De forma inédita neste ano, a 61ª Assembleia Geral da CNBB, realizada no Santuário Nacional de Aparecida, foi iniciada com um retiro espiritual ministrado pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, finalizado nesta quinta-feira (11).
Em sua primeira fala, Parolin relembrou uma declaração do Papa Francisco de 2013 durante sua visita ao Brasil. “Penso nos Bispos nas florestas, subindo e descendo os rios, nas regiões semiáridas, no Pantanal, na pampa, nas selvas urbanas das megalópoles. Amem sempre, com total dedicação, o seu rebanho!”.
Assim, o Cardeal enfatizou o empenho dos bispos e, principalmente, o compromisso com as regiões mais desafiadoras do país. O retiro teve como base, três pilares da Sinodalidade, refletida desde 2019 pelo Santo Padre: comunhão, participação e missão. Estes termos representam a essência mais profunda da Igreja e refletem sua origem transcendente. O retiro convidou os bispos a contemplarem em silêncio e saborear nas profundezas do nosso espírito a beleza da Igreja sinodal, como manifestação da própria vida do Deus Trino.
Comunhão: raio de luz no rosto da Igreja
O secretário do Vaticano exaltou a necessidade de trabalhar em equipe, buscando o bem comum, reconhecendo a diversidade como riqueza, e evitando facções, interesses individuais e rivalidade. Ele baseou sua reflexão na primeira carta de Paulo à comunidade de Corinto, explorando a relação entre o corpo e a sinodalidade, e afirmando que “a Igreja é realmente o seu Corpo, o seu ‘prolongamento’ na história e no mundo”.
“Os cristãos formam, todos juntos, um corpo que pertence ao Senhor glorioso e sobre o qual Ele infunde a sua própria vitalidade divina através da rica pobreza da vida sacramental. Todos os membros da comunidade cristã são chamados a colaborar e caminhar juntos porque, embora sob títulos diversos e com responsabilidades diferentes, fazem parte de um único Corpo”, disse o Cardeal.
Participação é sinônimo de construção
Durante sua segunda reflexão, o secretário de Estado do Vaticano comparou a Igreja a um edifício único, onde cada um tem o seu lugar e papel a desempenhar, enfatizando a necessidade de se ver a Igreja como um “canteiro de obras aberto”, sempre em contínuo crescimento e nunca concluído. Segundo Parolin, os cristãos são “pedras vivas” que devem se aproximar da rocha que é o próprio Cristo, definido como “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e valiosa aos olhos de Deus” (Sl 118, 22).
“Não devemos pensar apenas na restauração da Igreja, considerando-a como se fosse um edifício em ruínas; devemos, pelo contrário, sonhar com uma construção inédita, original, partilhada com todos os componentes do Povo Santo de Deus. A participação de todos na construção da Igreja será um raio de luz de Cristo que ilumina cada homem e mulher do nosso tempo. A virtude da paciência é talvez a mais necessária para aqueles que têm a tarefa nada fácil de fazer convergir na unidade os vários componentes da comunidade, para edificá-la na caridade”.
Momento com a Misericórdia
Durante o retiro foi realizada uma Celebração Penitencial, onde os bispos puderam refletir sobre o caminho proposto pela Quaresma e pela Campanha da Fraternidade, focando na amizade social e na fraternidade entre irmãos. Após um momento de reflexão e do sacramento da Reconciliação, em que os bispos ouviram e orientaram uns aos outros, a celebração foi concluída com um louvor a Deus por sua misericórdia.
Missão em anunciar a luz de Cristo
No último dia do retiro, Cardeal Parolin explica que a missão brilha na natureza comunicadora do Povo de Deus, que não caminha pelo mundo e pela história apenas para sua própria preservação, mas com o objetivo de servir à presença do Reino e anunciar Cristo àqueles que não O conhecem.
Ele enfatizou que o impulso inicial da missão deve estar enraizado na consciência de que a força não vem de nós mesmos, mas da presença de Cristo e do Espírito em nós.
“Tal é o peso da responsabilidade dos anunciadores, que, se por um lado certamente não podem 'produzir' a adesão de fé nos ouvintes, por outro têm o dever obrigatório do anúncio a todos, porque está em jogo nada menos que a sua salvação. É evidente o fato de que o mandato do Ressuscitado pressupõe ir além da figura histórica dos primeiros enviados. É necessário que, no curso do tempo, muitos outros venham substituir os apóstolos, partilhando com eles a mesma responsabilidade redentora para toda a humanidade”.
Concluindo o retiro, o Cardeal italiano exortou que o desafio para nós cristãos em nos sentirmos “um único todo, um sujeito coletivo que pensa, reza, ama, sofre, espera, decide e caminha em conjunto”.
Também relembrou o contexto em que a Igreja vive, destacando os eventos futuros da segunda etapa do Sínodo, em outubro de 2024, e o Jubileu de 2025, e que o caminho sinodal tem como meta a vida eterna em Deus. O secretário de Estado Ele expressou o desejo de que a luz divina, que brilha no rosto da Igreja, ilumine o caminho sinodal de participação, comunhão e missão no Brasil.
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Fonte: CNBB
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