Por Felipe Koller
Um escrito cristão do século II, chamado de Protoevangelho de Tiago, narra que aos três anos Maria foi levada por seus pais, Ana e Joaquim, ao Templo de Jerusalém, e lá permaneceu até se casar com José. “O Senhor Deus lançou graça sobre ela. E ela dançou com seus pés; e toda a casa de Israel amou-a”, diz o Protoevangelho de Tiago. É um texto poético, que quer falar de como Deus cercou a menina de Nazaré com seus cuidados, formando nela um coração disponível, aberto, capaz de amar.
Esse mistério aparece nos mosaicos da Fachada Sul do Santuário Nacional. Ali vemos uma cena chocante: cheia de liberdade, uma criança sobe os degraus da área mais sagrada do Templo de Jerusalém, se aproxima do véu do Santo dos Santos e, puxando por um fio, começa a desfiá-lo. O véu separava Deus de seu povo e toda a missão de Maria consistirá em tecer a carne daquele que rasgará definitivamente esse véu (cf. Mt 27,51), isto é, que realizará a reconciliação definitiva entre Deus e a humanidade.
O gesto se desenrola sob o olhar atônito de um sacerdote do templo, agarrado à Lei. Que Deus habite em nossa própria carne é algo escandaloso demais para o sistema que esse sacerdote representa — um sistema desenhado para manter Deus distante, para perpetuar uma condição de irredenção, o que permite às lideranças que explorem e controlem o povo.
Essa cena é a imagem da vocação de Maria e, portanto, da vocação da Igreja, da comunidade dos batizados, sacramento do mistério de Cristo no mundo: destruir toda estrutura que pretenda separar o Deus vivo do seu povo, da humanidade. Como Maria, que reconheceu a ternura do cuidado do Pai desde a sua meninice, nós também fizemos a experiência da vida nova e sabemos que “nada será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,39).
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