Por Martín Ugarteche Fernández Em Comportamento Atualizada em 01 OUT 2020 - 08H50

O que é ranço e o que Jesus diria sobre?

Uma das definições mais engraçadas de “ranço” que encontrei, depois de uma rápida pesquisa no Google, é: “até o andar da pessoa te irrita, como ela mastiga, como bate palma, a respiração, tudo”.

Algumas pessoas dizem, por outro lado, que têm “doutorado em pegar ranço”.

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Ao ler estas e outras descrições do “ranço”, lembrei da história de uma grande santa: Teresinha do Menino Jesus. Conta a história que uma das suas irmãs no Carmelo considerava Teresinha a sua melhor amiga, por todos os gestos de amabilidade e delicadeza que tinha com ela. Porém, ao ler os diários da Santa, constatamos que Teresinha simplesmente “não suportava” essa irmã. Na gíria atual, poderíamos dizer que “tinha ranço dela”. É uma constatação surpreendente, diante do convencimento geral de que “depois que o ranço se instala, não tem cura”.

Como todo sentimento, o “ranço” começa como uma reação espontânea diante de certas características de uma pessoa, que fica, então, sendo antipática para nós. Contudo, se não o rejeitamos quando aparece inicialmente, ele acaba por tomar conta de toda a nossa atitude para com a pessoa. A convivência então torna-se insustentável. Mas a coisa não termina por aí.

O “ranço” pode criar muitas vítimas. Como na frase que citei acima, parece que algumas pessoas têm “doutorado em pegar ranço”. Mas por que será isso? Penso que, se são muitas as pessoas pelas quais sentimos “ranço”, devemos parar um pouco para pensar, refletir, fazer um exame de consciência. Não será que o problema não são os outros, e sim nós mesmos? Não será que temos que repensar nossa maneira de nos relacionarmos com os demais? Como assim, ficou tão difícil serem nossos amigos?

Numa escala maior, a nível social digamos, talvez possamos encontrar na facilidade para ter “ranço” uma das explicações para o efêmero das nossas relações, para a cultura do descartável, tão denunciada pelo Papa Francisco.




Caro jovem, vou direto ao ponto: acho que, como cristãos, não podemos nos consentir ter “ranço”. Não podemos nos deixar levar por ele, que ele determine as nossas relações. Isso não significa que basta “querer” e, como por mágica, o “ranço” vai desaparecer. Mas implica, sim, que, a partir de hoje, eu e você assumamos o compromisso de começar, pelo menos, a dedicar um pequeno espaço na nossa oração para pedir por esses pelos quais sentimos “ranço”. E, depois, talvez possamos fazer algum pequeno gesto por eles, e que o façamos por amor a Deus, que é amigo de todos e não sente “ranço” de ninguém.

Também, se você sente que o “ranço” está tomando conta do seu coração, alastrando-se em todas as suas relações, isso não é motivo para perder a esperança. Pelo contrário, é uma ocasião para pedir mais ao Sagrado Coração de Jesus para que te transforme interiormente, para que você seja manso e humilde de coração. E também a Maria, Nossa Mãe, para que todos encontrem em você, assim como encontram Nela, um auxílio e uma intercessora.

Escrito por:
Martín Ugarteche
Martín Ugarteche Fernández

Peruano, membro do Sodalício de Vida Cristã. No Brasil, desenvolveu diversos projetos de evangelização da cultura, como o Concurso Literário Histórias de Natal e a Exposição Fotográfica Vida em Movimento. Doutor em Filosofia, por muitos anos foi professor. Atualmente reside em Roma, onde é responsável de uma das comunidades do Sodalício na Itália e faz parte da equipe de formação. Lançou um curso on-line de filosofia cristã, que é oferecido pelo Centro de Estudos Católicos na sua plataforma digital.

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