Crescendo na Fé

O que São Francisco de Assis diria aos jovens de hoje?

Escrito por Luciana Gianesini

04 OUT 2020 - 09H00 (Atualizada em 04 OUT 2023 - 11H03)

meunierd/ Shutterstock

São Francisco de Assis nasceu em 05 de julho de 1182, em Assis, na Itália. Ele foi um jovem que viveu intensamente o versículo da Carta aos Romanos que diz:

“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa maneira de pensar (...), segundo a vontade de Deus” (cf. Rm 12,2). 

Um famoso teólogo escreveu, certa vez, um artigo que traz uma imaginária mensagem de São Francisco de Assis, como se ele a tivesse escrito para os jovens de hoje. O texto é um tanto longo, mas vale muito a pena ler e refletir!

Leia abaixo:

Reprodução.
Reprodução.
São Francisco de Assis.


Queridos jovens, meus irmãos e minhas irmãs,

Como vocês, também fui jovem. Era filho de um rico comerciante de tecidos: Pedro Bernardone. Com ele fui às famosas feiras do sul da França e da Holanda. Aprendi francês e conheci um pouco o mundo, especialmente a música dos jograis e as cantigas de amor da Provence.

Minha festiva juventude

Meu pai, muito rico, me proporcionou todas as facilidades. Eu liderava um grupo de jovens boêmios, que adoravam passar muitas horas à noite nos becos das ruas, cantando poemas de amor cortês e ouvindo menestréis que narravam histórias de cavalaria. Fazíamos festins e muita algazarra. Assim se passaram vários e alegres anos.

Depois de algum tempo, comecei a sentir um grande vazio dentro de mim. Tudo aquilo era bom, mas não me preenchia. Para superar a crise, tentei ser cavaleiro e fazer façanhas em batalhas contra os mouros. Mas, no meio do caminho, desisti. Entrei num mosteiro para orar e fazer penitência. Mas logo percebi que esse não era o meu caminho.

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O chamado para reconstruir a Igreja em ruínas

Lentamente, porém, começou a crescer dentro de mim um estranho amor pelos pobres e profunda compaixão pelos hansenianos, que viviam isolados, fora da cidade. Lembrava-me de Jesus que foi também pobre e o muito que sofreu na cruz.

Certo dia, quando entrei numa igrejinha, de nome São Damião, fiquei longamente contemplando o rosto chagado do Cristo Crucificado. De repente, me pareceu ter ouvido uma voz vindo dele: ”Francisco, vá e repara a minha igreja que está em ruinas”.

Aquelas palavras calaram fundo no meu coração. Não conseguia esquecê-las. Comecei, com minhas próprias mãos, a reconstruir uma pequenina e velha igreja em ruinas, chamada de Porciúncula.

Depois, pensando melhor, me dei conta de que aquela voz se referia à Igreja feita de homens e de mulheres, de prelados, abades, padres, não excluindo o próprio Papa. Ela estava em ruína moral. Grassavam muitas imoralidades, fome de poder, acumulação de riquezas, construções de palácios de cardeais, de papas e suntuosas igrejas. Tudo aquilo que Jesus seguramente não queria de seus seguidores.

A descoberta do evangelho e dos pobres

Achei por bem beber da fonte genuína da reconstrução da Igreja: os evangelhos e o seguimento de Jesus pobre. Ninguém me inspirou ou mandou; mas foi Deus mesmo que me conduziu ao meio dos hansenianos. E tive imensa compaixão deles. Aquilo que antes achava amargo, agora, pelo amor compassivo, se me tornava doce. Comecei a pregar pelos burgos as palavras de Cristo, em língua popular que todos entendiam. Via nos olhos da pessoas que era isso que esperavam e queriam ouvir.




Todos os seres da criação são nossos irmãos e irmãs

Nas minhas andanças, me fascinava a beleza das flores, o canto dos passarinhos, o ruído das águas dos riachos. Tirava do caminho poeirento a minhoca para não ser pisada. Entendi que todos tínhamos nascidos do coração do Pai de bondade. Por isso, éramos irmãos e irmãs: o irmão fogo, a irmã água, o irmão e Senhor Sol e a irmã e a Mãe Terra.

Muitos antigos companheiros de festas e diversões se juntaram a mim. Uma bela e querida amiga, Clara de Assis, fugiu de casa e quis compartilhar a nossa vida simples. Começamos um movimento de pobres. Nada levávamos conosco. Apenas o ardor do coração e a alegria do espírito. Trabalhávamos nos campos ou pedíamos esmolas. Queríamos seguir os passos de Cristo humilde, pobre e amigo dos pobres. Tive a compreensão do Papa Inocêncio III que aprovou, não sem hesitações, o caminho que eu e meus companheiros queríamos seguir.

Depois de alguns anos, já éramos uma multidão, a ponto de eu não saber mais como abrigar e animar tanta gente. O resto da história vocês conhecem. Não preciso repeti-la. Com o apoio do Papa daquele tempo, criou-se a Ordem dos Frades Menores, com diversos ramos, que persiste até os dias de hoje.

