Brasil

Naturalização e banalização: grandes ameaças à verdade

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

11 MAI 2021 - 10H48

A possibilidade de sempre manter abertas as interrogações que nos levam à busca inesgotável de transformação, de mudança, de desenvolvimento é um dos objetivos da Educação. Por sua inerente condição, a Educação deve ser ação criadora, que não se repete e nem se esgota, mas se refaz continuamente, rompendo com o determinismo e com o reducionismo.

A naturalização e a banalização são grandes ameaças para a vida social e, portanto, para a Educação. Essa não pode avalizar, sob pena de ferir seu principal sentido, os apelos ideológicos deterministas ou reducionistas que cultuam o mal, destroem o bem e confundem o bom.

Papa João Paulo II, agora Santo, na Carta Encíclica Veritatis Splendor, diz:

Nenhum homem pode esquivar-se às perguntas: Que devo fazer? Como discernir o bem do mal? A resposta somente é possível graças ao esplendor da verdade que brilha no íntimo do espírito humano, como atesta o salmista: «Muitos dizem: "Quem nos fará ver o bem?" Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face (Sl 4, 7)» (2).

A naturalização ideológica e a banalização do essencial colocam a Educação e toda sociedade à beira de grandes abismos. A perplexidade, o espanto e a admiração são condições para que não percamos a capacidade de reação diante deles. Quando não mais somos portadores delas, nos acostumamos tanto com o mundo, que não conseguimos mais nos surpreender com ele e, assim, aceitamos o determinismo e nos aprisionamos nas sombras da ignorância, dando força e espaço ao mal que toma lugar do bem para aniquilar o bom.

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O fragmento do poema de Eduardo Alves da Costa nos ajuda ampliar a reflexão:

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Tu sabes,

conheces melhor do que eu

a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na Segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

A perplexidade, o espanto e a admiração nos fazem continuar na busca das respostas e nos impulsionam ao pensar, nos levam à reflexão, não nos permitem conformar com o inconformável e evitam que defendamos o indefensável. Eles mantêm abertas as interrogações que nos levam discernir o bem do mal e a luz das trevas.

O Apóstolo Paulo nos alerta:

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito" (Rm 12, 2).

Estaríamos conformados com o mundo? Estaríamos conformados com a ausência do bem e com a implantação do mal? Estamos confusos quanto ao que significa ser bom? São Paulo nos chama à verdadeira conversão. Quem não se conforma com o mundo, para além de fazer o bem, evita o mal. Para evitar o mal, é necessário que o identifiquemos. Portanto, precisamos não permitir que nos confundam.

Precisamos exercitar a perplexidade, o espanto e a admiração para assegurar que não estamos enganados quanto àquilo que pensamos conhecer. 

“A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas”. Assim define Jostein Gaarder em seu livro “O mundo de Sofia”. Vale lembrar que a palavra Filosofia significa “amigo da sabedoria”. Portanto, somos todos chamados a filosofar. É preciso manter abertas as interrogações que nos levam à verdade e nos defendem contra a apatia e a indiferença.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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