Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 01 ABR 2020 - 17H05

“Boas mentiras” podem ser boas?

Não é incomum escutar que uma mentirinha não faz mal, que pode, inclusive, ser boa, porque facilita algumas coisas, evita situações desagradáveis, faz com que a vida possa continuar sem muitas perturbações do que, pelo contrário, a verdade acarretaria. Mas será que isso é mesmo verdade? O que poderia estar por traz de uma atitude assim?

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O Catecismo no número 2475 nos lembra de que “os discípulos de Cristo ‘revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade’” (Ef 4,24). Podemos ser cristãos e não buscar viver a verdade sempre?

É evidente que não podemos. São Pedro nos diz em sua primeira epístola que devemos “rejeitar toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia, de inveja e maledicência”. É muito clara a mensagem. Porque, então, possuímos essa experiência de que algumas vezes pode ser melhor uma mentirinha aqui ou ali? Penso que isso vem de um encontro ainda insuficiente com o Senhor Jesus, que disse de ser Ele mesmo a Verdade. Quanto mais nos encontramos com Ele, mais experimentaremos que é a verdade quem nos faz realmente livres e que a mentira, seja ela de qualquer tamanho, apenas nos impede de sair de uma vez da escuridão do pecado.

O pecado e as suas consequências nos fazem buscar um caminho “alternativo” para a nossa felicidade, um caminho fora da Verdade. Faz-nos “errar o alvo” da nossa meta que é Deus e nos desvia do caminho que é Jesus. Por isso precisamos buscar sempre estar na graça de Deus, reconciliados com Ele pelo sacramento da reconciliação, porque só assim poderemos viver a verdade.

A mentira, diz Santo Agostinho, consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar. Podemos imaginar o Senhor Jesus com uma atitude dessas? Não. E se queremos ser seus seguidores, precisamos buscar viver como Ele viveu e como ele agiria em cada situação. De fato, Jesus mesmo denuncia a mentira como uma obra diabólica, nos lembra o catecismo: “Vós sois do diabo, vosso pai, (...) nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).

É verdade que existem mentiras e mentiras, o Catecismo (2484) mede a gravidade da mentira em 4 critérios:

1. A natureza da verdade que ela deforma;
2. As circunstâncias;
3. As intenções daquele que a comete;
4. Os prejuízos sofridos por aqueles que são suas vítimas.

Mas o Catecismo deixa claro que “A mentira é condenável em sua natureza”, ou seja, pode ser mais ou menos grave, mas é sempre uma falta contra a verdade e, portanto, não desejável.

 

Precisamos discernir em cada situação se é conveniente revelar a verdade àquele que a pede. 

Existe outra realidade importante que não se pode deixar de lado quando falamos sobre a mentira. É que nem todo mundo tem que saber de tudo. Querendo viver o amor fraterno, precisamos discernir em cada situação se é conveniente revelar a verdade àquele que a pede. Penso em um exemplo um pouco bobo, mas que talvez ilumine a situação: Se um ladrão te pede a chave do cofre da casa, não estamos obrigados a dizer a verdade, porque essa verdade não compete a essa pessoa. Muitas outras variáveis poderiam entrar na situação, mas penso que a ideia fica clara. O segredo de confissão é outro exemplo de verdades que não podem ser reveladas, dessa vez sob nenhuma circunstância.

Para concluir, devemos ter claro, junto com o Catecismo, que a mentira é sempre condenável por natureza porque é uma “verdadeira violência feita ao outro porque o fere em sua capacidade de conhecer” (2486).

No entanto, por experiência, sabemos que existem mentiras mais e menos graves e que a verdade não deve ser sempre revelada a qualquer um, mas é preciso um discernimento. Com esses elementos podemos buscar viver mais adequadamente a Verdade que é o que o Senhor Jesus quer para nós, sempre lembrando que somos pecadores e que, se caímos, podemos recorrer sem medo à misericórdia divina pelo sacramento da reconciliação.


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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