Nos primeiros séculos da Igreja, um grande desafio foi se posicionar a respeito de quem era Jesus. Olhando à distância, podem parecer discussões quase inúteis, de especialistas. Mas, se prestarmos atenção, vamos perceber que uma afirmação errada pode levar a desvios muito profundos (um risco que ainda hoje está à espreita).
A primeira destas vertentes, conhecida como gnosticismo, errava ao afirmar que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, não podia ser homem. Não podiam conceber que Deus partilhasse a natureza humana, tão frágil e limitada.Mas assim esvaziavam a maravilhosa ação pela qual Deus, fazendo-Se verdadeiro homem, leva todos os seres humanos consigo para participar da natureza divina.
Leia MaisHomilia JM: Você já se perguntou quem é Jesus?Depois houve outra, que não foi menos grave. Mais de um já deve ter ouvido falar do arianismo. Propunham que Jesus Cristo era um ser elevadíssimo, a mais alta entre as criaturas, mas criatura, enfim. Isto é grave pois se Jesus fosse criatura e não Deus, a sua ação Redentora seria no fim das contas ineficaz.
Estas discussões a respeito de quem era Jesus duraram muitos séculos. Aí vem o valor do conceito de hipóstase (ou pessoa). Por um lado, ele ajudou a afirmar que há um só Deus em três hipóstases (ou pessoas).
Assim, o Filho pode ser reconhecido como verdadeiro Deus junto com o Pai, sem por isso contradizer a fé monoteísta do judeu-cristianismo (este é um grande mistério sobre o qual se escreveram muitíssimos livros, umas poucas linhas não dão conta de dizer o suficiente sobre ele).
Por outro, afirmou que na mesma hipóstase (ou pessoa) do Filho Unigênito, o Verbo, podiam estar unidas a natureza divina e a natureza humana. Eis o significado da união hipostática e seu lugar nessa ardente busca da identidade de Cristo.
O Catecismo (nº 468) explica que:
“o quinto Concílio ecumênico, reunido em Constantinopla em 553, confessou a propósito de Cristo: ‘não há Nele senão uma só hipóstase (ou pessoa), que é nosso Senhor Jesus Cristo, um da santa Trindade’.
Tudo na humanidade de Cristo deve, portanto, ser atribuído à sua pessoa divina como seu sujeito próprio; não só os milagres, mas também os sofrimentos e a própria morte: ‘Aquele que foi crucificado na carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e um da Santíssima Trindade’ ”.
Leia MaisComo devemos demonstrar nosso amor a Jesus?Estas explicações todas – que podem parecer um pouco complicadas para quem não está familiarizado – podem ser resumidas na confissão da Igreja de “que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem, nosso irmão, e isso sem deixar de ser Deus, nosso Senhor: ‘Continuou a ser o que era e assumiu o que não era’ ” (Catecismo, nº 469).
É esse Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que se faz nosso companheiro de caminho e nos oferece o dom maior: a vida divina (ou seja,a salvação).
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