Poucas são as formas de entretenimento criadas pelo homem que ainda perseveram nos atuais e digitais dias. Dentre as resistentes invenções voltadas à diversão coletiva, podemos citar o teatro, a música, a pintura, a dança e o circo, que basicamente incorporou todas as outras de maneira lúdica e mágica.
Das montagens mais simples nas periferias mundo afora, às milionárias como Cirque du Soleil, o espetáculo jamais abriu mão de alguns elementos icônicos como o picadeiro, a lona e o palhaço, personagem responsável pelo alívio cômico que encanta crianças e alivia a tensão dos adultos.
A alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo
Produzido pelo experiente ator e praticamente novato diretor Selton Mello, O Palhaço (filme de 2011, rodado no interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais) nos leva a acompanhar a jornada de Benjamim, mais conhecido como Palhaço Pangaré, filho de Valdemar, o Palhaço Puro Sangue, durante a década de 1970.
Logo nas primeiras cenas, vemos algo difícil de imaginar: um palhaço que nasceu com o dom de fazer as pessoas felizes, mas que não consegue ter alegria na própria vida!
Fora do palco, Benjamim é um sujeito introvertido, simplório, apático e que não sente mais nenhum entusiasmo em fazer os outros rirem, em executar todo dia a mesma coreografia, contar as mesmas piadas e viver uma rotina sem ambições e sonhos.
Assim como geralmente ocorre no mundo real, a personagem nasceu no circo e nele se criou, desconhecendo o mundo ao seu redor e todas as oportunidades que este oferece. O palhaço Pangaré anseia em ver a luz do mundo fora de sua caverna e deseja ardentemente comprar um pequeno ventilador, em alusão à liberdade que novos caminhos podem proporcionar.
O longa reforça a tristeza da personagem principal através de poucos diálogos e trilha sonora melancólica, além de explorar as dificuldades financeiras de um pequeno circo que sobrevive de poucos espectadores e pequenas cidades rurais, lindamente fotografadas por Adrian Teijido, que consegue extrair planos poéticos de canaviais e estradas de terra vermelha. O ponto máximo se encontra no belíssimo plano sequência na cena final. Aliás, a produção de forma geral foi muito feliz com a montagem, fotografia, escolha de um casting afiado e naturalmente engraçado, além de uma Direção de Arte precisa!
A esperança nasce no circo
Sabendo que a vida é feita de escolhas e que somos os resultados de cada decisão que tomamos ou deixamos de tomar, Benjamim inicia nova jornada de descobertas, frustrações e aprendizados. Ele logo percebe que o mundo, além de frio e entediante, não é tão colorido quanto pensava. O Circo Esperança fica para trás, porém as pessoas “comuns” em nada se diferem daqueles artistas extravagantes, a considerar o delegado Justo (Moacyr Franco), o atendente da Prefeitura (Luiz Alves Pereira Neto, o Ferrugem) e o chefe Nei (vivido por Jorge Loredo, o famoso Zé Bonitinho).
Se redescobrir como ator é o argumento central deste filme, assim como foi para Selton Mello durante uma crise existencial prévia ao longa. Marcelo Vindicato e Selton conseguiram, de forma competente, produzir um texto simples, porém sem falhas. O objetivo desejado é alcançado e a ele é agregada a instituição “família” como bônus, corroborando e alicerçando a história, além de transmitir uma bela lição de vida. Não importa quais caminhos escolhemos desde tenhamos uma meta e apoio daqueles que amamos. Como diria o velho Puro Sangue, “Na vida a gente tem que fazer o que sabe fazer. O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço!”.
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