. O sacrifício de Jesus glorifica o amor misericordioso de Deus.

O texto faz alusão a uma teofania, a voz do céu e o trovão, para dizer que apesar do pavor da morte na cruz, Jesus confiava sua vida ao Pai que confirmaria a sua missão. Por isso, na cruz o crucificado atrairá todas as pessoas porque após ela vai ressuscitar. O grão de trigo simboliza o mistério do amor de Jesus que o levou à “destruição”. Mas, gerou nova vida e produziu a nosso favor o fruto da salvação no perdão de Deus, na recuperação da sua graça. É a nova aliança no seu sangue!

 

Enfoque mariano final

No seio virginal de Maria o Espírito Santo plantou o ‘grão de trigo’, isto é, o Verbo divino. Nas bodas de Caná o pedido da mãe em favor dos noivos antecipou na alegria do vinho novo os frutos da hora do Filho. Mas, depois ela viu o corpo dele ser destruído no Calvário antes de recebê-lo novamente no regaço materno e levá-lo à sepultura. O testemunho dessa mãe bendita garante que Deus já nos deu toda chance de salvação. A Páscoa é renovar o caminho. E é a nossa hora de acolher o amor salvador.

O evangelho quer nos ensinar que a partir da sua Páscoa Jesus é o novo Templo de Deus
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