Nós, católicos, temos a consciência de que somos todos pecadores. Sabemos disso pelos ensinamentos da Igreja e também pela própria experiência pessoal. Falhamos todos os dias em “sermos perfeitos como o nosso Pai é perfeito”. Mas isso não é para nós motivo de desespero total, porque conhecemos também a infinita misericórdia de Deus, que nos ama, que sai ao nosso encontro e nos perdoa uma e outra vez.
Mas como parece ser difícil que tenhamos também nós a mesma atitude para com os outros, que talvez apareçam como “mais pecadores” que nós! Muitas vezes é difícil separar o pecado do pecador, para amar o último e odiar o primeiro.
Para pensar nesse assunto, vale a pena lembrar uma passagem bíblica que todos conhecemos, especialmente nesse contexto tão especial que vivemos recentemente, o Ano Jubilar da Misericórdia (2015). No Evangelho de João, lemos o seguinte:
Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério, puseram-na no meio de todos e disseram a Jesus: 'Mestre, esta mulher tem sido apanhada em flagrante adultério. Moisés nos ordenou na Lei que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?' Jesus, porém, abaixando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Como eles insistissem na pergunta, levantou-se e disse-lhes: 'Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra'. Tornando a abaixar-se, continuou a escrever no chão. Mas ouvindo esta resposta, foram saindo um a um, começando pelos mais velhos, ficando só Jesus e a mulher no lugar em que estava. (João 8, 3-9)
A atitude fundamental é muito clara. Ninguém pôde atirar a pedra, porque se reconheceram também pecadores. E mais, Jesus mesmo, que não é pecador (e poderia, portanto atirar a pedra), não a atira, mas perdoa a mulher.
Parece-me que em nossos tempos existe uma inversão de valores da seguinte maneira: ao ver um pecado escandaloso, esquecemos as nossas faltas e pensamos que somos tão puros quanto Jesus, mas muito pouco misericordiosos como Ele. Ou seja, estamos prontos para atirar a pedra e achamos que temos esse direito, inclusive o dever (porque é a lei que manda fazer isso e queremos cumpri-la).
É muito difícil reconhecer, mas precisamos pensar que, se estivéssemos nas mesmas situações que levaram uma pessoa a pecar gravemente, nós poderíamos facilmente cair da mesma maneira. Isso deve ser motivo de ação de Graças a Deus, que não nos permitiu essa caída. E deve ser também a razão pela qual não podemos simplesmente marginalizar essa pessoa, e sim procurar ter o coração como o de Jesus, que acolhe, perdoa e envia a pessoa de volta para a vida com a missão de não voltar a pecar.
Agora, também é verdade que o pecado tem consequências pessoais e sociais e, por isso, sem colocar em dúvida o perdão de Deus e a sua misericórdia, a vida da pessoa talvez precise mudar bastante. E isso acontece entre outras coisas por aquilo que Jesus comentou sobre o escândalo. Ele foi bem claro quando comentou sobre sua gravidade: “Melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. É muito duro e óbvio que Jesus não quer a morte de ninguém, mas percebe-se a gravidade do assunto.
Por isso, talvez a pessoa não possa voltar ao mesmo círculo imediatamente, e isso pode ser interpretado como uma falta de acolhida, mas não é. É pela fé dos pequeninos, que podem se escandalizar, que é preciso muita prudência em casos graves. Mas isso não modifica em nada o amor de Deus e também não deveria modificar o nosso amor pela pessoa, afinal, somos todos pecadores e indignos de atirar a primeira, a segunda ou a terceira pedra.
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