Por Eduardo Gois Em Brasil Atualizada em 14 JUN 2019 - 10H59

Barragem de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), coloca templos católicos em perigo

A cidade de Barão de Cocais (MG), tem sofrido momentos de grande tensão nos últimos meses. Desde que a barragem de Brumadinho rompeu, a atenção dos moradores se volta para esta temática, que gira em torno do perigo.

O sensacionalismo das mídias e as fake news também têm aumentado preocupações. Mas o fato é que nesta localidade existe, sim, um risco iminentedevido ao abalo nas estruturas da barragem de Gongo Soco, comunidades inteiras já foram retiradas da zona primária de risco, que fica no entorno da barragem. Porém, o fato movimenta e preocupa toda a população da cidade, pois, no fim das contas, todos têm a ver com o problema.

A Agência Nacional de Mineração informou que a velocidade de movimentação do talude norte da mina Gongo Soco tem uma média de 40,9 centímetros de deslocamento por dia, segundo último relatório, divulgado no dia 5 deste mês.

O talude é um paredão que fica acima da cava de mineração na Mina de Gongo Soco, de onde é retirado o minério de ferro.

Google Maps
Google Maps


O temor inicial era de que a movimentação do talude provocasse uma queda brusca e, em uma hipótese mais grave, a vibração ocasionasse, consequentemente, o rompimento da barragem sul superior.

Cerca de 500 moradores da área chamada de “autossalvamento”, já estão fora de suas casas desde fevereiro. Outras 6 mil pessoas que vivem na zona secundária (até 15 km de distância), só devem deixar suas casas se a barragem se romper. Os rejeitos da barragem demorariam mais de uma hora para chegar à zona considerada secundária.

No caminho, templos católicos importantes

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal


Na Zona Secundária, situa-se a Igreja Matriz de São João Batista, construída em 1763, lugar onde os moradores da região buscam o refúgio na fé. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o templo é de grande importância para o país e fica a 30 km da mina. Para se ter ideia, Aleijadinho participou como escultor, primeiramente na imagem de São João Batista, feita em pedra-sabão, colocada no nicho da fachada principal e, depois, no interior da igreja, na tarja do arco-cruzeiro, também entalhada na mesma pedra.

De acordo com o pároco, Padre José Antônio Oliveira, a Igreja é um centro de referência para congregar, fortalecer, levantar os ânimos e orientar as pessoas e, apesar do momento complicado, o Santuário está funcionando normalmente.

Com a ajuda e atenção da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar todas as celebrações da Semana Santa, inclusive procissões, e preparativos para celebrar o Jubileu de São João Batista, padroeira da cidade, entre os dias 15 e 24 deste mês, transcorrem na normalidade.

Pascom/SJB
Pascom/SJB


“Sentimos que há uma necessidade urgente de rever a prática da mineração no Brasil. Os crimes e desastres que temos sofrido, com tantas perdas humanas e com tamanha agressão à mãe natureza, poderiam ser claramente evitados. Os métodos usados, as falhas e omissões criminosas na fiscalização, o fato de a maioria dos políticos terem suas campanhas eleitorais patrocinadas por mineradoras, o poder do dinheiro, que interfere seriamente até mesmo nas decisões judiciais, a supremacia do lucro sobre a pessoa, tudo isso precisa ser repensado”, opina o padre.

Felipe Jacome
Felipe Jacome
Padre José Antônio é pároco da Igreja Matriz, Santuário de São João Batista


Para o sacerdote, há uma luta desigual: Somente com a organização e mobilização popular, com o apoio das Igrejas e instituições que se pautam pela defesa da vida, da justiça e do direito será possível reverter esse quadro”.

Na avaliação de Padre José Antônio, o Ministério Público precisa ter uma atuação mais corajosa e decisiva junto às grandes empresas. “Não se omitir e nem se contentar em conseguir um Termo de Ajustamento de Conduta, que muitas vezes permite a continuidade da injustiça e do crime. Ainda mais porque a experiência tem mostrado que muitos dos compromissos assumidos não são de fato cumpridos”.

O padre também aconselha a população a não negociar diretamente com a mineradora Vale ou de forma individual, porque de maneira coletiva eles terão muito mais força para a negociação. Ele critica a situação de que muitas vezes a empresa usa a tática de dividir os atingidos para enfraquecê-los ou favorece a alguns e prejudica a outros.

Sofrimentos e transtornos mais evidentes na população

De acordo com o padre, o sensacionalismo da mídia prejudica, porque as pessoas estão com medo de visitar a cidade. “Há muito medo. Parentes, amigos, visitantes, turistas se negam a vir. Isso baixa a autoestima e traz uma sensação de rejeição”.

Padre José Antônio partilha que aqueles que foram retirados de suas casas e comunidades são os que mais sofrem, pois já são quatro meses de angústias, enfrentamento da situação em pequenos quartos de hotéis, demora em receber o auxílio para o aluguel de casas, dificuldade de adaptação fora do ambiente familiar, onde existiam hortas e criação de animais e, ainda assim, quando recebem o auxílio, este é de apenas R$ 400,00.

Sofrem crianças, que ficam sem espaço e encontram dificuldades para frequentar a escola. Sofrem os ribeirinhos, sofrem idosos e pessoas com deficiência ou acamadas, que acabam deprimidas ou adoecem ainda mais.

A Prefeitura se sente impotente, pois não tem recursos e a demanda aumentou demais, sobretudo na área da saúde, física e mental. O comércio também teve seu movimento drasticamente abalado. Alguns bancos e os Correios chegaram a fechar portas.

Igreja de Nossa Senhora Augusta do Socorro está na rota principal do perigo

Ministério Público do Estado de Minas Gerais
Ministério Público do Estado de Minas Gerais
Igreja de Nossa Senhora Augusta do Socorro, de 1737


Com quase 300 anos de história, a Igreja de Nossa Senhora Augusta do Socorro, é a que mais sofre risco caso a barragem venha a estourar. Localizada na Zona Rural, área de maior risco, onde os moradores já foram retirados, a Igreja de 1737 é a mais antiga do município. Os bens culturais foram transferidos para a Igreja Matriz, visando sua proteção.

Em declaração ao A12, o Iphan afirma que está definindo uma linha de trabalho conjunta e diária com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), para ações integradas e articuladas principalmente visando a identificação, em mapa georreferenciado, de todos os bens culturais acautelados (incluindo bens materiais, imateriais e arqueológicos) na área de risco como um todo.

O Iphan vem colaborando com os Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual para a avaliação dos riscos e possíveis danos ao patrimônio cultural.

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