Fachada Norte: José que se faz reconhecer por seus irmãos

José começa a restabelecer a relação de irmão para irmão, mas para isso é preciso, primeiramente, resolver a relação dos filhos com o pai e do pai com os filhos. Não há como os irmãos resolverem o relacionamento entre si se não se resolve antes o relacionamento com o pai. Não há a mínima chance de curar a sua relação sem que antes o pai seja curado. E esse é o coração da questão de José e seus irmãos: a relação entre o homem e Deus. O homem projeta em Deus a sua experiência e, por isso, projeta também Nele os problemas que vive. A dificuldade é que Jacó, com seu jeito de amar, causou uma ruptura entre os filhos. Mas Deus não é Jacó e, portanto, não é Ele o problema. Deus é Pai sem sombras, sem trevas, é só amor. A questão então é que continuamente projetamos em Deus as nossas experiências, as nossas feridas e as nossas frustrações, a tal ponto que chegamos a preferir um Deus filosófico a um Deus Pai.
Finalmente os irmãos começam a perceber que a vida, tal qual eles a viviam, não se trata da verdadeira vida, mas traz à tona algo de animalesco. Agora eles começam a entender que a vida é uma realidade compartilhada. A natureza humana não é a fonte da vida. Não temos a vida em si: essa vida que a natureza humana tem é muito precária, está destinada a morrer, está ligada à existência de fronteiras — é confinada, isolada, orientada para a posse do indivíduo. Essa é a vida que temos e que pensamos que só dependa de nós, de modo que ninguém mais participe nela. Se essa vida segundo a natureza sai desse mundo confinado em um eu isolado e fechado, ela só passa a viver um certo pertencimento se for conveniente para o eu e só enquanto de fato for. Eu vivo com os irmãos do mesmo sangue enquanto for conveniente, da mesma pátria enquanto for conveniente, do mesmo partido enquanto for conveniente — sempre assim, até que, em um certo momento, vence o eu que deve defender a si mesmo. José esperava que emergisse nos irmãos a consciência de que a vida dessa natureza deve ser habitada por um princípio, por uma vida que não é confinada, mas sim sem limites; que não é orientada a si mesma, mas sim uma rede, uma existência relacional, uma vida que une um ao outro. Descubro que sou, que existo, quando descubro que a minha existência não é só minha, mas que esta vida que tenho inclui os outros, é inclusiva, é a vida de Deus no homem. A passagem acontece quando os irmãos dizem que “a vida de um está ligada à vida do outro” (Gn 44,30). A vida de Deus é inclusiva, e é desse modo que a vida é dada ao homem por Deus.
Os irmãos expressarão o seu arrependimento de modo silencioso, chorando — um arrependimento que leva à salvação. E ao mesmo tempo descobrirão o pai, os irmãos, os filhos e a fé, Deus e o seu desígnio — tudo no mesmo ato. José traz à tona que não é possível conhecer a Deus senão através do relacionamento com os outros, assim como não pode haver relação com os outros enquanto não se começa a viver a vida que vem de Deus. Enquanto isso não acontece, o eu permanece fechado em sua própria existência limitada por uma forte demarcação. Eles vivem uma profunda transfiguração da memória, já não se lembram do pecado cometido contra José como pecado: José faz com que eles o leiam na chave da salvação.

As águas de Massa e Meriba
No episódio de Massa e Meriba, podemos aprofundar o que significa essa relação a que Deus nos convida.

O maná
Depois da travessia do Mar Vermelho, a estrada ainda é longa
![foto 15 [A travessia do Mar Vermelho] Thiago Leon_DSC3158 (Personalizado) foto 15 [A travessia do Mar Vermelho] Thiago Leon_DSC3158 (Personalizado)](https://images.a12.com/source/files/c/273959/foto_15_A_travessia_do_Mar_Vermelho_Thiago_Leon_DSC3158_Personalizado-911331_324-182-0-0.jpg)
A passagem do mar vermelho
O Senhor abre o Mar Vermelho, faz passar o povo de Israel a pé enxuto, derrota o Faraó e seus exércitos e, assim, tira os hebreus da terra da escravidão.
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.