Brasil

Ambiente digital não é uma rede de fios, mas de pessoas

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

06 JAN 2022 - 09H00 (Atualizada em 06 JAN 2022 - 12H02)

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As tecnologias digitais mudaram o comportamento individual e coletivo. Não mudaram somente o dinamismo diante dos fatos; elas mudaram os conceitos e, em alguns casos, os paradigmas. Podemos citar que o conceito de distância, por exemplo, modificou-se frente à condição da virtualidade, pois torna próximo o distante, aproxima o afastado. Papa Bento XVI, na Mensagem do Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2013, ensinou:

"O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interação humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações: por isso uma solícita compreensão por este ambiente é o pré-requisito para uma presença significativa dentro do mesmo".

O avanço tecnológico aconteceu de forma súbita e quase inacreditável. A ciência parece ter tido muita pressa e despejou tantos aparatos que nem conseguimos dar conta de suas múltiplas utilidades e serviços, mas, sem dúvida, não podemos ou devemos negar a importância dos mesmos. Entre eles, destacamos as várias redes sociais. Papa Francisco, na Mensagem do Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2014, foi claro:

"A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. A neutralidade dos mass-media é só aparente: só pode constituir um ponto de referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais".

Levamos alguns segundos para enviar, ao mesmo tempo, uma mensagem para centenas de pessoas e, em fração de segundos, ganhar o mundo. As tecnologias determinam a dinâmica social. A cada minuto, novas ideias, novas descobertas, novas informações, novas possibilidades, inclusive de encontros fraternos, descontração, aprendizagens e também, infelizmente, algumas complexidades maldosas, como em outras dimensões da existência humana.

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As Instituições sociais, compreendendo, os hospitais, os fóruns judiciários, a polícia, a Igreja e, acima de tudo, a escola não podem negligenciar esse contexto. Falando em escola, lembro-me de uma história, de autor desconhecido: “Um homem, por causa de um feitiço, dormiu cem anos. Ao acordar, um século depois, quis visitar as instituições para matar a saudade. Assim fez! O homem ficou perplexo. Surpresa e susto! Por todos os cantos, a tecnologia imperava e era perceptível sua utilidade e eficiência. No entanto, ele percebeu que faltava visitar uma escola. Lá foi ele! Quando entrou, suspirou aliviado: - Agora sim! Estou me sentindo em casa. É como se eu não tivesse dormido por cem anos!”

A escola, como um grande e fundamental espaço educativo, não pode temer as Tecnologias ou, tampouco, utilizá-las de forma errada. Não é possível pensar que a escola não compreenda que os aparatos tecnológicos devem ser colocados a serviço da formação e da informação plena do sujeito. Nunca pudemos assistir e participar tanto das descobertas conceituais como agora.

Evidente que temos que nos preocupar com o “taylorismo educacional”, mas, o sujeito da aprendizagem, o aluno, já não é igual ao sujeito da aprendizagem de décadas atrás. Atualmente, é inegável a influência da internet em seu cotidiano. Os smartphones, em sua maioria conectados, estão por todos os lugares e com pessoas das diversas idades. Servem para muitas funções: jogar, ver vídeos, ver TV, ouvir músicas e, raramente, para fazer ligações.

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Diante de um exame laboratorial, por exemplo, já é uma rotina procurar na internet a explicação dos resultados, antes mesmo de levá-los para análise do médico. A escola não pode fingir que não está vendo o estabelecimento desse novo contexto. Mais do que nunca, a escola deve ser facilitadora e estar em sintonia com as inovações, se ajustando às mudanças que beneficiam a aprendizagem, a pesquisa, a formação e informações. É claro, sem perder de vista sua capacidade de refletir sobre as mudanças que rompem com os valores éticos. Para tanto, os professores deverão estar preparados para a utilização dos recursos digitais e empregá-los no processo pedagógico, sem, no entanto, fazer deles somente substitutos de recursos antigos, mas compreenderem que sua utilização está a serviço de uma educação de qualidade e de incentivo à formação plena do sujeito, que não pode esperar.

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Mais do que nunca, a escola deve ser facilitadora e estar em sintonia com as inovações, se ajustando às mudanças que beneficiam a aprendizagem, a pesquisa, a formação e informações.


É muito preocupante a ideia de que a escola esteja equipada com todos, ou muitos recursos tecnológicos de primeira linha, mas não mudou também sua forma de conceber a educação e o processo de ensino-aprendizagem. De nada adiantarão tais recursos, se a prática vivenciada pela equipe escolar negar a construção do conhecimento como condição de participação coletiva. Se a equipe escolar não for imbuída por tornar a escola um espaço de relações humanas com o conhecimento, estará fracassada a ideia do uso dos recursos tecnológicos como avanço educacional, pois eles serão recursos como outros quaisquer, servindo ao ato mecânico do processo ensino-aprendizagem.

Pierre Lévy (1999.p. 42) em seu livro: A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, afirma:

"A evolução do sistema de formação não pode ser dissociada da evolução do sistema de reconhecimento dos saberes que a acompanha e conduz. Como exemplo, é sabido que são os exames que, validando, estruturam os programas de ensino. Usar todas as novas tecnologias na educação e na formação, sem mudar em nada os mecanismos de validação das aprendizagens, seria o equivalente a inchar os músculos da instituição escolar, bloqueando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de seus sentidos e de seu cérebro".

A chegada dos equipamentos digitais, dando ênfase à escola, inaugurou um novo paradigma, o da aquisição de habilidades e de competências, agora reforçado pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que busca fazer da tecnologia digital uma aliada indispensável ao processo de formação do indivíduo. É necessário disposição de aprendizado e a compreensão de que este processo é contínuo, pois um recurso torna-se, com brevidade, obsoleto. Os envolvidos no processo educacional deverão estar em constante mutação, assim como os avanços da tecnologia digital.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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