Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 03 ABR 2019 - 14H48

Viver em comunidade: Panelinha ou apostolado?

Uma das coisas que Jesus fez quando caminhou entre nós foi chamar um grupo de pessoas, os apóstolos, para que estivessem mais próximos dele. Eles aprenderam com Jesus em primeira mão, da boca do próprio Mestre, de sua maneira de viver, do testemunho dos testemunhos de uma vida santa. Podemos dizer que Jesus fez sua panelinha?

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Hoje em dia podemos ver muitas pessoas que se deixam envolver com determinados grupos na busca por um lugar onde se experimentem acolhidas, compreendidas, mas que acabam se fechando para o resto do mundo, inclusive segregando e menosprezando quem não se ajusta aos seus pensamentos. O grupo de Jesus era diferente? De que maneira?

Em primeiro lugar, para os cristãos é compreensível que os homens tenham essa tendência a se organizar em grupos. Somos criados pelo Amor e para o Amor. E o amor é entrega, doação de si aos demais, é serviço. Isso nos deixa claro que não se pode ser feliz sozinho e por mais que nos esqueçamos de Deus, essa natureza humana reclama o encontro com o outro e, finalmente, com o Outro por excelência. De forma concreta, essa necessidade de amar nos leva sempre a aproximar-nos dos demais. É verdade que esse amor pode estar deturpado (e muitas vezes está realmente), mas é sempre essa força que nos move.

E os grupos que se fecham em si mesmos são exatamente uma expressão concreta de uma tentativa de viver o amor que foi deturpada de algum modo. O que também é compreensível em alguma medida. Se pensamos no caos que é o mundo em que vivemos como, por exemplo, na grande violência que vemos por aí, nas injustiças que presenciamos e nas desigualdades em geral, a melhor solução pode parecer a de se encerrar em um lugar seguro, onde não possam nos fazer mal. Mas que seja compreensível, não quer dizer que seja o correto, nem que seja o melhor.

 

Se ousamos sair de nós mesmos, podemos nos acidentar algumas vezes, mas essa atitude é vital para a nossa felicidade!

O coração do homem não se contenta com um reduto de “paz” em meio ao caos. Por mais perigoso que possa ser lá fora, o coração do homem parece querer abraçar esse mundo quando olha para dentro de si e percebe uma fome infinita de ser feliz. Se olharmos com sinceridade para o nosso interior, vamos perceber que nada de finito pode saciar esse coração inquieto. Ele descansa apenas em Deus, como já o disse Santo Agostinho em suas confissões. E é nesse ponto que precisamos voltar ao grupo de Jesus e ver o que ele nos propõe.

O grupo do Senhor não era fechado em si mesmo, pelo contrário, sua razão de existir era exatamente o de estar mais preparados para ir ao mundo inteiro e pregar o Evangelho. Os apóstolos eram um grupo de homens simples que, com Deus no centro, tinha a missão de “abraçar” o mundo com a Palavra de Deus. Levar ao mundo inteiro Aquele que mostra para os homens quem eles realmente são e também revela sua sublime vocação divina (Gaudium et Spes 22). Por ser dessa maneira, aberto a todos, que sai em busca dos demais, é um grupo que tem a capacidade de preencher o coração do homem.

Hoje a Igreja é esse grupo de Deus que está aberto aos demais, em saída como diz o Papa Francisco. Aliás, o Santo Padre se preocupa tanto que a Igreja não se torne um grupinho fechado, que disse já algumas vezes preferir uma Igreja acidentada do que uma Igreja doente (uma Igreja fechada em si mesma).

É verdade que se ousamos sair de nós mesmos, podemos nos acidentar algumas vezes, mas essa atitude é vital para a nossa felicidade, para nossa salvação e para a salvação de muitas pessoas que precisam encontrar-se com o Amor de Deus. Não concitamos em viver em uma comunidade fechada, doente. Viver em comunidade, como cristãos, exige que saiamos de nós mesmos, que vamos ao encontro dos demais.


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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