Tudo aquilo que é narrado na Fachada Norte, da história de José à libertação de Israel, da escravidão à travessia do deserto, nos coloca diante de duas atitudes fundamentais perante a vida nova que o Espírito deseja manifestar em nós: resistência ou acolhida.
É nessa ótica que Estêvão, “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6,5), interpreta a história da salvação. Jesus destruirá o templo e modificará os costumes transmitidos por Moisés: segundo acusadores subornados para falar contra Estêvão, esse é o conteúdo da sua pregação, o que é motivo de condenação.
“As coisas são mesmo assim?”, interroga o sumo sacerdote. Estêvão responde com sabedoria: não com argumentos elaborados, mas simplesmente fazendo memória da ação de Deus junto ao seu povo. O que ele encontra aí não é uma resposta direta à pergunta, porque ele sabe que é a própria história a lançar luzes sobre a situação em que se encontra.
Por isso, Estêvão conclui: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo!” (At 7,5). O Templo e a Lei, objetos da acusação contra Estêvão, tinham se tornado para Israel não expressão da vontade do Pai, que suscita uma vida de comunhão, mas estratégias para se esquivar da novidade e da liberdade do Espírito, mantendo uma aparência de piedade e religiosidade.
A reação dos presentes só comprova o que diz Estêvão: tapam os ouvidos e avançam contra ele — e Estêvão anuncia com seu martírio o Evangelho que pregara com suas palavras. Entre os agressores, em atitude passiva, mas cúmplice, encontra-se Saulo — o futuro apóstolo Paulo.
Anos depois, quando ele escrever que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Cor 3,6), não estará falando de uma teoria, mas de algo que experimentou em sua jornada por uma religiosidade irredimida, feita de ouvidos fechados e mãos armadas.
Marcelo Costa e Victor Hugo Barros explicam sobre o retrato de Santo Estevão na Fachada Norte
Fonte: Felipe Koller
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