Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 03 ABR 2019 - 14H44

Por que temos tanto medo do futuro?

O final do ano é sempre um momento de reflexão sobre o que passou e de projetos para o que virá. Recentemente me deparei com um texto de um filósofo chamado Fabrice Hadjadj que me fez refletir bastante sobre o futuro e nas mudanças que ele traz.

Esse texto faz parte de um livro que se chama “Porque tudo está em vias de destruição” e, evidentemente, diz respeito ao que nós entendemos pelo apocalipse. Mas na introdução, o filósofo faz uma distinção muito interessante entre o futuro e o porvir, que é o motivo do presente texto.

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Futuro e porvir são tidos normalmente por sinônimos. Mas a proposta do texto é diferenciá-los no seguinte sentido:

O futuro estaria ligado a tudo o que é planejado. São os nossos planos de ações, calculados com base naquilo que somos e nas possibilidades que enxergamos no nosso horizonte. Ele seria comparado ao desenvolvimento de uma semente.

O porvir, por outro lado, estaria ligado ao futuro inesperado, a acontecimentos que chegam de surpresa, que vão além dos nossos cálculos. Ele é comparado a chegada abrupta de um ladrão. Ninguém se prepara para o momento que um ladrão chega. O futuro está ligado ao previsível, o porvir ao inesperado.

No âmbito do porvir encontramos a morte, o amor, o outro enquanto outro. Essas realidades chegam e transformam a nossa vida de formas inimagináveis. E aqui nos deparamos com uma tentação que se faz especialmente forte nos dias de hoje. A tentação de ver o porvir sempre como algo negativo. Isso acontece muito hoje porque cada vez mais queremos ter as coisas controladas, no âmbito do futuro e não do porvir. Tudo aquilo que sai dos nossos planos parece ser um estorvo para a nossa felicidade e bem-estar. Evidentemente a morte entra nesse aspecto, mas também os muitos casos de aborto nos mostram como mesmo a vida pode parecer um empecilho no nosso caminho.

Porque queremos ter tudo controlado, temos medo do novo. Medo daquele porvir que pode mudar completamente o rumo da nossa vida. E o maior dos porvires, dos acontecimentos inesperados que transformam a nossa vida, é exatamente a vinda de Cristo que celebramos no Natal. Que Deus se faça homem é algo inimaginável para o povo do antigo testamento e, no entanto, é a realidade. E acontece com Jesus o mesmo com que acontece com qualquer outro porvir. Temos medo.

De fato, se olhamos nas Escrituras, todos que de verdade se encontraram com Ele tiveram suas vidas mudadas radicalmente. Muitas vezes essa mudança veio com sua dose de sofrimento (só pensar nos apóstolos e na maneira com que morreram dando sua vida por Jesus). Mas a vinda de Cristo, apesar de dar uma bagunçada na nossa vida, a coloca em seu verdadeiro rumo, nos mostra a nossa verdadeira identidade de filhos e filhas de Deus.

Os projetos e cálculos são importantes. É preciso planejar um futuro bom para si mesmo e para os irmãos. Mas esses projetos, se não estão abertos aos porvires e, sobretudo, ao porvir de Cristo, estão fadados ao fracasso. Um dos maiores males do nosso tempo, segundo o filósofo citado, é justamente essa confiança exacerbada em tudo aquilo que podemos calcular, tentando fazer desaparecer o porvir. Mas a realidade é outra.

O futuro deve estar sempre subordinado ao porvir. E a nossa confiança de cristãos é de que o último porvir, Cristo mesmo, é sumamente bom. Cristo é a segurança que nos permite enfrentar o medo do novo. Ele garante que por mais que a vida saia do nosso controle, Deus não perde o controle daqueles que Ele mesmo criou para a felicidade eterna.


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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