Por Dom Geraldo Lyrio Rocha Em Homilias Atualizada em 02 OUT 2017 - 13H35

Maria: Mulher Eucarística

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No oitavo dia da Novena de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, somos convidados a contemplar a figura de Maria – Mulher Eucarística. Quais são os vínculos entre Maria e a Eucaristia? O Beato João Paulo II em sua Encíclica sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja, dedica o capítulo final ao tema Na Escola de Maria, Mulher “Eucarística”. Ele parte da convicção que ao falar da Eucaristia, “não podemos esquecer Maria porque ela tem uma relação profunda com o santíssimo sacramento. “Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas. Se Igreja e Eucaristia são um binômio indivisível, o mesmo é preciso afirmar do binômio Maria e Eucaristia. Por isso mesmo, desde a antiguidade é unânime nas Igrejas do Oriente e do Ocidente a recordação de Maria na celebração eucarística” (EE 57).

Seguindo os passos de Maria, vamos percebendo como de fato, ela é a Mulher Eucarística. Já na anunciação se encontra uma analogia profunda entre o “sim” pronunciado por Maria e o “amém” que o fiel diz ao receber o Corpo de Senhor, na sagrada comunhão. A atitude que une o fiel a Maria é a fé, pela qual Maria acreditou no mistério da encarnação, antecipando a fé eucarística da Igreja. Diz o Beato João Paulo II: “A Maria foi-lhe pedido para acreditar que Aquele que Ela concebia « por obra do Espírito Santo » era o « Filho de Deus » (cf. Lc 1, 30-35). Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico nos é pedido para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino” (EE, 55).

 

Maria é a arca da nova aliança

A visita de Maria a Isabel nos permite vislumbrar seu sentido “eucarístico”. No paralelismo com o transporte da arca da aliança, o evangelista Lucas quer transmitir a convicção que Maria é a arca da nova aliança, o lugar incorruptível da presença do Senhor. A encíclica de João Paulo II, já mencionada, lê de modo sugestivo o dado bíblico como antecipação do que acontecerá com a Eucaristia. “Na visitação, quando Maria leva em seu ventre o Verbo encarnado, de certo modo Ela serve de « sacrário » – o primeiro « sacrário » da história –, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, se presta à adoração de Isabel, como que « irradiando » a sua luz através dos olhos e da voz de Maria” (EE 55).

Relendo, em perspectiva eucarística, o Magnificat cantado por Maria em sua visita a Isabel nos permite descobrir que “na Eucaristia, a Igreja une-se plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, com o mesmo espírito de Maria. De fato, como o cântico de Maria, a Eucaristia é primeiramente louvor e ação de graças. Quando exclama: « A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador », Maria traz no seu ventre Jesus. Louva o Pai « por » Jesus, mas louva-o também « em » Jesus e « com » Jesus. É nisto precisamente que consiste a verdadeira « atitude eucarística », (EE 58).

E prossegue o Papa João Paulo II: “As convergências espirituais entre a celebração da Eucaristia e o cântico de Maria são várias: O louvor e a ação de graças pois que em ambos se louva e agradece ao Pai ‘por Cristo, com Cristo e em Cristo’. Em ambos se faz memória das maravilhas operadas por Deus na história da salvação: no Magnificat se celebra a encarnação redentora, indicada na expressão das ‘grandes coisas’ realizadas por Deus em Maria. Na Eucaristia se atualiza o mistério pascal do Senhor. “Enfim, no Magnificat está presente a tensão escatológica da Eucaristia. Cada vez que o Filho de Deus se torna presente entre nós na « pobreza » dos sinais sacramentais, pão e vinho, é lançado no mundo o germe daquela história nova, que verá os poderosos « derrubados dos seus tronos » e « exaltados os humildes » (cf. Lc 1, 52). Maria canta aquele « novo céu » e aquela « nova terra », cuja antecipação e « síntese » programática se encontram na Eucaristia. Se o Magnificat exprime a espiritualidade de Maria, nada melhor do que esta espiritualidade nos pode ajudar a viver o mistério eucarístico. Recebemos o dom da Eucaristia, para que a nossa vida, à semelhança da vida de Maria, seja toda ela um verdadeiro magnificat” (EE 58) .

Na infância de Jesus, Maria oferece duas atitudes indispensáveis a uma participação na Eucaristia: o amor e a oferta do sacrifício. Em Belém, a Mãe se revela incomparável modelo de amor quando contempla, com olhar arrebatado, a face de Cristo apenas nascido e o envolve com seus braços. “Ao longo de toda a sua existência ao lado de Cristo, e não apenas no Calvário, Maria viveu a dimensão sacrifical da Eucaristia. Quando levou o menino Jesus ao templo de Jerusalém, « para apresentá-lo ao Senhor » (Lc 2, 22), ouviu o velho Simeão anunciar que aquele Menino seria « sinal de contradição » e que uma « espada » haveria de traspassar também a sua alma (cf. Lc 2, 34-35). Assim foi vaticinado o drama do Filho crucificado e de algum modo prefigurado o « stabat Mater » aos pés da Cruz. Preparando-se dia a dia para o Calvário, Maria vive uma espécie de « Eucaristia antecipada », dir-se-ia uma « comunhão espiritual » de desejo e oferta, que terá o seu cumprimento na união com o Filho durante a Paixão” (EE 56).

O vértice da participação de Maria no mistério pascal, do qual a Eucaristia é o memorial, é a experiência desse mistério da parte da Santíssima Virgem. Para nós cristãos, viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia implica também receber continuamente este dom. Significa levar conosco – a exemplo de João – Aquela que sempre de novo nos é dada como Mãe. Significa ao mesmo tempo assumir o compromisso de nos conformarmos com Cristo, entrando na escola da Mãe e aceitando a sua companhia (EE 57).

Mais uma vez, iluminadoras são as palavras do Beato João Paulo II: “Se a Eucaristia é um mistério de fé que excede tanto a nossa inteligência que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de entrega. Todas as vezes que repetimos o gesto de Cristo na Última Ceia, dando cumprimento ao seu mandato, (Fazei isto em memória de Mim), ao mesmo tempo acolhemos o convite que Maria nos faz para obedecermos a seu Filho sem hesitação: « Fazei o que Ele vos disser » (Jo 2, 5). Com a solicitude materna manifestada nas bodas de Caná, Ela parece dizer-nos: « Não hesiteis, confiai na palavra do meu Filho. Se Ele pôde mudar a água em vinho, também Ele é capaz de fazer do pão e do vinho o seu corpo e sangue, entregando-nos, neste mistério, o memorial vivo da sua Páscoa e tornando-se assim o “pão de vida” (EE 54) ». Amém!

 

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