Brasil

A salvação dos povos originários

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

23 FEV 2023 - 13H30 (Atualizada em 23 FEV 2023 - 18H55)

Tacito.fotografia/ Shutterstock

Os povos originários já estavam por aqui bem antes da chegada dos europeus, que se deu a partir do ano 1500. Os estudos mais atualizados indicam que o território das Américas começou a ser ocupado por volta de 60 mil anos antes de Cristo e que os primeiros habitantes podem ter entrado em nosso território a partir do Estreito de Bering, que separa a América do Norte da Ásia. Leia MaisDom Mário Antonio enfatiza a defesa da vida dos indígenas no BrasilAções Evangelizadoras da Igreja do Brasil nas aldeias indígenas

Por outro lado, a ocupação do atual território brasileiro se deu a partir de 30 mil anos antes de Cristo. São muitos os testemunhos arqueológicos de épocas diferentes encontrados em território brasileiro, desde Minas Gerais até o estado do Piaui.

Eles já estavam por aqui

Os que antes eram erroneamente chamados de indígenas, hoje são conhecidos como povos originários, porque além de estarem aqui bem antes de nós, sendo os legítimos donos destas terras, deixaram um legado riquíssimo que passa pela cor, língua, alimentação e tantos elementos de nossa cultura.

Estes povos, organizados hoje em cerca de 305 etnias e 274 línguas diferentes, com um contingente populacional próximo de 900 mil pessoas estão distribuídos por todo o território nacional, tanto na zona urbana como rural, especialmente na região norte do Brasil.

Ao longo destes mais de 500 anos, os povos originários - que eram, segundo cálculos mais aproximados, 3 milhões de pessoas na época da colonização -  foram submetidos a um longo e continuado processo de massacre e depredação, do qual o genocídio do Povo Ianomâmi, que tem aparecido muito nestes dias, é só mais um e, infelizmente não será o último dos massacres.

No processo de discriminação e negação de seus direitos que ultimamente têm sofrido, especialmente associados às mudanças no cenário político, em 2007, 92 indígenas foram assassinados, aumentando para 138 o número em 2014. O estado do Mato Grosso do Sul é o que apresenta o maior número de assassinatos.

No sul do Brasil, por exemplo, e atingindo também áreas dos países limítrofes, graças aos trabalhos dos missionários jesuítas houve, no passado, no tempo da colonização, as grandes missões guaranis, que atingiram um altíssimo grau de civilização, tendo sido destruídas pela sanha dos povos colonizadores. Se tivessem sobrevivido, poderiam ser hoje uma das grandes potências do mundo.

Maus tratos e decréscimo da população

A população autóctone (nascida aqui mesmo) no Brasil, ao longo dos anos sofreu um considerável decréscimo por causa do extermínio, seja pelas doenças trazidas pelos colonizadores como pelos continuados maus tratos produzidos inclusive pela escravidão. A maioria dos povos remanescentes já entrou em contato com os costumes de outras raças aqui presentes. Contudo, alguns grupos ainda vivem isolados.

Conforme o censo demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, do total de indígenas, 70% vive na zona rural e 30% nas regiões urbanas do país. O censo também identificou, em parceria com a Funai, 505 terras indígenas, representando 12,5% do território brasileiro.

Povo Ianomâmi

Os ianomâmis são um povo que habita a fronteira norte do Brasil, ocupando algumas regiões dos estados de Roraima e Amazonas, bem perto da fronteira com a Venezuela.

Suas terras são formadas por cerca de 9,6 milhões de hectares, abrigando cerca de 26 mil pessoas, de pelo menos 8 comunidades indígenas diferentes.

As obras de infraestrutura promovidas a partir dos anos 1970, como a abertura de grandes estradas e as atividades como o garimpo, em grande parte ilegal, ajudaram a colocar em risco essa população, causando uma série de impactos negativos como os que que agora são presenciados.

Os Ianomâmi passam por uma grave crise sanitária e humanitária, ocasionada pela ausência de políticas públicas direcionadas às populações indígenas no período mais recente e pela desmobilização da estrutura que havia sido montada para atendê-los.

Urgências

O atual governo deverá trabalhar para regular uma série de urgentes questões, que estão aparecendo como a conclusão do processo de demarcação das terras indígenas, definir a forma como se poderá utilizar essas terras por causa da exploração de suas riquezas pela mineração, pelo uso da madeira, como se darão os plantios e implantação de pastagens e, urgência das urgências, tratar a questão da saúde dos povos originários, vítimas que são da exploração de suas terras, destruição de seus núcleos familiares pela prostituição e pelos vícios, num verdadeiro genocídio.

Mas, para todos nós, há uma questão igualmente urgente, que é conceitual, devendo nos levar a mudar nossa cabeça, nossos conceitos e a forma como entendemos e tratamos essa população.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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