Vejam, queridos jovens, irmãos e irmãs meus queridos. Tive uma experiência que certamente vocês, como jovens, também tiveram ou estão tendo: de roda de amigos, de festas e de folias. Portanto, temos algo em comum.

Mas aproveito agora que estamos juntos para dizer-lhes algumas coisas que considero de suma importância para os tempos atuais. (colocamos em tópicos para facilitar!)

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1. A Mãe Terra está doente e com febre:
(...) 
O clamor da natureza se faz ouvir de forma cada vez mais forte. Nossa querida Mãe Terra está doente e com febre, pois, já há muito tempo, a estamos superexplorando. (...) Devemos urgentemente fazer uma aliança global de cuidar da Terra e uns e dos outros, caso não quisermos conhecer grandes dizimações que afetarão toda a comunidade de vida. (...)

2. Colocar o coração no centro de tudo: (...) Temos que mudar a nossa mente e o nosso coração. Mudar a mente para olhar a realidade com outros olhos. Os olhos das ciências hoje nos comprovam que a Terra é viva (...)  Ela é mãe generosa. Precisa ser cuidada, amada e respeitada como o fazemos com nossas mães. (...)

3. Proteger a Mãe Terra, cuidar da vida e optar pelos pobres: (...) importa nunca esquecer os pobres do mundo. São milhões e milhões de irmãos e irmãs que nos atualizam a paixão de Jesus. Eles devem ser reforçados em suas lutas e movimentos para se libertarem da pobreza que Deus não quer, porque ela os faz morrer antes do tempo. A fome é assassina e nós não podemos permitir esse crime coletivo.

Em seguida faz-se urgente proteger a Mãe Terra e cuidar da vida. Ambas estão ameaçadas. (...) Encostamos nos seus limites. Porque continuamos a forçar estes limites, a Terra responde com tufões, enchentes, secas, terremotos e tsunamis. Esse modelo agressivo de habitar o mundo, cumpriu sua missão histórica. A continuar assim, pode nos causar grandes prejuízos e eventualmente ameaçar a espécie humana. Temos que mudar se quisermos sobreviver(...)

4. Sejam a mudança que querem para os outros

Caros jovens: sejam vocês mesmos a mudança que querem para os outros. Comecem vocês mesmos a viver o novo, respeitando cada um dos seres da natureza, cada planta, cada animal, cada paisagem porque eles possuem um valor intrínseco e em si mesmo, independente do uso racional que fizermos deles. (...) Resistam à cultura da acumulação e do consumo. Pensem nos outros irmãos e irmãs que são milhões e milhões que vivem e dormem com fome e com sede e passando por grandes padecimentos. (...)

5. Alimentar a dimensão da espiritualidade na vida

Por fim, caros jovens, irmãos e irmãs meus queridos: nada disso tudo que refletimos terá eficácia se não misturarmos Deus em todos os nossos empreendimentos. Ele não está em parte nenhuma, porque está em todas as partes. Mas está principalmente no coração de vocês.

Dentro de cada um de vocês queima uma brasa viva e arde uma chama sagrada: é a presença misteriosa e amorosa de Deus. (...) Nunca abandonem Deus, porque Ele nunca os abandona e abandonará. Vivam como quem se sente na palma de sua mão. E então estarão protegidos porque Ele é Pai e Mãe de infinita ternura.

6. A última palavra pertence ao Deus da vida

Desde que o Filho de Deus por Jesus assumiu a nossa humanidade, ele assumiu também uma parte da Terra e dos elementos do universo. Portanto, estes já foram divinizados e eternizados. Nunca mais serão ameaçados. Mas nós podemos. (...) Por isso, confiemos todos, que Ele vai proteger a nossa querida Mãe Terra e garantir o futuro da vida que é o futuro de vocês todos. (...)

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Era o que queria, do fundo de meu coração, lhes falar.

Por fim, faço-lhes um pedido muito especial: rezem, apoiem, colaborem com o Papa que leva o meu nome, Francisco. Ele vai restaurar a Igreja de hoje como eu tentei restaurar a Igreja do meu tempo. Sem a ajuda de vocês, se sentirá fraco e terá grandes dificuldades. Mas com o entusiasmo e o apoio de vocês, com as orações nos seus grupos e movimentos, ele vai cumprir a missão que Jesus lhe confiou: conferir um rosto confiável à nossa Igreja e confirmar a todos na fé e na esperança. Com vocês, ele será forte e irá conseguir.

Agora, antes de nos despedirmos, lhes darei a bênção que um dia dei ao meu íntimo amigo Frei Leão, a ovelhinha de Deus:

Que Deus vos abençoe e vos guarde!

Ele mostre sua face e se compadeça de vós!

Que volva o seu rosto para vós e vos dê a paz!

Que Deus vos abençoe!

Paz e Bem!

Francisco, o Poverello e Fratello de Assis

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