Já estamos terminando a quaresma e depois desse tempo especial de conversão poderíamos nos perguntar se as atitudes que tivemos realmente surtiram efeito ou não. Mas esse, penso, não é exatamente o foco desse período.
Quando nos perguntamos o que podemos fazer para melhorar, pressupomos que existe um ideal lá fora, distante, ao qual queremos nos aproximar com as nossas forças. Se esse ideal é grande demais, como por exemplo conformar-se com Jesus, talvez nos desanimemos ao ver que por mais que façamos muitas coisas, ainda é muito pouco o próximo que parecemos estar dele.
No livro “O Piloto de Guerra”, Saint Exupéry parece que nos mostra uma perspectiva distinta, que pode nos ajudar a entender melhor a proposta do cristianismo. Ele diz:
O que é preciso fazer? Isto. Ou o contrário. Ou outra coisa. Não há determinismo do futuro. Que é preciso ser? Eis a questão essencial, pois só o espírito fertiliza a inteligência. Ele a engravida da obra vindoura. A inteligência a conduzirá a termo. O que deve fazer o homem para criar o primeiro navio? A fórmula é complicada demais. Esse navio nascerá, ao final das contas, de mil tateios contraditórios.
Mas esse homem, o que deve ser? Aqui tomo a criação pela raiz. Ele deve ser mercador ou soldado, pois, então, necessariamente, por amor das terras longínquas, suscitará os técnicos, fará transpirar os operários e lançará, um dia, seu navio” O que é preciso fazer para que toda uma floresta pegue fogo? Ah, é muito difícil... O que é preciso ser? É preciso ser incêndio!
No fundo, na vida cristã, o mais importante não é o que se faz ou se deixa de fazer. O ponto fundamental é ser verdadeiramente cristão. Sendo padre, leigo, freira, monge ou casado, o crucial é viver esse ser novo que recebemos quando fomos batizados.
Certamente, no dia do nosso batizado e depois no dia da nossa confirmação, recebemos um fogo muito mais potente, capaz de incendiar muito mais que qualquer floresta. Recebemos o próprio Espírito Santo que ilumina nossa inteligência. Se deixamos que Ele verdadeiramente tome conta da nossa vida, se formará um santo totalmente único para a vida da Igreja e do mundo.
Em um sentido, estamos todos como essa pessoa que está querendo construir o primeiro navio. O primeiro e único, já que ninguém, nem antes nem depois de nós, poderá construir uma vida santa como a que cada um de nós é chamado a construir. Se estamos deixando que o Espírito Santo guie com seu fogo, erraremos bastante, mas cedo ou tarde o projeto de Amor de Deus vai se realizar em cada um de nós. A grande pergunta seria, então, se estamos querendo fazer coisas demais quando deveríamos nos concentrar em ser mais quem realmente somos.
Os meios quaresmais ajudam a que esse fogo interior se acenda ainda mais? Ou são apenas práticas externas que acabam até abafando esse ardor? O que é preciso fazer para ser uma pessoa melhor?
Há tantas opções! Cada um, se vive realmente de acordo com a sua identidade de cristão, fará o melhor com as circunstâncias que lhe são apresentadas por Deus. E desse esforço, animado e sustentado pelo fogo do mesmo Espírito, podemos confiar que sairá um homem a imagem de Deus. Sairá um santo. Sairá um outro Cristo.
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