Crescendo na Fé

Mateus, um publicano chamado a ser apóstolo

Martín Ugarteche

Escrito por Martín Ugarteche Fernández

21 SET 2018 - 13H15 (Atualizada em 21 SET 2022 - 07H37)

Reprodução: Wikipedia

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Numa das capelas laterais da capela “São Luiz dos Franceses”, em Roma, encontram-se três pinturas de Caravaggio, retratando três momentos da vida do apóstolo São Mateus.

Em primeiro lugar, é retratada a sua vocação. O então publicano está sentado à mesa de jogos com outros quatro personagens. Jesus, acompanhado por Pedro, aponta para Mateus, que é iluminado por uma luz que vem de uma janela invisível - a Graça -, atrás de Jesus.

Reprodução
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A mão de Jesus, que aponta para Mateus, lembra a mão de Deus na cena da Criação da Capela Sistina. Caravaggio quis, com isso, mostrar que a vocação, a chamada de Deus, é uma nova criação, na qual a pessoa é tomada de surpresa pela força transformadora da Graça divina.

É o que de fato aconteceu com Mateus, que na cena é iluminado pela luz que vem de Cristo e aponta para si mesmo, como que perguntando: “É a mim que estás chamando?”

De acordo com os Evangelhos, Mateus respondeu prontamente ao chamado de Jesus e ofereceu um jantar em sua casa (Cf. Mc 2,13-17), convidando seus amigos e também o Mestre, para comemorar o acontecimento.

Todas as situações humanas são iluminadas pelo Evangelho; basta uma mínima abertura do nosso coração para que a Semente do Reino comece a germinar.

É o que vemos no caso de Mateus e de muitos outros, que foram chamados por Deus em meio a situações corriqueiras, cotidianas: o jogo numa taverna, um jantar com os amigos, o trabalho árduo e frustrante, como foi o caso dos quatro primeiros apóstolos.

Além de ser autor de um dos Evangelhos sinóticos, Mateus consagrou a sua vida ao anúncio do Evangelho, chegando a coroar a sua missão com o martírio. O seu Evangelho, escrito em aramaico, estava endereçado originalmente a um público judeu, e buscava mostrar ao povo escolhido que em Jesus se cumpriam todas as promessas da lei e dos profetas.

Provavelmente você, que lê este artigo, não está chamado a deixar tudo para seguir Cristo, como foi o caso de Mateus. Provavelmente, como alguns personagens do Evangelho, a quem Jesus pediu que ficassem na sua cidade, anunciando o Evangelho entre seus irmãos, você está chamado a ser apóstolo em meio a situações e contextos já conhecidos: a família, o trabalho, o esporte, a saúde, o bairro, a política.

Pelo Batismo, todos nós, cristãos, somos chamados ao apostolado, a sermos como Pedro ao lado de Cristo, no quadro de Caravaggio, com o bastão na mão, simbolizando a Igreja Peregrina ao longo dos séculos.

Em sua primeira Carta Encíclica, “Redemptor Hominis” (n. 14), João Paulo II lembrava que o caminho da Igreja é o homem, fazendo eco ao impulso evangelizador dado pelo Concílio Vaticano II. A Graça de Deus realmente pode transformar-nos e transformar o mundo à nossa volta, as situações humanas, às quais um cristão não é indiferente.

A grande mudança, porém, se produz a partir do nosso coração, na maneira como vivemos as situações objetivas que nos toca enfrentar no dia-dia. Como dizia São Paulo, eu vivo esta minha vida na carne em Cristo Jesus (Cf. Gl 2,20), e não alguma outra vida imaginária, idealizada, ajustada às minhas expectativas subjetivas.

Antes mesmo da vocação de Mateus, outros publicanos aparecem nos Evangelhos, em diálogo com João Batista, precursor do Messias, que chamava com insistência o povo todo à conversão. Eles queriam saber o que deveriam fazer. A resposta do Batista não contém nada de espetacular: “Não deveis exigir nada além do que vos foi prescrito” (Lc 3,13).

A grande novidade, porém se encontra na conversão, a partir de dentro, de toda a nossa realidade, na forma de uma semente que vai germinando. Mais do que algo que nós possamos produzir com os nossos esforços, essa transformação é uma obra que Deus realiza em nós (Cf. Fl 1,6).

Escrito por
Martín Ugarteche
Martín Ugarteche Fernández

Peruano, membro do Sodalício de Vida Cristã. No Brasil, desenvolveu diversos projetos de evangelização da cultura, como o Concurso Literário Histórias de Natal e a Exposição Fotográfica Vida em Movimento. Doutor em Filosofia, por muitos anos foi professor. Atualmente reside em Roma, onde é responsável de uma das comunidades do Sodalício na Itália e faz parte da equipe de formação. Lançou um curso on-line de filosofia cristã, que é oferecido pelo Centro de Estudos Católicos na sua plataforma digital.

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