Mais de uma vez comentei um tipo de pergunta comum na pastoral juvenil, sobre “o que pode” e “o que não pode”. Citei um amigo meu que, ao invés de focar no “pode” ou “não pode”, busca formar a consciência do jovem. Assim, reformula-se a pergunta: “e por que você faz/faria isso?”.
Voltemos à pergunta inicial. Para além do ato concreto, qual o significado da ação? Por exemplo, para a pessoa que busca fazer recorde numa festa, de quem conseguiu “ficar” com mais pessoas. É claro que para atingir sua meta, está usando das pessoas para tentar mostrar algum tipo de habilidade especial, ou de estranha superioridade.
No exemplo citado se vê quão problemático pode ser o ato de "ficar com alguém". Pensemos numa outra situação. Uma pessoa que você gosta, com a qual tem um relacionamento de anos. “Ficar” com essa pessoa num momento/lugar especial pareceria uma forma romântica de começar o namoro.
Leia MaisMenina Benigna, a heroína da castidadeMas, é uma situação na qual se não se fala claro do início, haverá problemas. Num relacionamento amoroso, há duas partes se o sinal do início é ambíguo, pode acontecer que cada parte ache (e espere) algo diferente do relacionamento.
Vejamos o ensino do Catecismo (nº 2332) a respeito da sexualidade.
"A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem".
As formas de nos relacionarmos com pessoas do sexo oposto têm que levar em conta esses pontos: afetividade, capacidade de amar e de criar laços de comunhão.
Acrescenta o nº 2336:
"Jesus veio restaurar a criação na pureza das suas origens. No sermão da montanha, interpreta de modo rigoroso o desígnio de Deus: ‘Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração (Mt 5, 27-28)".
Por isso, aprofunda na virtude da castidade (nº 2337 e 2339). Ela "significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa (...) implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz".
Esclarece ainda (nº 2350) que "os noivos são chamados a viver a castidade na continência. Eles farão, neste tempo de prova, a descoberta do respeito mútuo, a aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem um ao outro de Deus.
Reservarão para o tempo do matrimônio as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade".
Assim, a união conjugal, seus atos preliminares e suas manifestações estão reservadas para o tempo do matrimônio.
Considerando todos estes pontos vemos que o ato de "ficar com alguém" no melhor dos casos (para dizê-lo de alguma forma) é algo confuso, e nos demais realmente atenta à construção da virtude da castidade. Entendendo por castidade não apenas a continência, mas uma reta aproximação à afetividade, à capacidade de amar e à capacidade de criar laços de comunhão.
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