Por Gustavo Marcelino e Victor Hugo Barros
“Acolhei-me debaixo de vossa proteção”, rezam os devotos na Consagração à Nossa Senhora Aparecida, um apelo de todos aqueles que recorrem à intercessão da Mãe, que nos abriga em seu manto de amor. Em outras músicas e orações também é possível encontrar referências à força protetora invocada no manto da Padroeira do Brasil, uma característica singela que parece realmente abraçar a quem a ela suplica.
Romeiros passam diante do Trono de Nossa Senhora Aparecida
“O manto para mim, ele representa realmente esse cuidado, essa proteção. Eu acho que existe, sim, o significado de cada detalhe que Nossa Senhora representa na nossa vida e ela como Mãe, ela como protetora, ela vem nos mostrando esse cuidado”, conta o devoto Marcos Vinícius, que veio de Recife (PE), com uma romaria, visitando o Santuário Nacional pela primeira vez.
Já William Aparecido, outro peregrino que estava de passagem pela Casa da Mãe, disse que, “o manto, para mim, representa prosperidade, representa união, representa amizade, amor, tudo de bom”. Ele veio junto com um grupo, a pé, de Itaguara (MG), percorrendo quase 400 quilômetros até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Mais antiga representação mariana, presente nas Catacumbas de Priscila, em Roma, apresenta Maria, com seu manto, amparando Jesus
O símbolo, presente no coração e no imaginário dos fiéis, tem origens antigas. Há registros de que já na Antiguidade a peça era utilizada para proteção climática e representação social.
“Na época de Jesus, seus seguidores, sua Santa Mãe e a maioria das pessoas trajava essa vestimenta, que pode ser ratificada pelos desenhos rupestres cristãos encontrados pela Arqueologia, nas catacumbas romanas, datadas a partir do século I”, defende a doutora em Ciência da Religião, Ana Maria de Sousa.
Ao longo do tempo, o manto passou de simples representação visual para a personificação da intercessão mariana, compreendida ao longo do tempo pela Igreja, sobretudo após o Concílio de Éfeso, em 431.
“Essa indumentária é importante por incorporar um elemento simbólico: o devoto se sente amparado pelo manto sagrado, sempre aberto de Nossa Senhora. Maria, que transborda sua infinitude de amor, atenção e bondade”, continua Sousa.
Os mantos da Padroeira
O manto da Imagem tem diversos significados e, para cada um que vai ao seu encontro, representa ao único, sentido no coração. As histórias são muitas e, em mais de 300 anos de seu encontro nas águas do Rio Paraíba do Sul, Nossa Senhora já teve alguns mantos que a cobriram.
“A imagem recebeu o primeiro manto oficial em 26 de julho de 1745. Por que aconteceu? Aconteceu porque o padre Ângelo Siqueira veio para a inauguração da capela de Nossa Senhora Aparecida”, conta a historiadora e especialista na história de devoção à Mãe Aparecida, Tereza Pasin.
Imagem de Nossa Senhora Aparecida em 1946
Após receber o primeiro manto, doado pelo padre Ângelo, a Imagem ganhou novos mantos, com cores distintas e bordados diversos. “Em 1750, consta que o senhor Francisco Bernardes, da cidade de Mariana, Minas Gerais, trouxe para Nossa Senhora um manto bordado com ramos de ouro, forrado de renda de prata e tafetá vermelho. Mas, no dia 8 de dezembro de 1868, a Princesa Isabel, após uma novena para Nossa Senhora da Conceição, a Aparecida, deu de presente um manto a Nossa Senhora, bordado com 21 brilhantes, representando as 21 províncias”, relembra Tereza.
“E, no dia 8 de setembro de 1904, após a coroação de Nossa Senhora como Rainha do Brasil, a imagem passou a usar o manto, agora azul-marinho bordado a ouro, não mais de cor de tafetá, de outras cores. Após receber o título de padroeira, foi acrescentado ao manto, em 1931, duas bandeiras, a do Brasil e a do Vaticano”, conclui a historiadora, ao rememorar como o manto foi se moldando ao longo do tempo.
“Após a descoberta da imagem, o manto ostentava outras cores e desenhos, alusivos às mudanças no cenário brasileiro”, detalha Ana Maria. “O design de estrelas e bandeirolas do manto foi atravessando o panorama histórico do Brasil, enquanto simbologia de uma época e até a contemporaneidade continua a encantar”, completa.
Detalhes das bandeiras do Brasil e do Vaticano no manto de Nossa Senhora Aparecida
Mais do que mero encantamento, para a Igreja, o ornamento possui significado ainda mais profundo. “Nossa Senhora, tendo o manto, ela quer nos acolher como mãe. Então, o manto é acolhedor, é mãe que acode os seus filhos debaixo do seu manto, da sua proteção, do seu amor”, explica o missionário redentorista, padre Alberto Pasquoto.
“Nossa Senhora tem essa missão de acolher o seu povo, de proteger, de interceder por nós. Ela é mãe para isso. E ela é cheia de graça para distribuir as graças. Então, como se fosse do seu manto, saem as graças para os seus filhos”, defende o sacerdote.
Para o religioso, estar sob o manto de Nossa Senhora não se trata de um gesto passivo. Ao contrário, compromete os devotos da Virgem Santíssima ao projeto do Reino de Deus.
“Ela, como mãe, acolhendo, incentivando, fala assim: façam tudo o que meu Filho disser. Cumpram os mandamentos, amem a Deus, amem o próximo. Então, se eu estou amando a Deus, se eu estou amando o próximo, se eu estou fazendo o que Jesus pede, que sejamos discípulos, missionários dEle, nós estamos dentro do manto de Nossa Senhora”, avalia o redentorista.
Assim como nas Bodas de Caná, Maria continua a acolher sob seu manto as aflições de seus devotos e a convidar para que cada um faça o que Jesus disser (cf. Jo 2,5). Por meio da Família dos Devotos, o Santuário Nacional estende o manto da Padroeira pelo Brasil por meio de suas obras de construção, evangelização, obras sociais e a Rede Aparecida de Comunicação. Sinais visíveis da proteção daquela que, há mais de três séculos, é sinal “de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, a Mãe de Deus vem em nosso auxílio, apoia-nos e convida-nos a ter fé e a continuar a esperar” (Spes non confundit, 24).
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